Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
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Modelo de trabalho flexível: o futuro é agora

O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.
Natalia Ubilla é diretora de RH no iFood Pago, tendo ingressado no iFood em 2022. Antes, atuou como head de aquisição de talentos na frete.com, foi líder de aquisição de talentos para a América Latina na GE, especialista sênior em aquisição de talentos na Johnson & Johnson para Latam, entre outras posições ocupadas.

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O mundo do trabalho mudou – e mudou rápido. O que começou como uma necessidade de adaptação temporária relacionada à pandemia tornou-se uma transformação estrutural nas relações de trabalho. Com isso, a flexibilidade do trabalho remoto deixou de ser um tema de saúde pública, benefício pontual oferecido para poucos e passou a ser condição estratégica para a atração e retenção de talentos no pós pandemia. Dito isso, empresas que ainda tratam o tema como tendência – ou privilégio – precisam compreender que o trabalho flexível pode ser uma vantagem competitiva, e aquelas que se adaptam ganham ainda mais relevância no mercado atual e podem contar com os melhores talentos.

Essa virada de chave tem impactos significativos e altera como construímos cultura, medimos desempenho, cuidamos da saúde mental e desenvolvemos as lideranças. Mais do que reorganizar agendas ou liberar a prática do home office, trata-se de repensar o papel das organizações na gestão de talentos, bem-estar das pessoas e no futuro dos negócios.

Muito além do home office

Quando falamos em trabalho flexível, é comum que muitos pensem apenas em home office. Mas reduzir a discussão a isso é perder de vista a real dimensão do conceito. Flexibilidade significa, acima de tudo, oferecer autonomia, confiança e clareza de objetivos.

Isso quer dizer que em ambientes de trabalho flexíveis existem regras e estruturas. O que significa que o modelo remoto, seja total ou parcial, exige ainda mais disciplina organizacional. É preciso construir métricas de resultado claras, alinhar expectativas e oferecer suporte contínuo para que o modelo não se transforme em sobrecarga ou queda de engajamento e performance.

A pandemia acelerou esse aprendizado, pois descobrimos que a produtividade não depende exclusivamente da presença física e também vimos os efeitos nocivos de modelos improvisados, como isolamento social, jornadas sem limites e fragilização da cultura. O desafio, agora, é avançar para um modelo equilibrado, que combine flexibilidade com responsabilidade.

No iFood, pelo menos 40% dos colaboradores moram a mais de 100km da cidade de São Paulo: alguns profissionais residem em Florianópolis, outros na França, em Portugal, entre outros distribuídos em diferentes regiões do Brasil e do mundo.  

O  modelo híbrido flexível permite que tenhamos acesso aos melhores talentos do mercado sem a necessidade de realocar fisicamente pessoas que não têm este interesse. 

Cultura organizacional como base

Nenhum modelo de trabalho, por mais disruptivo que seja, se sustenta sem uma cultura forte como base. A flexibilidade genuína nasce de organizações que têm valores claros, práticas consistentes e comunicação transparente. Quando bem alinhada à cultura, a flexibilidade reforça a identidade organizacional.


Flexibilidade e desempenho comprovado

O impacto positivo da flexibilidade é comprovado por dados – não só uma percepção subjetiva. Segundo a pesquisa Guia Salarial 2025 da Michael Page, pouco mais da metade dos profissionais considera a flexibilidade o fator mais importante para permanecer em uma empresa. Ainda na mesma pesquisa, 44% dos candidatos acreditam ser mais produtivos trabalhando de casa, e 50% consideram o equilíbrio entre vida e trabalho um aspecto importante.

Outro levantamento, realizado pelo iFood Benefícios em parceria com a Think Work, mostra que quase metade dos trabalhadores afirma que os custos de locomoção para o escritório superam os benefícios, o que destaca a importância da remuneração adequada, do bem-estar, além da flexibilidade para a atração e da permanência dos talentos.

Esse modelo amplia também as possibilidades de diversidade nas organizações. Ao permitir que profissionais de diferentes regiões, contextos e perfis façam parte do time, a empresa ganha em pluralidade de ideias e experiências. Ambientes homogêneos tendem a pensar igual, enquanto equipes diversas, apoiadas por modelos flexíveis, encontram soluções criativas para desafios complexos. Afinal, não existe inovação sem diversidade. 


O papel do RH e das lideranças

A transição para modelos flexíveis não acontece sozinha. Ela exige alinhamento e protagonismo de duas frentes: o RH e as lideranças.

O RH deve assumir sua posição estratégica, pois é dessa área a responsabilidade de desenhar experiências de trabalho, criar direcionais claros, apoiar líderes e medir impacto com base em dados. O trabalho flexível é mais que um benefício listado no contrato, ele precisa ser estruturado, acompanhado e ajustado continuamente com base nas necessidades e contexto do negócio que está em constante transformação

Já a liderança é responsável por desenvolver novas competências e acompanhar o desenvolvimento dos colaboradores. Gerir equipes híbridas ou remotas exige habilidades de escuta ativa, empatia, comunicação transparente e foco em resultados. É o momento de ter nos times líderes que inspirem confiança, promovam pertencimento e saibam equilibrar flexibilidade com responsabilidade.

Dessa forma, é possível criar um ambiente de confiança nas empresas, aumentando o engajamento e senso de dono dos colaboradores pela organização. 


Saúde mental como parte do modelo

Um dos grandes benefícios da flexibilidade é a melhora no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ao eliminar longos deslocamentos e permitir maior autonomia, o modelo pode reduzir estresse e aumentar o bem-estar, o que tem correlação direta e comprovada com melhora da performance individual.

No entanto, ele também pode gerar novos desafios. A sensação de “estar sempre disponível”, infelizmente, é um ponto crítico a ser considerado. Sem políticas de desconexão e limites bem definidos de jornada, a flexibilidade pode virar armadilha, levando colaboradores ao esgotamento.

Por isso, as empresas precisam olhar para a saúde mental como parte intrínseca do trabalho flexível. Isso inclui considerar canais de apoio emocional acessíveis, incentivo a pausas programadas, políticas que respeitem horários de descanso e lideranças treinadas para identificar sinais de sobrecarga.

Benefícios e a cultura de trabalho flexível

Em meio às discussões (e eventuais polêmicas) do trabalho flexível, a oferta de benefícios aos colaboradores também precisa se adaptar. O modelo tradicional já não atende plenamente às necessidades de uma força de trabalho que opera em diferentes locais e horários. Um pacote de benefícios realmente eficaz nesse cenário deve ser tão flexível quanto o trabalho em si, oferecendo opções customizáveis que vão além do básico. 

Isso pode incluir orçamentos de bem-estar personalizáveis, nos quais o colaborador escolhe como usar o valor para academias, saúde mental ou outras atividades, ou subsídios para a montagem de um home office, por exemplo. Essa abordagem não apenas reconhece as novas dinâmicas de trabalho, mas também demonstra um compromisso com o bem-estar e a autonomia do funcionário, fortalecendo o engajamento e a atração de talentos em um mercado cada vez mais competitivo.


Desafios e caminhos para implementação bem-sucedida

Embora promissor, o modelo flexível tem pontos de atenção, sendo que um dos maiores desafios é a consistência da comunicação. Quando regras e expectativas não estão claras, surgem dúvidas, ruídos e queda de engajamento.

A adoção bem-sucedida exige alguns passos fundamentais como:

  • Diagnóstico cultural para entender se a empresa está madura para a transição;
  • Planejamento baseado em dados para mapear perfis de colaboradores e necessidades específicas;
  • Treinamento de lideranças para preparar gestores para lidar com equipes híbridas com empatia e foco em resultados;
  • Políticas claras e comunicadas para estabelecer diretrizes transparentes sobre horários, ferramentas e desconexão;
  • Feedback contínuo para medir impacto regularmente e ajustar a estratégia de acordo com a realidade da equipe.


Conclusão: flexibilidade é estratégia, não tendência

O modelo de trabalho flexível mostra-se cada vez mais como uma alavanca de vantagem competitiva. Ele faz parte do presente e futuro do trabalho, tornando-se um fator decisivo para engajamento, inovação e competitividade. 

Tratar a flexibilidade como parte genuína da cultura é um posicionamento estratégico diante de um mercado que valoriza cada vez mais autonomia, propósito, senso de dono e equilíbrio.

A pergunta que fica é: as empresas estão prontas para abraçar o trabalho flexível como parte do seu DNA ou seguirão presas a estruturas rígidas que já não atendem às demandas de um mundo em transformação?

Pensemos, juntos.

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