Diversidade, Estratégia, Gestão de Pessoas
5 minutos min de leitura

Como fazer da diversidade uma cultura inegociável nas empresas?

Já parou pra pensar se a diversidade na sua empresa é prática ou só discurso? Ser uma empresa plural é mais do que levantar a bandeira da representatividade - é estratégia para inovar, crescer e transformar.
Natalia Ubilla é diretora de RH no iFood Pago, tendo ingressado no iFood em 2022. Antes, atuou como head de aquisição de talentos na frete.com, foi líder de aquisição de talentos para a América Latina na GE, especialista sênior em aquisição de talentos na Johnson & Johnson para Latam, entre outras posições ocupadas.

Compartilhar:

Enquanto grandes empresas globais vêm reduzindo ou até encerrando seus programas de diversidade, equidade e inclusão, algumas organizações no Brasil vivem o dilema de decidir se o tema será apenas uma pauta passageira ou um pilar estratégico e duradouro. A pesquisa ‘Desafios do RH para 2025’, da Think Work em parceria com iFood Benefícios, mostra que as metas de DEI são um dos seis principais desafios apontados, ficando em quarto lugar. No atual cenário corporativo, falar sobre diversidade é muito mais do que seguir uma tendência, mas também garantir que o negócio dialogue com o mundo real e plural que o cerca.

Apesar de avanços em algumas frentes, outros dados apontam que ainda há muito a ser feito. A pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero’ do Instituto Ethos, por exemplo, revela que 45,3% das 1.100 maiores empresas do país não possuem metas ou ações efetivas para inclusão. Esses números escancaram uma realidade desconfortável na qual muitas organizações incorporaram a diversidade de maneira superficial, como resposta imediata a um movimento global ou para atender a pressões externas, sem planejamento consistente e compromisso real. Atitude que resulta em programas que não se sustentam e uma cultura corporativa que falha em refletir a riqueza de vivências e perspectivas da sociedade.

Uma cultura forte vai além das paredes da empresa

Construir uma cultura de diversidade sólida não é tarefa simples. Ela começa dentro das organizações, mas extrapola o ambiente interno e se conecta diretamente com a maneira como as marcas se posicionam diante de seus públicos externos.

Se uma companhia não tem uma base diversa, ela deixa de enxergar sob múltiplas óticas e perde oportunidades de inovar, se conectar com o público e crescer. Ignorar a pluralidade de seus consumidores é um risco e faz com que companhias lancem produtos e serviços que não atendam às necessidades de grande parte da população, especialmente em um país como o Brasil, cuja diversidade étnica, cultural e social é uma de suas principais características.

Diversidade é um tema estratégico e integrá-la ao coração do negócio, além de fortalecer a cultura organizacional, amplia o impacto da empresa na sociedade. Isso requer que líderes e colaboradores compreendam a importância do tema e trabalhem diariamente para que ele não se perca diante de mudanças no cenário externo.

Fator inegociável na cultura iFood

O iFood faz da diversidade um dos elementos inseparáveis de sua cultura e identidade. Entende que a inclusão é uma vantagem competitiva e não apenas uma questão moral.

Essa visão integrada é resultado de aprendizados contínuos, que influenciam tanto o posicionamento da marca quanto como ela se relaciona com o mercado e com a própria equipe. Para a empresa, fica claro que incluir pessoas diversas é essencial para inovar e se manter relevante, reconhecendo que apenas é possível crescer quando há reflexão interna sobre a pluralidade presente em um ecossistema deste porte.

O engajamento dos times está diretamente ligado ao fortalecimento de uma cultura que valoriza perspectivas diferentes e promove ambientes inclusivos. Com uma área de “Sustentabilidade e Impacto Social” dedicada ao tema e em parceria com o time de People, o iFood consegue abordar a diversidade sob múltiplos pontos de vista, indo do estratégico ao operacional. Uma compreensão que é fruto de uma construção intencional ao longo dos anos, baseada em aprendizados profundos sobre como operar o negócio e se posicionar no mercado.

Entretanto, essa jornada não é linear. Há alguns anos, o iFood assume compromissos públicos, como metas para aumentar a presença de mulheres e pessoas negras em cargos de liderança, mas reconhece que ainda não atingiu todos esses objetivos. Avanços significativos foram conquistados em outras frentes e essa experiência trouxe um aprendizado valioso de que estabelecer metas sem uma estratégia robusta de desenvolvimento, engajamento e inclusão pode não gerar o impacto desejado. Por esse motivo, a importância de construir bases sólidas antes de assumir compromissos públicos.

Sem diversidade não há inovação

Manter a diversidade no centro da estratégia exige mais do que boas intenções. É preciso garantir que a pauta seja trabalhada com consistência e mensurada com dados concretos. Diversidade não pode ser apenas uma bandeira levantada porque “todos estão falando sobre isso”. Ela precisa ser genuína, incorporada à estratégia do negócio e considerada essencial para o progresso organizacional.

Equipes homogêneas tendem a pensar da mesma forma, o que limita a capacidade de inovar e encontrar soluções criativas para os desafios do mercado. Equipes diversas são capazes de compartilhar as diferentes vivências, olhares e repertórios, ampliando a visão coletiva e potencializando a inovação. Dessa forma, não é exagero afirmar que não existe inovação onde não existe diversidade.

O maior desafio é cultivar uma cultura que resista às mudanças externas e continuar priorizando a diversidade como algo inegociável. Isso demanda comprometimento das lideranças, dispostas a ouvir e aprender continuamente, além de um ambiente onde todos possam se sentir seguros para contribuir com sua voz.

O estudo ‘Panorama da Diversidade nas Organizações’ da To.gather, publicado em maio de 2024, mostra que 60,9% das empresas no Brasil delegam a pauta de diversidade apenas ao setor de Recursos Humanos, um indicativo de que o tema, muitas vezes, não está conectado à estratégia central do negócio. As que tratam o assunto como um projeto temporário ou algo restrito ao RH correm o risco de ficar para trás.

Já parou pra pensar no que a sua empresa está fazendo para garantir que a diversidade não seja apenas um discurso, mas uma prática viva e inegociável? No fim, o crescimento contínuo de companhias depende da pluralidade de pensamentos, experiências e histórias que compõem os times. Diversidade não é apenas sobre representatividade, é sobre potencializar resultados, inovar e construir uma sociedade mais justa.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura
ESG
Resgatar nossas bases pode ser a resposta para enfrentar esta epidemia

Lilian Cruz

5 min de leitura