Uncategorized

Humanamente líderes

Entenda por que a incerteza e a complexidade do momento atual podem exigir, dos líderes, maior construção de vínculos positivos com as pessoas, e, das finanças, mais subjetividade e dúvida nas avaliações. Confira a cobertura exclusiva dos dois eventos mais recentes da HSM: Fórum HSM Gestão & Liderança e seminário Damodaran on Valuation
A reportagem é de Alexandra Delfino de Sousa, colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

Se a única certeza que temos nesta fase de transição entre a era industrial e a do conhecimento é a de que estamos imersos na incerteza, melhor voltar ao que nos faz humanos e a nossas motivações. Esse foi o grande alerta dos palestrantes brasileiros e estrangeiros no Fórum HSM Gestão & Liderança 2014, realizado nos dias 1º e 2 de abril, feito sob diferentes óticas. 

Com o tema “Liderança e gestão em um mundo de rupturas”, o evento realizado em São Paulo explorou temas como colaboração, valores, confiança e criatividade, detalhando o desafio de atravessar o que pode ser comparado a um pântano de complexidade. “Talvez tudo pareça um fracasso quando ainda estamos no meio do caminho, e mais ainda quando fazemos algo pela primeira vez”, disse, como consolo, Rosabeth Moss Kanter, professora da Harvard Business School, em sua palestra no Fórum. 

Para ela, se a linha de chegada pode mudar de lugar a qualquer momento, o que ganha importância é o modo de chegar a ela, que passa pelo propósito da organização abraçado pelas pessoas (isso serviria de bússola para o líder) e pela resiliência (a melhor qualidade diante das prováveis surpresas do trajeto). Na opinião de Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril, o modo de atuar nessas circunstâncias também é “manter os olhos na bola durante o jogo”, sabendo que o resultado será consequência. O tipo de cultura que oferece a uma organização um melhor modo de chegar foi, portanto, o tópico quente do evento. A pergunta nas entrelinhas era: o que garante vantagem competitiva em um mundo de commodities? 

**DOS HÁBITOS À CONFIANÇA**

De acordo com Charles Duhigg, jornalista do The New York Times, a cultura é formada pelo conjunto de hábitos das pessoas, e os hábitos mais importantes para o negócio devem ser estimulados por meio de recompensas que as gratifiquem emocionalmente. Essa fórmula é bastante conhecida da psicologia comportamental, mas o que Duhigg destacou foi a necessidade de as organizações cultivarem ativamene os hábitos pelos quais desejam ser reconhecidas. Como recordou Marco Tulio Zanini, o sociólogo Émile Durkheim ensinou que a força do hábito é maior do que a força da lei. Sócio-fundador da firma de consultoria Symballéin, especializada em diagnóstico de culturas, Zanini destacou que nossa época é de transição da ética do dever para a do pós-dever, um momento intermediário em que as incertezas e a complexidade são mais agudas. Segundo ele, o individualismo é mais forte e os contratos, mais instáveis. Com isso, as relações ficam mais sujeitas à quebra de confiança, o que obriga a organização a buscar mais controle e monitoramento. A confiança se estabelece, para o palestrante, como consequência do pacto entre as partes. Nesse sentido, ele questiona: “Que tipo de vínculo nossas organizações têm produzido?”. Na visão de Zanini, liderar é cuidar do outro sem criar dependência, e a liderança deve ser produtora de vida: prosperidade, geração de empregos e aumento de renda são alguns dos exemplos. Luiz Carlos Cabrera, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG), argumentou que o líder sustentável –capaz de focar o resultado econômico justo e de promover a perenidade da organização– é quem gera essa confiança. Assim, o lucro é justo quando a sociedade o considera merecido, e faz por merecer a empresa que promove o crescimento individual e o coletivo. O líder sustentável tem genuíno interesse pelas pessoas e cultiva os hábitos de elogiar, celebrar pequenas vitórias, delegar, ensinar e formar sucessores. Com isso, obtém colaboração. 

**COLABORAÇÃO E PRODUTIVIDADE** 

O palestrante Yves Morieux, sócio e diretor do Boston Consulting Group (BCG), foi contundente no Fórum HSM: “A colaboração é a única ferramenta que permite lidar com a complexidade”. Na colaboração, o comportamento de cada pessoa aumenta a efetividade do comportamento das demais, criando sinergia horizontal e fazendo conexões entre as áreas, como se fossem sinapses do sistema nervoso. Também Clay Shirky, professor do programa de telecomunicações interativas da New York University, destacou a colaboração como vetor da cultura desejável. Segundo ele, quando participam de um projeto espontaneamente, as pessoas trabalham com amor e atingem a excelência. Foi assim que, em tópicos médicos, a Wikipedia, produzida por amadores motivados, superou a Medpedia, alimentada por profissionais remunerados. Tal concepção vale tanto para as redes de colaboração em âmbito mundial como para o espaço, nas empresas, em que as opiniões e ideias dos funcionários são compartilhadas. A tecnologia de redes trouxe às grandes empresas a possibilidade de reunir as pessoas, estimulando novos hábitos que impactam a cultura. 

> **A resiliência da veriz**
>
> Para a telecom norte-americana Verizon, o mundo mudou em 29 de junho de 2007, dia em que o iPhone foi lançado no mercado. Segundo a palestrante Rosabeth Moss Kanter, um de seus diretores disse: “Não fazemos a menor ideia de como reagir a isso!”. A empresa mudou muito para reagir ao iPhone, como ela dividiu com a plateia: “Eles deixaram de trabalhar em silos para obter rapidez e simultaneidade nos processos, e o então presidente da empresa, Ivan Seidenberg, foi humildemente ao Google fechar uma parceria, assim como procurou um parceiro para fabricar o dispositivo em si”. Flexíveis, as duas empresas abriram as informações necessárias uma à outra para fazer frente à ameaça iPhone. E, em 11 meses, apresentaram o Droid, com o sistema operacional Android do Google. “Eles foram até conservadores nas previsões, mas o produto superou o iPhone em vendas e o Android tem agora desempenho superior no mercado. Com resiliência, pode-se dar a volta por cima em qualquer área”, concluiu, no evento, a professora.

> **Valuation: A dúvida é a regra**
>
> A dúvida e as incertezas do mundo atual também deram o tom do Seminário HSM “Damodaran on Valuation”. Aswath Damodaran, professor da Stern School of Business, da New York University, levou ao público do evento uma perspectiva prática, realista e até desapegada sobre a avaliação de empresas para fusão ou aquisição, a “valuation”. O professor afirmou que “valuation” é algo que se aprende fazendo e que se permanece aprendendo ao longo do tempo. Não é arte, porque pode ser ensinada, mas também não é ciência, pois seu resultado não é exato. Daí por que algumas pessoas não acreditam no conceito e por que outras, avessas à incerteza, não suportam trabalhar na área. “As avaliações são sempre subjetivas”, salientou Damodaran, “porque você já tem uma opinião sobre a empresa antes de avaliá-la, e isso se reflete nos cálculos.” Ele confessa que avalia a Microsoft há quase 30 anos e sempre chega à conclusão de que ela está sobreavaliada; no entanto, é incapaz de avaliar a Apple, pois gosta demais da marca. 
>
> E ainda provocou: “Quem remunera você, o vendedor ou o comprador do negócio?”. Segundo ele, nunca se é totalmente isento. Ao investidor que se considera racional, ele alertou: “Você é um ser humano! Vai sentir-se tentado, por exemplo, a comprar ações só porque todos estão comprando”. Vale mais um aviso: o melhor comprador de uma empresa é o “estratégico”, pois já se decidiu pela compra antes de saber o preço. Tendo como objetivo determinar o preço de uma empresa no presente, a valuation pode ser um antídoto contra a adoção de comportamentos tão humanos. Ricardo de Almeida, professor da área de finanças da FIA, do Insper e da HSM Educação, ressaltou a importância de compreender os modelos de avaliação, tanto o próprio como o utilizado pela outra parte na transação, tendo em mente que o objetivo maior é o crescimento do negócio. Os dois professores deram muitos exemplos de valuation, como os de Tata Motors, Amgen e Natura, e apresentaram didaticamente três abordagens de avaliação: 
>
> **• Intrínseca:** relaciona o valor de um ativo com o valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados para esse ativo, como na avaliação de fluxo de caixa descontado. 
>
> **• Relativa:** examina o preço de ativos similares ao ativo em avaliação, segundo variáveis como lucro, fluxo de caixa, valor contábil ou faturamento. 
>
> **• Contingente:** utiliza modelos de apreçamento de opções para calcular o valor de ativos que têm características de opções semelhantes

**LÍDERES CRIATIVOS = VANTAGEM**

Christer Windeløv-Lidzélius, CEO da Kaos Pilot, renomada escola de design de negócios e inovação social da Dinamarca, defendeu a tese de que, quando produtos e serviços viram commodities, a vantagem competitiva depende de líderes criativos. Ao público presente no Fórum HSM, ele disse apostar no aprendizado colaborativo para formá-los. É o que faz sua escola. Sem aulas nem disciplinas, recebe 35 alunos por ano, que trabalham em equipe durante três anos. “O ponto de vista deles vai do ‘eu’ ao ‘nós’ e da instrução à inspiração”, comentou o CEO da Kaos Pilot.

Compartilhar:

Artigos relacionados

O que move as mulheres da Geração Z a empreender?

A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais – e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

O fim dos chatbots? O próximo passo no futuro conversacional 

O futuro chegou – e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Como o fetiche geracional domina a agenda dos relatórios de tendência

Relatórios de tendências ajudam, mas não explicam tudo. Por exemplo, quando o assunto é comportamento jovem, não dá pra confiar só em categorias genéricas – como “Geração Z”. Por isso, vale refletir sobre como o fetiche geracional pode distorcer decisões estratégicas – e por que entender contextos reais é o que realmente gera valor.

Processo seletivo é a porta de entrada da inclusão

Ainda estamos contratando pessoas com deficiência da mesma forma que há décadas – e isso precisa mudar. Inclusão começa no processo seletivo, e ignorar essa etapa é excluir talentos. Ações afirmativas e comunicação acessível podem transformar sua empresa em um espaço realmente inclusivo.

User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.

Rafael Ferrari

12 min de leitura
Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Saúde Mental
Desenvolver lideranças e ter ferramentas de suporte são dois dos melhores para caminhos para as empresas lidarem com o desafio que, agora, é também uma obrigação legal

Natalia Ubilla

4 min min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, e Marcos Inocêncio, então vice-presidente da epharma, discutem o modelo de contratação “talent as a service”, que permite às empresas aproveitar as habilidades de gestores experientes

Coluna Talento Sênior

4 min de leitura
Uncategorized, Inteligência Artificial

Coluna GEP

5 min de leitura
Cobertura de evento
Cobertura HSM Management do “evento de eventos” mostra como o tempo de conexão pode ser mais bem investido para alavancar o aprendizado

Redação HSM Management

2 min de leitura