Estratégia e Execução

Cresce a pressão sobre as telecoms

Os conflitos que vêm aflorando entre as empresas de telecomunicações e companhias baseadas na internet no Brasil não são isolados; o gatilho está na evolução digital da indústria

Compartilhar:

Enquanto o Brasil debate se as empresas de telecomunicações podem limitar a oferta da internet de banda larga, com o objetivo de barrar a ascensão de concorrentes como a Netflix, o setor está tendo todas as suas fronteiras redesenhadas. Seus negócios encolhem continuamente, sobretudo porque as mídias sociais abriram novos canais de comunicação entre as pessoas. A onda de mudanças que as telecoms do mundo inteiro vêm enfrentando inclui aparelhos digitais mais avançados e modelos de serviços de telecomunicação mais robustos, como mostra pesquisa feita recentemente pela McKinsey com 254 executivos de companhias que, juntas, representam mais de um terço das vendas mundiais nas áreas de telecomunicações, mídia e tecnologia. Indagados sobre os fenômenos disruptivos no setor, os executivos apontaram três: 

•  modelos de negócio baseados no conceito OTT (acima do topo, na sigla em inglês), discutidos no Brasil, que eliminam a necessidade de o usuário contratar uma operadora para algo além de banda larga a fim de acessar músicas e vídeos; 

•  novos pontos de contato do consumidor com as telecomunicações criados por dispositivos baseados na internet; e 

•  a possibilidade de essas mudanças representarem a comoditização dos produtos oferecidos pelas grandes empresas. 

**OS DESAFIOS**

De fato, uma ampla gama de tecnologias, incluindo aquelas que devem ser embutidas em relógios, calçados, roupas e óculos, começam a competir para ocupar o papel de interface do usuário das telecomunicações. Com maior capacidade de comunicação, esses equipamentos – relógios, calçados, roupas e óculos – podem criar formas de envolvimento das pessoas que vão além do que vemos hoje com os smartphones. 

Por exemplo: inovações que identificam a localização do usuário podem oferecer serviços como monitoramento das condições de saúde e novos modos de levar anúncios e promoções a públicos-alvo específicos. 

Os executivos também preveem crescente adoção de tecnologias do tipo “smart” dentro de casa, que possibilitem medir o gasto com energia, monitorar o consumo de alimentos, avaliar o estado dos eletrodomésticos e, mais do que isso, que criem plataformas para a prestação de serviços mediadas pelas máquinas. 

Em ambos os casos, as tecnologias abrem caminho para novos competidores, com um modelo de negócio digital, que têm grandes chances de superar as empresas de telecomunicações estabelecidas na relação com os consumidores. Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que os modelos de negócio baseados em OTT, como a Netflix, devem continuar crescendo. 

Aproveitando a banda larga e as plataformas móveis, essa tendência leva as pessoas para novas marcas, e quem perde são as operadoras de telecomunicações. Empresas como a Netflix já contam com o dobro da lealdade dos clientes na comparação com empresas de telecomunicações. Por fim, do ponto de vista das grandes empresas, esses movimentos indicam um potencial para a adoção de modelos de negócio de comoditização, com margens de lucro menores e maior poder dos clientes. 

A urgência Segundo a McKinsey, essas ameaças criam um senso de urgência para novos direcionamentos estratégicos no setor. Uma possibilidade é entrar na briga pela oferta de produtos digitais, para além da atividade de telecomunicações, a fim de obter receitas com anúncios, serviços financeiros e outras comodidades relacionadas com a internet. 

Há muita coisa para acontecer à medida que a diferença entre telecomunicação e tecnologia da informação fica menos evidente. Pela pesquisa, os atuais líderes do setor parecem estar atentos aos efeitos das mudanças em curso. Se saberão enfrentá-las e superá-las, sem depender de mudanças regulatórias, é outra história.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Como superar o desafio da inovação com ambientes ainda informais?

Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Saúde Mental
Desenvolver lideranças e ter ferramentas de suporte são dois dos melhores para caminhos para as empresas lidarem com o desafio que, agora, é também uma obrigação legal

Natalia Ubilla

4 min min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, e Marcos Inocêncio, então vice-presidente da epharma, discutem o modelo de contratação “talent as a service”, que permite às empresas aproveitar as habilidades de gestores experientes

Coluna Talento Sênior

4 min de leitura
Uncategorized, Inteligência Artificial

Coluna GEP

5 min de leitura
Cobertura de evento
Cobertura HSM Management do “evento de eventos” mostra como o tempo de conexão pode ser mais bem investido para alavancar o aprendizado

Redação HSM Management

2 min de leitura
Empreendedorismo
Embora talvez estejamos longe de ver essa habilidade presente nos currículos formais, é ela que faz líderes conscientes e empreendedores inquietos

Lilian Cruz

3 min de leitura
Marketing Business Driven
Leia esta crônica e se conscientize do espaço cada vez maior que as big techs ocupam em nossas vidas

Rafael Mayrink

3 min de leitura
Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Já notou que estamos tendo estas sensações, mesmo no aumento da produção?

Leandro Mattos

7 min de leitura