Desenvolvimento pessoal

Inovar Requer 5 Milagres, Diz Bran Ferren

O ex-líder de inovação da Disney, hoje à frente de duas consultorias renomadas, garante que toda ruptura exige um insight pessoal e quatro inovações anteriores

Compartilhar:

Uma inovação realmente radical, que mude o curso da história, é algo que exige cinco milagres. No entanto, ao longo de sua vida, um ser humano é capaz de produzir apenas um milagre; os outros quatro precisam vir de coisas que já foram inventadas. 

A tese parece um tanto estranha, mas seu autor sabe do que está falando. Trata-se de Bran Ferren, líder das consagradas consultorias de inovação Applied Minds e Applied Inventions, que traz no currículo o fato de ter sido o executivo-chefe de inovação da Disney, cargo antes ocupado pelo próprio Walt. 

Ferren formulou essa tese aos 9 anos de idade, quando visitou o Panteão, em Roma, com seus pais, que eram pintores expressionistas. Ao observar o enorme teto em forma de domo do templo, deu-se conta de que aquela estrutura de concreto imensa, sem colunas para sustentá-la, e que fica mais leve e fina conforme se eleva em direção à abertura por onde entra a luz, é um trabalho tanto de arte como de engenharia. O menino entendeu que arte e ciência não são coisas separadas como lhe ensinavam na escola em Nova York, relatou Ferren em entrevista à strategy+business. 

Em uma conferência TED Talk em 2014, o inovador explicou melhor sua teoria dos cinco milagres. “Por milagres eu quero dizer coisas que são praticamente impossíveis tecnicamente, de alto risco, e que não poderiam ser feitas por qualquer pessoa naquele momento, como foi o Panteão.” O prédio romano uniu conhecimentos de engenharia estrutural, de design visual, de luz e de fé religiosa, já que é um local de oração, e mais o insight de juntar as quatro coisas. 

Ferren, então, passou a crer que uma inovação radical exige cinco milagres: um insight pessoal e quatro inovações anteriores. Esse também foi o caso, por exemplo, da eletricidade, da refrigeração e mesmo do iPhone – a Apple já havia tido ideia semelhante a esse smartphone com o Newton, mas a viabilização de um assistente pessoal completo só foi possível após a quarta inovação representada pela internet. 

**TRAJETÓRIA**

Ferren cursou o Massachusetts Institute of Technology (MIT) precocemente, abandonou-o e tornou-se designer e engenheiro de espetáculos – trabalhou em turnês de artistas como Paul McCartney e Pink Floyd e em filmes como A Pequena Loja de Horrores, no qual cuidou dos efeitos especiais. 

Em 1993, sua empresa, a Associates & Ferren, foi comprada pela Walt Disney Company, e ali ele passou a encabeçar a equipe de criação, tornando-se executivo-chefe de pesquisa e desenvolvimento (P&D). 

Em 2000, Ferren e seu colega Danny Hillis saíram para criar a Applied Minds, empresa de design e invenção. Hillis já era reconhecido como empreendedor e tinha fundado a Thinking Machines, primeira empresa a produzir arquitetura paralela para supercomputadores. 

Com sede em Los Angeles, a Applied Minds logo emplacou uma série de projetos bem-sucedidos e, em 2014, criou a spin-off Applied Inventions, sediada em Boston, com atuação em startups e invenções comerciais. 

A Applied Minds mantém seu foco em projetos para o governo e grandes empresas, reunindo mentes criativas de várias áreas, como software para games, biotecnologia, ciência dos materiais, veículos exploratórios espaciais e tecnologia espacial em geral. 

Ferren está à frente das duas empresas, que, juntas, já contam com mais de mil patentes nos Estados Unidos.

ROTINA DE MILAGRES

Ferren não se limita a inovar com design e tecnologia; ele desenvolve artistas, inventores e engenheiros notáveis. Outra característica sua é produzir inovações radicais em tempo recorde e em setores de atividade diversos. 

Seu diferencial está em crer que o processo de uma inovação de ruptura é algo que exige história e contexto. Será que as empresas conseguem fazer história e contexto?

Segundo ele, dificilmente. “Muitas empresas nos procuram em busca de uma inovação radical, mas nem sabem por que precisam disso; ouviram falar de nós e esperam que as ajudemos. Só que é raro elas estarem preparadas para fazer o que é realmente necessário para inovar”, afirmou à s+b. 

E o que é necessário? “Investir energia em fazer as perguntas certas, em vez de só ficar procurando as respostas certas.” Para Ferren, o diálogo entre as pessoas mais capacitadas da organização é obrigatório. “De repente, uma delas tem uma revelação, algo sobre o qual diz: ‘É isso!’.” 

As pessoas criativas funcionam por instinto, acredita ele, e esse instinto vem, pelo menos em parte, do preparo derivado de um mergulho profundo no trabalho criativo. 

Seu mergulho profundo, por exemplo, foi feito no tempo dos efeitos visuais para peças de teatro e shows de rock; foi isso que o ajudou a fazer o mesmo no cinema. 

Como ele diz, “o instinto é treinado para inovar”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura