Gestão de Pessoas

Marca empregadora é só para os 11% dos profissionais?

Pesquisa indica que somente 11% dos profissionais brasileiros puderam trabalhar remotamente durante a pandemia; precisamos cuidar para que os esforços de employer branding não sejam somente para eles
Atua como consultora em projetos de comunicação, employer branding e gestão da mudança pela Smart Comms, empresa que fundou em 2016. Pós-graduada em marketing (FGV), graduada em comunicação (Cásper Líbero) e mestranda em psicologia organizacional (University of London), atuou por 13 anos nas áreas de comunicação e marca em empresas como Johnson&Johnson, Unilever, Touch Branding e Votorantim Cimentos. É professora do curso livre de employer branding da Faculdade Cásper Líbero, um dos primeiros do Brasil, autora de artigos sobre o tema em publicações brasileiras e internacionais e co-autora do livro Employer Branding: conceitos, modelos e prática.

Compartilhar:

Um treinamento in company que ministrei recentemente e a 22ª turma do curso de employer branding que ministro na Cásper Líbero com a [Viviane Mansi](https://www.revistahsm.com.br/colunistas/viviane-mansi) (colunista desta __HSM Management__) trouxeram à tona um tema que abordei em um texto de março deste ano no Linkedin, e que reproduzo em parte por aqui:

O mundo do trabalho não se resume a jovens, a profissionais de tecnologia e a quem pode trabalhar em home office. Marca empregadora também não — pelo menos não deveria. Apesar de às vezes parecer, [employer branding não é só sobre jovens](https://www.revistahsm.com.br/post/qual-e-o-segredo-de-uma-boa-estrategia-de-employer-branding) talentos, profissionais de tecnologia e para aqueles que estão impactados pelos desafios do trabalho híbrido.

Parece óbvio, mas lendo sobre employer branding nas redes, fico com a impressão de que, para muitos, esse tema se restringe àqueles que não precisam necessariamente estar em um ambiente físico específico para realizar suas atividades.

É tanto foco em home office e em ambientes digitais que parece que ninguém mais dirige caminhões, passa as compras no caixa do supermercado, cozinha a comida que chega pelo aplicativo, cultiva essa mesma comida nos campos ou extrai o minério que está aí no notebook que você usa para entrar no Zoom.

No entanto, quase 90% da força de trabalho brasileira é representada justamente por profissionais que não podem trabalhar remotamente: [é o que diz a Pnad](https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/tag/pnad-covid-19/) (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) a partir de dados de 2020.

## Marca empregadora limitada por CEP e profissões

Estamos lembrando disso quando falamos de marca empregadora? Ou nosso olhar está viciado no eixo paulistano da Faria Lima-Berrini e afins? Falas classificando certos pontos de contato da experiência do empregado como completamente irrelevantes para a marca empregadora — refeitório, benefícios, comemorações, crachás, uniformes, localização — só reforçam que o [olhar para marca empregadora segue muito restrito a um tipo de profissional](https://www.revistahsm.com.br/post/employer-branding-para-adultos) que simplesmente não é maioria, apesar de parecer.

Em alguns espaços, faz muito sentido focar muito nesse profissional — o digital, o super tecnológico — porque sim, ele é disputado e está em falta. No entanto, quem já trabalhou em indústria bem de perto sabe que existem muitos outros tipos de profissionais também raros, desejados, que podem sim fazer escolhas de carreira bem qualificadas e que, pasmem, não trabalham com programação. Não, eles não são desenvolvedores, product owners ou cientistas de dados, mas são profissionais com conhecimento também precioso e raro, só que em outras áreas.

As marcas empregadoras que precisam deles podem e devem focar em propostas de valor que levem isso em consideração, porque o que é aparentemente irrelevante para a desenvolvedora front-end da fintech mais badalada pode ser decisivo para a engenheira de minas que, por exemplo, precisa quase sempre morar distante dos grandes centros e se mudar com toda a família ao aceitar um trabalho, com ou sem pandemia. É apenas um exemplo entre tantos outros.

### Foco em employer branding: que público merece atenção?

Essa reflexão também vale para quando resumimos nossas ideias sobre o que as pessoas valorizam nas empresas até os achados de pesquisas feitas por instituições renomadas. Sem dúvida, essas informações agregam muito a qualquer trabalho de marca empregadora, mas dizem pouco sobre o que aquelas pessoas que efetivamente fazem parte do seu quadro de funcionários valorizam e encontram (ou não) na sua marca empregadora.

Tem ouro nessas pessoas em forma de informação e a gente tende a acessá-las muito pouco colocando todo esse foco no mundo lá fora. Será que propósito e líderes inspiradores, por exemplo, que sempre aparecem no topo das listas do que as pessoas valorizam, estão no topo da lista de relevância para todo mundo ou estamos afirmando isso olhando para uma bolha de profissionais altamente qualificados e bem remunerados? [É só para eles que o trabalho de marca empregadora deve existir?](https://www.revistahsm.com.br/post/employer-branding-e-proposito-alguns-cuidados) Mais importante: são só eles que fazem a roda girar?

Tenho feito essas perguntas com frequência a mim mesma e a colegas que têm demonstrado um pouco de preocupação com essa bolha. Uns falam da impressão de que tudo relacionado a marca empregadora é para quem trabalha na frente do computador; outros comentam que parece haver pouco foco em conversas com profissionais de maior senioridade (em experiência e em idade).

Alguns colegas percebem e relatam, ainda, que o que é colocado como regra não faz sentido na realidade que se apresenta nas organizações em que eles trabalham. As respostas não estão prontas e, [como bem diz James Ellis](https://www.linkedin.com/in/thewarfortalent/), um dos caras que mais entendem de marca empregadora no mundo, estamos todos só engatinhando nessa área de conhecimento e precisamos refletir, questionar e, principalmente, respeitar cada realidade de marca empregadora que se apresenta.

## Employer branding para gestão de pessoas, no presente

A sensação que tenho é que a gente fala tanto de profissionais sendo substituídos por robôs e olha tanto lá na frente que esquece que aqui, hoje e agora [o mundo do trabalho está acontecendo e merece ser olhado e cuidado](https://www.revistahsm.com.br/post/tendencias-e-transformacao-do-rh-parte-2) — agora. Esquece que, no agora, muita coisa ainda é presencial, manual, tátil, feita de contato, mesmo num cenário em que contato é o que quase todos nós precisamos evitar — porque há milhões de postos de trabalho em que o contato é matéria-prima.

Manter o olho no futuro é questão de sobrevivência — olhar e cuidar do agora, de como o trabalho se apresenta, também é. Isso vale para todas as áreas e, para temas relacionados a pessoas, mais ainda.

*Se você gostou do artigo da Bruna Gomes Mascarenhas e quer ler outros conteúdos sobre employer branding, assine [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e ouça [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Finanças, Marketing & growth
21 de agosto de 2025
Em tempos de tarifas, volta de impostos e tensão global, marcas que traduzem o cenário com clareza e reforçam sua presença local saem na frente na disputa pela confiança do consumidor.

Carolina Fernandes, CEO do hub Cubo Comunicação e host do podcast A Tecla SAP do Marketês

4 minutos min de leitura