Uncategorized

Múltiplos Salariais: a liderança como motor de mais (des)igualdade

Enquanto o salário mínimo sofre para alcançar quatro dígitos no Brasil, executivos de empresas de capital aberto chegam a ganhar R$ 40 milhões ao ano. deve-se questionar capacidades e méritos dos executivos? Não. mas é preciso discutir o papel dos “healing leaders” nesse contexto
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

Segundo dados do Banco Central, o Brasil possui mais de 80% do mercado financeiro concentrado na mão de cinco bancos, ficando apenas atrás da Holanda nesse quesito. Como a concentração diminui a competição, teríamos aí uma grande oportunidade para redução das desigualdades, mas isso será assunto de textos futuros. Hoje a conversa franca com você será sobre como podemos reduzir desigualdades por meio dos salários. A redução de desigualdades é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030.

Em 25 de junho de 2018, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) derrubou uma liminar que passou a garantir transparência dos salários dos executivos das empresas brasileiras de capital aberto – as maiores empresas do País. Considerando o salário mínimo de R$ 998,00 em vigor desde janeiro de 2019 e os valores divulgados de salários anuais dos principais executivos (que variam, em alguns casos, de R$ 10 milhões até R$ 40 milhões), estamos falando de múltiplos salariais aproximados entre 700 e 3 mil vezes do menor para o maior salário. Segundo o Dieese, o salário mínimo precisaria ser de R$ 3,9 mil para atender dignamente às necessidades (higiene, lazer, alimentação, educação e saúde) de uma família de quatro pessoas atualmente no Brasil.

Antes de tudo, é importante preservar a liberdade das empresas de remunerarem como bem entenderem. Não temos a pretensão de questionar capacidades e méritos dos executivos. Essa conversa não é sobre intervenção ou escassez, mas sobre protagonismo e abundância, já que estamos falando de um modelo econômico em vigor no planeta que foi o principal responsável, por meio do protagonismo das empresas movendo a economia, por aumentar radicalmente a renda média per capita por meio da produção de riqueza, bem como a expectativa de vida da população no mundo.

Acreditamos que, em uma nova economia mais inclusiva e sustentável, o setor privado pode protagonizar uma forma de geração e distribuição de riqueza. Para o Nobel da economia Joseph Stiglitz, as empresas podem reduzir desigualdades ao pagarem seus impostos devidamente e remunerarem de maneira digna e justa seus colaboradores. 

A nosso ver, para avançarmos nessa direção, healing leaders devem atuar nos cinco pontos a seguir:

1. Amplie accountability e transparência

Pague seus impostos devidamente e promova uma cultura organizacional de autonomia e confiança baseada em transparência. Isso vai demandar muitas quebras de crenças, mas você vai se surpreender com os resultados!

2. Pague bem seus colaboradores

Ainda que salário não esteja no topo das listas para atração e retenção de talentos, especialmente entre as novas gerações, isso é o certo a fazer. E, principalmente em culturas orientadas por confiança, o retorno desse bom salário também é certo.

3. Dedique tempo de qualidade para a formação de novas lideranças

Isso implica desenhar sistemas de gestão e governança, além de ter foco pessoal em desenvolvimento humano, com competências socioemocionais e atitudinais no centro desse processo – muitas vezes até superando as competências técnicas.

4. Lidere sendo o exemplo da liderança que você quer para o mundo. Aqui cabem ao menos duas reflexões e ações mais práticas: 

dê especial atenção às possíveis variações de remuneração entre homens e mulheres e tenha uma verdadeira empatia com seu “chão de fábrica”, buscando compreender como é a realidade de trabalho e de vida dessas pessoas com sua remuneração atual. Práticas consistentes, coerentes e íntegras na liderança inspiram e arrastam mais e mais líderes e organizações para esse movimento de transformação por meio de uma nova economia.

5. Respeite as regras do jogo

Um dos princípios da atividade econômica instituídos pela Constituição Federal de nosso País é a redução de desigualdades sociais e regionais. Remuneração justa e digna é uma das formas de condutas alinhadas com isso.

Esses são pontos que apoiam uma liderança consciente e responsável em meio às oportunidades e aos desafios deste século. Além de bem público, gerando emprego e renda digna, você estará valorizando sua organização. Afinal, todo CNPJ é feito de CPFs

Compartilhar:

Artigos relacionados

Uncategorized, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
20 de agosto de 2025
A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais - e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

Ana Fontes

4 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital, Cultura organizacional, Inovação & estratégia
18 de agosto de 2025
O futuro chegou - e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Bruno Pedra, Gerente de estratégia de marca na Blip

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de agosto de 2025
Relatórios de tendências ajudam, mas não explicam tudo. Por exemplo, quando o assunto é comportamento jovem, não dá pra confiar só em categorias genéricas - como “Geração Z”. Por isso, vale refletir sobre como o fetiche geracional pode distorcer decisões estratégicas - e por que entender contextos reais é o que realmente gera valor.

Carol Zatorre, sócia e CO-CEO da Kyvo. Antropóloga e coordenadora regional do Epic Latin America

4 minutos min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Como a prática da meditação transformou minha forma de viver e liderar

Por José Augusto Moura, CEO da brsa

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Ainda estamos contratando pessoas com deficiência da mesma forma que há décadas - e isso precisa mudar. Inclusão começa no processo seletivo, e ignorar essa etapa é excluir talentos. Ações afirmativas e comunicação acessível podem transformar sua empresa em um espaço realmente inclusivo.

Por Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir e Larissa Alves, Coordenadora de Empregabilidade da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas, Estratégia
13 de agosto de 2025
Lideranças que ainda tratam o tema como secundário estão perdendo talentos, produtividade e reputação.

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

2 minutos min de leitura
Gestão de Pessoas, Carreira, Desenvolvimento pessoal, Estratégia
12 de agosto de 2025
O novo desenho do trabalho para organizações que buscam sustentabilidade, agilidade e inclusão geracional

Cris Sabbag - Sócia, COO e Principal Research da Talento Sênior

5 minutos min de leitura
Liderança, Gestão de Pessoas, Lifelong learning
11 de agosto de 2025
Liderar hoje exige mais do que estratégia - exige repertório. É preciso parar e refletir sobre o novo papel das lideranças em um mundo diverso, veloz e hiperconectado. O que você tem feito para acompanhar essa transformação?

Bruno Padredi

3 minutos min de leitura
Diversidade, Estratégia, Gestão de Pessoas
8 de agosto de 2025
Já parou pra pensar se a diversidade na sua empresa é prática ou só discurso? Ser uma empresa plural é mais do que levantar a bandeira da representatividade - é estratégia para inovar, crescer e transformar.

Natalia Ubilla

5 minutos min de leitura
ESG, Cultura organizacional, Inovação
6 de agosto de 2025
Inovar exige enxergar além do óbvio - e é aí que a diversidade se torna protagonista. A B&Partners.co transformou esse conceito em estratégia, conectando inclusão, cultura organizacional e metas globais e impactou 17 empresas da network!

Dilma Campos, Gisele Rosa e Gustavo Alonso Pereira

9 minutos min de leitura