Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão

Como a IA está turbinando as vendas nas empresas?

Alexandre Nascimento é um engenheiro empreendedor e professor da Singularity University, apaixonado por inovação desde a infância. Dedica-se à pesquisa científica aplicada e ao desenvolvimento de novos produtos. Tem passagem por prestigiadas universidades e empresas no Brasil, Ásia, Europa e EUA, com dezenas de publicações e patentes.

Compartilhar:

Uma das funções vitais de uma empresa é a área de vendas, uma das principais responsáveis por trazer o faturamento da empresa, essencial para manter o negócio funcionando. O processo de vendas varia dependendo da natureza do negócio e do mercado em que atua, mas independentemente disso, a inteligência artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta importante para o apoio da atividade comercial, permitindo um aumento significativo nos resultados.

Seja em vendas B2B ou B2C, a IA pode ajudar das diferentes etapas do processo de vendas, como na prospecção, no contato, na negociação e fechamento, e, na gestão do relacionamento e acompanhamento pós-vendas. De forma geral, em qualquer atividade em que a IA é aplicada, ela ajuda a fazer mais com menos, ou seja, ela ajuda a obter mais resultados com a utilização dos mesmos recursos disponíveis, ou, algumas vezes, até reduzindo a utilização desses recursos.

Um dos casos clássicos é o da empresa Amazon, onde estima-se que 35% de seu astronômico faturamento seja gerado direta ou indiretamente através do uso de IA. Um dos destaques é o uso de sistemas de recomendação de produtos que analisam o comportamento de navegação e compras dos usuários. Ao perceber que um usuário se assemelha a um determinado grupo de usuários pelo seu comportamento e pelo tipo de oferta que o seduz, a Amazon otimiza os resultados de suas buscas para aumentar a assertividade daquilo que oferece, aumentando as chances de conversão das vendas. Além disso, ela utiliza o sistema de recomendação para mostrar que pessoas com o perfil semelhante compraram também alguns acessórios importantes, montanto alguns combos com maior probabilidade de agradar o usuário com aquele perfil, conseguindo com isso um upselling. A empresa utiliza IA também na otimização de preços em tempo real, ajudando a aumentar a probabilidade de converter as vendas, e ao mesmo tempo maximizando o resultado obtido com elas.

Amazon é um caso inspirador, mas não é a nossa realidade. Voltando para ela, em pesquisas e consultorias que atuo, temos obtido resultados importantes com o uso da IA no suporte às várias etapas do processo de vendas. Surpreendentemente esses resultados estão sendo obtidos em empresas tradicionais, não digitalizadas ainda, e, não apenas em empresas de grande porte, mas também de pequeno e médio portes. Para evitar um artigo muito longo, eu vou focar em apenas uma das frentes onde a IA tem ajudado na obtenção de resultados expressivos: qualificação de oportunidades.

Um banco de dados histórico das vendas de uma empresa que tenha utilizado uma ferramenta para gestão de vendas, como o Salesforce, pode ser utilizado para treinar um modelo de aprendizado de máquina. Esse modelo, basicamente aprende com base nos dados histórico a entender os padrões que estão associados a vendas concretizadas e não concretizadas. Ao aprender esses padrões, o modelo pode ser utilizado para a qualificação de novas oportunidades, identificando quais delas têm maior probabilidade de serem convertidas, permitindo que o time de vendas se concentre naquelas mais promissoras.

Além disso, se os dados usados no treinamento do modelo incluirem informações sobre negociações, como histórico de descontos, é possível criar um modelo que oriente o time de vendas na aplicação eficiente de descontos. Esse tipo de modelo aponta quais oportunidades necessitam do incentivo do desconto para serem convertidas e quais serão fechadas mesmo sem o uso de desconto, evitando assim a redução desnecessária de margem durante as negociações.

Essa “intuição” que a IA fornece ao time de vendas é geralmente exclusiva de vendedores bem experientes, e, uma habilidade dificil de escalar e repassar ao time, pelo menos num intervalo curto de tempo, pois trata-se do resultado do somatório de um período grande de experiência prática. Além disso, é muito difícil ter um time de vendas apenas com integrantes muito experientes, tanto por se tratar de um recurso caro e escasso, como de elevada rotatividade (turn over) em alguns setores, chegando algumas vezes em 40% ao ano. Portanto, a IA em vendas permite, de certa forma, escalar e complementar a “intuição” de todos os integrantes do time comercial.

Os resultados obtidos com esse tipo de modelo variam de acordo com a qualidade e o volume dos dados históricos, bem como o tipo de vendas e o mercado de atuação. Além disso, vale ressaltar algo muito importante e infelizmente esquecido nos artigos sobre aplicações de modelos preditivos em diversas áreas e que acabam criando hype e expectativas irreais: não existe mágica. Os resultados não são imediatos e nem de curto prazo geralmente. De fato, existe um período de amadurecimento do modelo que precisa de vários ajustes e testes, para que os resultados apareçam e se tornem mais consistentes.

No entanto, com paciência e visão de longo prazo, os resultados são interessantes. Apenas como um exemplo, estima-se que o uso desses modelos para apoiar o time comercial de um integrador de sistemas de tecnologia da informação chegou a aumentar em um período a conversão em 22% e a margem em 18% em relação aos períodos anteriores. Esses resultados são expressivos, e, se somados no longo prazo mudam significativamente o resultado do negócio. A IA não substituirá vendedores, mas eles serão substituidos pelos vendedores que a utilizarem.

Compartilhar:

Alexandre Nascimento é um engenheiro empreendedor e professor da Singularity University, apaixonado por inovação desde a infância. Dedica-se à pesquisa científica aplicada e ao desenvolvimento de novos produtos. Tem passagem por prestigiadas universidades e empresas no Brasil, Ásia, Europa e EUA, com dezenas de publicações e patentes.

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
7 de outubro de 2025
O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.

Natalia Ubilla, Diretora de RH no iFood Pago e iFood Benefícios

7 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança