Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
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Do papel ao mercado: startups, deep techs e o fomento para inovação

Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.
Formada em administração, especialista em gerenciamento de projetos, gestão de pessoas, captação de recursos e inovação. CEO da Atitude Inovação, Atitude Collab e sócia da Hub89 empresas que atuam no hub de inovação, com serviços de consultoria, assessoria e treinamentos em captação de recursos para financiamentos e editais de inovação e Open Innovation. Atua há mais de 12 anos no ecossistema de inovação também como advisor de venture capitals, palestrante, podcaster, escritora, professora e mentora, conquistando com seus clientes diversos prêmios de inovação.

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A materialização do conhecimento científico em produtos ou serviços sempre foi um grande desafio. O meio acadêmico gera pesquisas, teses, grandes avanços científicos significativos que muitas vezes não é aplicado e acabam “não saindo do papel” por falta de estímulos, recursos financeiros e condições para avançar rumo a algo concreto. O Brasil é o 14º país em publicação científica, com as universidades responsáveis por 95% dessa produção. Entretanto ocupa a 80ª posição em interação universidade e indústria segundo o Índice Global de Inovação (IGI) evidenciando essa lacuna entre a pesquisa e o setor produtivo. Fortalecer a conexão entre o meio acadêmico e as empresas é cada vez mais necessário. Startups deep techs podem ser a ponte para essa transição: convertendo ciência em soluções de alto impacto e fomentando a inovação como o elo que alavanca e potencializa o desenvolvimento tecnológico do país.

Startups são empresas de base tecnológica com modelos de negócios escaláveis. As deep techs, são tecnologias baseadas em avanços científicos e inovações complexas, com grandes riscos de desenvolvimento e potencial de liderar mudanças, estabelecer novas indústrias e reinventar as atuais. Seu maior desafio é provar a viabilidade de sua tecnologia. Segundo o relatório da Emerge 2024, existem 875 startups deep techs no Brasil e cerca de 70% delas se encontram em fase de superar o desafio da tecnologia.

Integrar todo esse conhecimento científico com empreendedorismo, segue sendo um caminho longo no país, enquanto Estados Unidos, China, Alemanha e Reino Unido despontam como referências, tanto em número de deep techs quanto em volume de investimentos. No Brasil, a prática de inovação aberta concentra-se na contratação de startups digitais, com menor adesão às deep techs, cujos principais desafios permeiam a incerteza quanto à eficácia da tecnologia e a aceitação pelo mercado.

Por outro lado, o Brasil tem caminhado para a consolidação de instrumentos públicos robustos, como a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), FAPs (Fundações de Amparo a Pesquisa de cada Estado) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e muitas outras ações regionais. Ainda assim, muitas startups e empresas não conseguem combinar esses mecanismos com capital privado e parcerias corporativas, perdendo oportunidades de alavancar e escalar suas inovações.

Para ajudar na demonstração de algumas possibilidades, a Finep é um exemplo que conta com diversos instrumentos de apoio como financiamentos reembolsáveis, não reembolsáveis (subvenção ou popularmente conhecido como fundo perdido), investimentos diretos e indiretos. Entre as opções, destacam-se:

  • Programa Centelha: operado em parceiria com agentes estaduais, com recursos via subvenção econômica, bolsas de apoio, capacitações, acesso a incubadoras e potenciais investidores. Podem participar pessoas físicas que tenham uma ideia inovadora e também empresas iniciantes com CNPJ formalizado há menos de 12 meses.
  • Programa Tecnova: executado de forma descentralizada por Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) e Secretarias de Ciência e Tecnologia de cada estado. Cada unidade seleciona parceiros operacionais locais para gerir o programa, aplicando os recursos de subvenção econômica e apoio à inovação e aceleração de empresas dentro de suas respectivas unidades federativas. Por meio de chamadas locais, o Tecnova seleciona negócios com potencial de mercado e financia etapas como P&D aplicado, prototipagem, validação, certificações e preparação para escala, geralmente acompanhadas de ações de aceleração e metas de desempenho. O objetivo central é reduzir o risco tecnológico e de mercado no estágio inicial, fortalecer a competitividade regional e catalisar a atração de investimento privado complementar, encurtando o caminho entre a fase de desenvolvimento e a inserção comercial.
  • Finep Startup é um programa de investimento de risco da Finep voltado a startups de base tecnológica em estágios iniciais, com produto validado ou em validação e alto potencial de escala. Por meio de chamadas públicas, a Finep seleciona empresas inovadoras e realiza aportes de recursos financeiros não reembolsáveis que podem se converter em participação societária, vinculados a metas de desenvolvimento, governança e tração. O propósito é acelerar a evolução tecnológica e a inserção no mercado, reduzindo o “vale da morte” entre P&D e escala comercial.


Vale destacar que o modelo de negócios de deep techs está concentrado no desenvolvimento de tecnologias para venda direta ou licenciamento para grandes indústrias. Nesse contexto, diversas chamadas não reembolsáveis da Finep, organizadas em múltiplas linhas temáticas estão alinhadas ao Plano Nova Indústria Brasil, tendo como premissa que o projeto de inovação seja realizado em parceria com uma ICT (Instituição Científica e Tecnológica) denominado “Arranjo Simples”. Também é possível estruturar propostas denominadas “Arranjo em Rede”, com outras empresas atuando como proponentes e/ou como coexecutoras. Neste sentido, as Startups e deep techs possuem maiores possibilidades de participar destas chamadas com encadeamento tecnológico conjunto.

Transformar a produção de pesquisa científica do país em soluções escaláveis e competitivas exigem uma agenda prática e coordenada entre universidades, empresas, governo e investidores. É um caminho longo, mas já iniciado. Para orientar a discussão e a busca de soluções, seguem alguns pontos relevantes:

  • A desburocratização dos processos e a criação de mecanismos eficazes de conexão entre as empresas e a academia, com uma cultura que engaje as empresas para buscar essa conexão cada vez maior com deep techs, demonstrando resultados práticos.
  • Preparar de forma cada vez mais assertiva as universidades, iniciando pelo fortalecimento da cultura de inovação aberta, preparando e capacitando cientistas e equipes em transferência de tecnologia, propriedade intelectual, gestão de P&D e fomento. Organizando os NIT’s (Núcleos de Inovação Tecnológica) como papel central nesse processo, sendo a ponte entre as universidades e o mercado promovendo a conexão entre os atores do ecossistema.
  • Ampliar cada vez mais o fomento por meio de políticas públicas integradas que abranjam toda a cadeia de inovação e assegurem uma governança eficiente do ecossistema. Mobilizando capital de longo prazo e instrumentos de investimento focalizados, que reduzam riscos, aumentem a previsibilidade e acelerem a conversão de pesquisa em impacto econômico e social.


Com ações estruturadas, integradas, governança efetiva e capital de longo prazo, o Brasil pode cada vez mais converter ciência em resultados concretos. Gerando competitividade, autonomia tecnológica e impacto social sustentado. Consolidando ambientes de estímulos, recursos e condições adequadas para que a pesquisa avance cada vez mais rumo ao mercado. É um caminho sem volta e precisamos estar preparados para ele.

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