Nas últimas semanas, estive em diferentes salas com CEOs, conselheiros e diretores de grandes empresas. Em todas elas, abri com a mesma frase que aparece no telão desta imagem: negligenciar a saúde mental não é mais uma opção.
E não é força de expressão. É uma constatação baseada em dados, riscos e realidade.
Em 2024, mais de 472 mil brasileiros foram afastados do trabalho por transtornos mentais e comportamentais. Os números do primeiro semestre de 2025 já indicam que vamos ultrapassar, pela primeira vez, a marca de meio milhão de afastamentos por questões emocionais.
Isso não é um desvio. É um colapso.
A crise de saúde mental se tornou o principal gargalo oculto da produtividade no Brasil. E as empresas que continuam tratando esse tema como “pauta de RH” ou “campanha de setembro” estão adiando o inevitável: terão que lidar com o impacto emocional, financeiro e humano de um modelo de trabalho que não foi feito para o mundo em que vivemos hoje.
Mas não é só sobre afastamentos.
O presenteísmo – quando o colaborador está fisicamente presente, mas com sua performance comprometida – é outro grande vilão silencioso nas organizações. Segundo dados do “Censo de Saúde Mental da Vittude”, com mais de 100 mil respondentes, a perda média de performance relacionada ao sofrimento emocional nas empresas brasileiras é de 31%.
Isso não significa que apenas um terço dos trabalhadores esteja afetado, mas sim que toda a força de trabalho tem, em média, um terço de sua capacidade produtiva comprometida, alguns profissionais em menor grau, outros em níveis muito mais críticos.
É uma ineficiência distribuída que escapa dos radares gerenciais e se reflete em metas não batidas, retrabalho constante, engajamento em queda e custos crescentes com saúde e turnover.
O que muitos executivos ainda não perceberam é que saúde mental já é um assunto de conselho. Ela afeta diretamente os indicadores de turnover, absenteísmo, produtividade, reputação, custo de saúde, engajamento e, em breve, compliance regulatório.
A nova redação da NR-1 exige que empresas adotem planos concretos de prevenção aos riscos psicossociais. E a NR-17 já permite autuações para empresas que negligenciam o cuidado com a saúde emocional dos seus times.
Mais do que responder à legislação, trata-se de proteger o capital humano e intelectual da organização. Trata-se de garantir que os talentos permaneçam. Que líderes não entrem em colapso. Que os resultados não sejam obtidos à custa da exaustão coletiva.
Negligenciar a saúde mental hoje é negligenciar:
- a longevidade do seu time
- a sustentabilidade da sua cultura
- e a reputação da sua marca empregadora
Empresas que desejam crescer de forma saudável, consistente e ética precisam tratar a saúde mental como tratam seus KPIs estratégicos. Medir, analisar, investir e ajustar.
A era do improviso acabou. O futuro será de quem entendeu que saúde mental não é só sobre acolher.
É sobre antecipar, proteger, sustentar e liderar.