Liderança, Times e Cultura

Codificar o que a empresa faz

White papers registram o que se faz em uma organização e, assim, são uma ferramenta de gestão de conhecimento, de comunicação e de construção de autoridade. A prática começou em organismos governamentais, mas se popularizou na área de tecnologia e em comunicação, e hoje se espalha. Como este artigo ensina, outros formatos de documentação são possíveis, mas o white paper se destaca pelo esforço que exige – que induz o aprendizado.
Adriana Salles Gomes é diretora-editorial de HSM Management.

Compartilhar:

“Um white paper é um documento técnico, informativo e objetivo que fornece informações detalhadas sobre um determinado tópico, tecnologia, produto ou questão. Geralmente, os white papers são usados na área de negócios, tecnologia e governo para apresentar análises, pesquisas, soluções ou propostas de uma maneira clara e acessível.” Se você perguntar ao ChatGPT, essa é a resposta que obterá. Porém o white paper talvez seja mais do que isso: ele é um código do tipo que pode exercer influência sobre seus stakeholders.

Normalmente traduzido como “livro branco”, por ter um elevado número de páginas – documentos de 80 páginas não são incomuns –, o white paper tem origem no início do século 20. O primeiro conhecido é atribuído ao governo britânico, especificamente a Winston Churchill, na década de 1920, e desde o início teve linguagem mais informal do que a dos papers acadêmicos.

No setor privado, o documento começou a se popularizar entre os profissionais de desenvolvimento de software, que produzem conhecimento na prática, como meio de registrar e difundir o que foi feito para o público interno e externo, mas hoje qualquer organização com a rotina de aprender fazendo para resolver problemas pode utilizá-lo – e isso vem acontecendo com frequência cada vez maior.

Uma das organizações que adota a prática do white paper no Brasil é o CESAR – Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife, centro de inovação e educação que é referência no Porto Digital. “No CESAR era para se chamar orange paper (laranja é a cor do CESAR)”, brinca Eduardo Peixoto, CEO da instituição. A prática regular, no entanto, é recente; remonta a 2020. “Somos muito reconhecidos pelos sistemas avançados, mas não dávamos visibilidade para nossos estudos com regularidade. Foi com a CESAR School que o conhecimento veio para o centro do Centro, e voltamos a investir na produção dos white papers”, justifica Peixoto. Foi criada a diretoria de Conhecimento em 2023, inclusive.

![Eduardo Peixoto, CEO do Cesar](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/3qDXkPCKvgypDZNypPd9cL/72aca2c2d856390c5f61a0ec3626a480/Eduardo_Peixoto_PB__Cre_dito_CESAR-Divulgac_a_o_copiar.jpg)
*Eduardo Peixoto, CEO do Cesar*

Houve uma aceleração dessa prática em 2023 – e a intenção é que haja uma produção quase mensal. Mas isso está sendo desafiador: não só pela profundidade e pelo tempo de dedicação exigidos, mas pela própria origem acadêmica de muitos profissionais do CESAR, que requer esforço extra escrever de modo mais leve. Os pesquisadores da CESAR School publicam em torno de cem artigos científicos por ano.

__Vários códigos no CESAR__

No centro de inovação recifense, cerca de 15% dos projetos produzem alguma publicação relevante, o que resulta em algo entre 15 a 20 por ano. Desde 2021, foram contabilizadas 123 iniciativas.

Guias: 20
Cases: 45
Ferramentas: 2
Frameworks: 1
Revistas: 1
Estudos: 5
E-books: 15
Infográficos: 5
Podcasts: 23
White papers: 6

## Regras de uso

Se você quer começar a adotar white papers, o que precisa fazer? O primeiro ponto é entender quando ele é realmente necessário. “O principal requisito que tomamos como base para decidir fazer um white paper é a utilidade, isto é, quando entendemos que desenvolvemos um conhecimento – ou advindo de algum projeto, ou de algum experimento de pesquisa – que pode ter grande impacto prático na vida das pessoas ou das organizações”, explica César França, head de conhecimento do CESAR. Esse foi o caso com o boom da inteligência artificial generativa, por exemplo, que rendeu um white paper sobre o tema.

![César França](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4cqud3seFvPBVvuUUxWOdL/6c35e1567c2eef96eeb5f858289fd82a/Ce_sar_Franc_a_PB_Cre_dito_CESAR-Divulgac_a_o_copiar.jpg)
*César França, head de conhecimento do CESAR*

Não há um template para os white papers do CESAR, explica França, mas a facilidade de compartilhamento é uma característica, e alguns princípios básicos foram adotados para ajudar a garantir a boa qualidade sempre:

__Utilidade:__ o conteúdo a ser apresentado tem de ser útil, seja pela novidade ou por seu impacto prático.

– __Autonomia:__ o conteúdo tem de ser autocontido e autoexplicativo, não dependendo de outras fontes externas para que o leitor possa compreender sua principal mensagem.

– __Objetividade:__ os white papers não podem ser extensos e cansativos de ler; devem ser escritos em linguagem acessível, porém sem perder a coerência técnica.

– __Rigor:__ é importante que o conteúdo dos white papers seja fundamentado em dados e casos práticos, e não só em opiniões, e também que contenha links para referências, tal qual um artigo científico.

Qualquer um dos mil colaboradores da instituição pode escrever um white paper, mas vale lembrar que, no CESAR, todos são ligados à produção de conhecimento de uma forma ou outra. O fato de o CEO e a liderança em geral valorizarem a prática para variados temas estimula as pessoas.

O mais difícil é a mensuração de resultados. Mas César França conta que os impactos são perceptíveis. “O primeiro white paper que lançamos para posicionar o CESAR na área de inteligência artificial foi acessado por milhares de pessoas de fora, e isso nos abriu muitas portas novas”, diz.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Até quando o benchmark é bom?

Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil – até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

“Womenomics”, a economia movida a equidade de gênero

Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura