Tecnologia e inovação

Low-code, o queridinho das empresas que precisam se digitalizar rápido

“Pouco código” deve ser visto como aliado, não como ameaça à TI
Rafael Bortolini é líder de produtos na Zeev, empresa de apoio ao gerenciamento de conteúdo e ao gerenciamento e automação de processos de negócios. Possui graduação em administração de empresas e mestrado em engenharia de produção

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De acordo com a McKinsey, consultoria internacional de gestão, estima-se que a interação e o relacionamento digital entre empresas e clientes acelerou em média 3-4 anos em relação ao período anterior à pandemia. Com isso, a necessidade de digitalização e inovação dentro das organizações foi acelerada em 7 anos.

Diante desse cenário único, a grande maioria das empresas precisou adequar seus processos e sistemas muito rapidamente, e muitas ainda sofrem os impactos dessa aceleração abrupta. O setor de serviços de TI deve ter o seu maior crescimento ainda este ano, com um aumento de 7,9% em relação ao ano anterior. Organizações de todos os portes passaram a procurar novas soluções que ajudassem nesse processo.

Em paralelo, o Brasil passa por um momento de grande déficit de mão de obra tecnológica de TI. Dados da Softex indicam que, em 2022, fecharemos o ano com mais de 400 mil vagas técnicas não fechadas.

Ao mesmo tempo, a expansão do home office trouxe a oportunidade de muitos de nossos talentos passarem a trabalhar para empresas do exterior, remotamente. A falta de pessoas especializadas traz, entre outras coisas, atraso na transformação digital das organizações, aumento do backlog das equipes de TI e diminuição geral da competitividade das empresas.

Para amenizar um pouco, uma das tecnologias que estão ajudando a diminuir esses impactos e impulsionar a digitalização nas empresas é o low-code – ou plataformas de “pouco código”. Low-code refere-se ao conjunto de plataformas e sistemas que facilitam o desenvolvimento de aplicativos por meio de abordagens visuais e aplicação de códigos de programação somente em pontos específicos.

O desenvolvimento de softwares tradicionalmente foi baseado em profundo trabalho intelectual, feito por meio de linhas de código escritas por profissionais altamente treinados e capacitados – os chamados desenvolvedores profissionais. As plataformas low-code, por sua vez, usam tecnologia para permitir que profissionais de TI ou mesmo de negócios desenvolvam soluções e criem sistemas por meio da modelagem gráfica, com opções de arrastar e soltar, construindo visualmente fluxos de trabalhos, lógicas de negócio, integrações e dados. Isso diminui a necessidade de codificação e, em algumas situações menos complexas, pode até eliminar a codificação por completo.

De acordo com dados do Gartner, 50% dos profissionais que entrarão no mercado de tecnologia low-code até 2025 serão pessoas que estão fora do mundo da TI. Além disso, a pesquisa indica que, até 2024, 65% dos softwares no mundo serão desenvolvidos usando plataformas low-code.

Importante deixar claro que o conceito de low-code é amplo e engloba muitas soluções diferentes. Um relatório da empresa de pesquisas Forrester aponta cinco categorias de plataformas low-code: ferramentas para dados e integrações, de automação de processos, para experiência do usuário (UX), para teste de aplicativos, para implantação e gerenciamento e para aplicativos e plataformas de governança.

Por um lado, o low-code tem sido utilizado como uma alternativa para as próprias equipes de tecnologia da informação acelerarem a entrega de aplicativos diversos, diminuindo sua fila de demandas. Isso não é propriamente uma novidade.

Faz mais de 20 anos que tecnologias do tipo RAD (desenvolvimento rápido de aplicativos, na sigla em inglês) ajudam programadores a acelerarem seus processos de desenvolvimento. Em parte, plataformas low-code são uma abordagem moderna dos antigos RADs. Agora, funcionam na nuvem, são mais amigáveis e geram aplicativos mais robustos e interativos.

Por outro lado, o low-code tem permitido que áreas de negócio possam prototipar e implementar pequenos projetos de tecnologia, permitindo analistas de negócios a ir mais longe no seu trabalho do dia a dia e a ajudar na transformação digital das organizações. Se no passado um analista poderia se transformar em expert no Excel, agora o analista pode até entregar um software departamental que resolva problemas pontuais de seus processos.

É importante deixar claro que essa atuação do “desenvolvedor cidadão” não pode ser vista como uma ameaça à existência ou ao trabalho do desenvolvedor profissional. São atuações complementares que visam a atuar em problemas diferentes das organizações. Cada vez mais, as empresas devem alocar seus profissionais especialistas nos grandes problemas, nas questões centrais de seus negócios.

O grande desafio do paradigma low-code é a governança de aplicações. Em um cenário em que analistas na ponta estão criando softwares, como manter controle da gestão de dados, da segurança da informação e de padrões mínimos de qualidade?

Esse é um assunto muito relevante e ainda em discussão. O Project Management Institute (PMI), organização mundial tradicionalmente ligada à certificação de prática de gerenciamento de projetos, lançou recentemente cursos e provas de certificação de desenvolvedores cidadãos com foco justamente na governança de dados e sistemas, demonstrando a importância do assunto. A McKinsey, em artigo recente, propõe um processo de trabalho em que a área de TI das empresas tenha papel central na evolução do low-code, sendo a guardiã e provendo a tecnologia para as áreas de negócio, juntamente com as melhores práticas de desenvolvimento.

Os próximos anos serão promissores para o low-code. As ferramentas estão evoluindo muito rápido e, cada dia mais, organizações estão adotando esse novo modelo de trabalho. Tecnologia e negócio cada vez se aproximam mais, cooperando para uma empresa totalmente digital.

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