Uncategorized

Neurociência do consumo, por onde começamos?

Neurocientista e sócio da Forebrain

Compartilhar:

Antes de falar a respeito de Neurociência do Consumo, é importante compreendermos melhor o cenário em que vivemos. O mercado não é estático e, por isso, de tempos em tempos podemos identificar mudanças na maneira como os consumidores percebem valor e o que buscam nessa relação com as marcas. Justamente por isso, **as estratégias de marketing também devem ser dinâmicas e devem se ajustar ao que está acontecendo no mundo.** Em meio a tudo que vemos acontecer, algumas mudanças são mais impactantes, e aqui gostaria de destacar a percepção de valor do consumidor. 

Pesquisas mostram que ao longo do tempo, em busca de diferenciação, o mercado evoluiu da oferta de commodities para oferta de bens de consumo e, posteriormente, para a oferta de serviços. Em cada fase, a percepção de valor do consumidor muda de acordo com o que estava sendo oferecido. Ou seja, serviços possuem um valor agregado maior do que os bens de consumo, que por sua vez possuem um valor agregado maior do que as já tradicionais commodities. 

Esse aumento na percepção de valor garante às marcas um diferencial competitivo e também um posicionamento diferenciado no mercado. Atualmente, a busca por diferenciação em um mercado já commoditizado de serviços está baseada na criação de experiências únicas, geradas pelas marcas para encantar o consumidor. 

Aqui é importante destacar que a moeda de troca das experiências é a emoção. Assim sendo, as ações, produtos, serviços e estratégias de comunicação utilizadas hoje pelas marcas devem ser capazes de gerar envolvimento emocional e também devem ser memoráveis.

Hoje, percebemos que ao invés de destacar os atributos de produtos e serviços de forma objetiva, é necessária uma construção de valor que agora passa a ser pautada na resposta emocional que este mesmo produto ou serviço é capaz de causar. Os modelos então deixam de ser baseados na razão e passam a ser baseados em emoção. Exatamente nesse contexto, a Neurociência vem para compreender melhor o que toca a mente e o coração dos consumidores, conforme gostamos de dizer aqui na _Forebrain._

Essa área, também conhecida como Neuromarketing, vai focar justamente no entendimento profundo das reações emocionais implícitas e inconscientes do consumidor frente aos diferentes estímulos de marketing. 

Focada no estudo de reações neurobiológicas, essa ciência possibilita uma interpretação e entendimento do comportamento do consumidor de uma maneira objetiva. A aplicação dos conhecimentos e métodos neurocientíficos nos permite quantificar a resposta inconsciente do consumidor, ajudando as marcas a compreenderem melhor a eficiência de suas estratégias de comunicação. Além disso, contribui também no desenvolvimento de produtos adequados às necessidades e desejos do consumidor.

Por meio da neurociência é possível estudar de forma mais objetiva como as pessoas se comportam. A partir daí é possível extrapolar para outras áreas e saber, por exemplo, como as pessoas se comportam na tomada de decisões ligadas à economia e o efeito que determinados produtos causam no consumidor. Quando se faz uma pesquisa tradicional com perguntas, a resposta não é necessariamente verdadeira. O _neuromarketing_ mede a reação neurobiológica.

Através dos _insights_ trazidos sobre os comportamentos implícitos dos consumidores, as empresas adquirem um produto de alto valor estratégico, já que podem formular suas diferentes ações de marketing com o entendimento do que realmente impacta o inconsciente de seus clientes. E aqui vale destacar que a tomada de decisão ocorre justamente nesta porção inconsciente do nosso cérebro. 

Quando colocamos em valores, a estimativa é que apenas **5% do nosso processamento cerebral seja um processo dito consciente, enquanto a maior parte (95%) corresponde ao processamento inconsciente.** Os métodos de pesquisa tradicional já nos trazem informações relevantes, mas com o avanço da tecnologia, a aplicação da neurociência nos permite agora ir além e acessar de forma mais profunda a reação das pessoas aos diferentes estímulos de marketing.

Sobre o desenvolvimento dessas pesquisas, é importante explicar que os projetos são ajustados aos interesses dos clientes, garantindo que os métodos e aplicações utilizados sejam adequados aos seus objetivos. 

De maneira simplificada, o processo costuma acontecer da seguinte forma: os consumidores são apresentados a diferentes tipos de estímulos de marketing (conceitos, comerciais, anúncios, embalagens, produtos, etc), nesse momento são coletadas informações a partir de respostas que podem ser diretamente ligadas ao cérebro (abordagens neurométricas), que busquem atividades emocionais no nosso corpo, como batimentos cardíacos, dilatação de pupila, salivação (abordagens biométricas) e, ainda, respostas comportamentais como tempo de reação e o foco visual (_eye tracking_). 

Os sinais coletados são processados por algoritmos específicos para que gerem resultados capazes de serem analisados pelos pesquisadores, frente às hipóteses delineadas junto aos clientes. Com isso, ao entregar uma pesquisa com base em Neurociência do Consumo, o cliente é capaz de direcionar seus investimentos de forma mais robusta, a partir de informações que são livres de vieses sociais e culturais, e refletem uma resposta emocional espontânea do consumidor quando o mesmo tem contato com esses estímulos.

Hoje, pode-se dizer que a aplicação do Neuromarketing é extremamente vasta, podendo ser utilizada para análise de ações de _merchandising_ e ponto de venda, desenvolvimento de produto, criação/modificação de embalagem, _branding_, impacto de comunicação publicitária, user experience e _e-commerce_, entre outras.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1º de outubro de 2025
No mundo pós-IA, profissionais 50+ são mais que relevantes - são pontes vivas entre gerações, capazes de transformar conhecimento em vantagem competitiva.

Cris Sabbag - COO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)