Liderança

Mulheres, jamais peçam permissão

Para a construção de um futuro corporativo mais igual e justo, a luta pela equidade de gênero e salarial é incansável, mas pesquisas mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido
Jennifer Laranjeira é customer experience no Grupo Boticário, apaixonada por beleza e pelo poder que ela tem de trazer felicidade às pessoas.

Compartilhar:

*“You never have to ask anyone permission to lead. I have in my career been told many times, ‘It’s not your time’, ‘It’s not your turn’. Let me just tell you, I eat ‘no’ for breakfast. So, I would recommend the same”*. (Vocês nunca precisam pedir permissão a ninguém para liderar. Em minha carreira, ouvi muitas vezes: ‘Não é a sua vez’, ‘Não é o seu momento’. Deixe-me apenas dizer, eu como ‘não’ no café da manhã. Então, eu recomendaria que façam o mesmo, em tradução livre).

Essa foi a mensagem de Kamala Harris, recém-eleita vice-presidente dos Estados Unidos, uma das líderes mais poderosas do mundo, quando solicitaram um conselho seu para as mulheres. E se, para ela, a situação é essa, você pode imaginar como é a nossa!

Sou mulher, cis, hétero, parda e, a partir da minha adolescência, quando as coisas melhoraram em casa, pude estudar em escolas particulares até concluir a graduação em uma universidade pública. Tenho 30 anos e trabalho em uma empresa do setor de perfumaria e cosméticos, onde acreditamos que a beleza tem o poder de transformar o mundo ao nosso redor.

Estou me apresentando, pois, como escreveu Djamila Ribeiro em seu livro *O que é lugar de fala?*, “saber o lugar de onde falamos é fundamental para pensarmos as hierarquias, as questões de desigualdade, pobreza, racismo e sexismo”. Apesar de ser uma mulher vivendo no Brasil e convivendo com estatísticas tão tristes, ainda sei que, entre elas, sou bastante privilegiada, e o meu objetivo é falar sobre o desafio da liderança feminina no meio corporativo.

## Batalhas vencidas, mas a guerra segue de pé
O primeiro prêmio Nobel recebido por uma mulher foi em 1903; no Brasil, ganhamos o direito ao voto em 1934 e tivemos nossa primeira presidenta em 2011. Embora devemos reconhecer algumas conquistas importantes de nossa luta pela equidade de gênero, ainda temos um longo caminho pela frente – e não é diferente no meio corporativo.

Mesmo já tendo sido comprovado que empresas com diversidade de gênero são 15% mais propensas a uma performance financeira superior, no Brasil, ainda somos apenas 29% ocupando cargos de alta liderança nas organizações, segundo o estudo [Women in Business Report 2019](http://www.grantthornton.global/en/insights/women-in-business-2019).

No início de 2020, foi observado um pequeno avanço na representatividade das mulheres norte-americanas em cargos de liderança. De 2015 a 2020, o percentual de VPs aumentou de 23% para 28% e de C-level, de 17% para 21%. Entretanto, ainda se observa um gap em estágios mais iniciais, como na promoção de mulheres a gerentes, uma vez que, a cada 100 homens promovidos, apenas 85 mulheres também alcançam o mesmo patamar profissional.

![liderancafem02](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/904W0WAd2jIoMMzvXn7f3/e8f554e3ade4ca55e2237eddf751e147/liderancafem02.jpg)*Fonte: Representação do pipeline corporativo por gênero e raça, do estudo Women in the Workplace 2020*

O desafio encontrado pelas companhias hoje é grande: ou as empresas reconhecem a importância da equidade de gênero e reinventam a forma de trabalho ou as consequências podem ser graves para as mulheres, organizações e economia como um todo.

## Práticas para incentivar a equidade de gênero
Compartilho aqui algumas práticas que já vivenciei para seguirmos com a primeira (e melhor) opção:

– __Espaço para fala:__ as mulheres precisam ter espaços de confiança que as ajudem a alcançar o que almejam no ambiente profissional. Na organização em que trabalho foram criados grupos de afinidade, e o de equidade de gênero chama-se Lado a lado, ação que rendeu o movimento #mulheresinquietas. Nele, mulheres contavam suas histórias profissionais em seus perfis do LinkedIn e refletiam sobre todas as etapas em que sofreram com a síndrome do impostor. São histórias de arrepiar.

– __Programas de incentivo e flexibilidade:__ fornecer incentivos que acolham essas mulheres dentro de suas realidades é fundamental. Para uma mãe poder trabalhar, ter uma creche ou auxílio-babá na organização pode ser fator decisório, vejo a diferença que isso faz no dia a dia das minhas colegas de trabalho. Essa tendência se intensificou com o home office em 2020 e, tudo indica, irá permanecer. A flexibilidade também é primordial, de acordo com o [relatório Women in the workplace](https://leanin.org/women-in-the-workplace-report-2020/the-state-of-the-pipeline) – “quando os funcionários acreditam que os líderes sêniores apoiam suas necessidades de flexibilidade, é menos provável que pensem em mudar de carreira ou deixar a força de trabalho”.

– __Comunicação e treinamento:__ para mitigar os preconceitos contra os quais as mulheres lutam, é preciso se certificar de que os funcionários reconheçam esses comportamentos. Líderes e colaboradores devem falar publicamente sobre o impacto dos vieses inconscientes. Finalmente, é essencial acompanhar os resultados das promoções e aumentos por gênero para garantir que mulheres e homens sejam tratados de forma justa.

Tendo espaço para a fala, incentivos para trabalhar e conscientização de todos ao redor sobre a desigualdade de gênero nas organizações, acredito que chegaremos à tão sonhada representatividade feminina. Pesquisas indicam que ainda serão necessários dois séculos até alcançarmos a igualdade salarial, e até por isso, não desistiremos da nossa luta até que possamos comer no café da manhã menos ‘nãos’ e mais pães quentinhos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Tecnologia & inteligencia artificial
2025

João Carlos da Silva Bizario e Gulherme Collin Soárez, respectivamente CMAO e CEO da Inspirali Educação.

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
3 de setembro de 2025
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)