Assunto pessoal

Nós mudamos: o desafio da pivotagem executiva

Cada vez mais, carreiras lineares podem, de repente, alargar as fronteiras e os riscos, em um hub de aceleração de novos negócios sustentáveis

Compartilhar:

Fundos de corporate venture capital (CVC) vêm se firmando. Segundo levantamento da Bain & Co., o número de fundos de CVC no Brasil tem crescido cerca de 30% anuais nos últimos seis anos. A expansão do CVC como um dos pilares da estratégia de inovação corporativa tem demandado uma transformação da liderança, nem sempre fácil de executar. É preciso alguém que atue bem como executivo e também como empreendedor, o que pede um novo modelo mental (veja texto abaixo) e uma rotina de trabalho bem distinta da usual.

O que o gestor de CVC deve ter

1. Versatilidade para colocar a mão na massa em diferentes frentes.
2. Tomar decisões em ritmo acelerado.
3. Correr risco elevado.
4. Apetite para aprender, entendendo que o sucesso e as certezas do passado não garantem o sucesso no futuro.
5. Predisposição a experimentar.
6. Atributos do ambiente corporativo.

Um profissional com essas características é raro de encontrar pronto no mercado, o que faz com que a dupla de perfis de empreendedor e executivo seja uma possibilidade, como no caso de Artur Faria e Vitor Moreira na Oxygea.

Ao vir um do mundo executivo para a Oxygea (pronuncia-se “ó-xí-gea”), optei por juntar forças com alguém experiente em investimentos, que foi o Vitor Moreira. A Oxygea é um veículo de CVC nascido em 2022 dentro de um planejamento estratégico da Braskem para impulsionar negócios que girem em torno de neutralidade de carbono, economia circular, energia renovável, novos materiais e transformação digital.

Estou há mais de dez anos na Braskem, onde liderei áreas de planejamento estratégico, inteligência de mercado, e fusões e aquisições, além de ser empreendedor no setor de energia renovável. Vitor vem atuando há mais uma década no mercado em private equity e venture capital. Nesse movimento, vi nossas habilidades se complementarem. E eu também vi uma mudança significativa em minha carreira.

Em primeiro lugar, romper com a progressão natural da trajetória significou de certo modo renunciar à trilha sucessória que há em toda grande corporação. O que me atraiu na nova trilha antes de tudo foi a oportunidade rara de criar um modelo de atuação singular, queseria improvável dentro da complexidade dos processos, ritos e normas da maior parte de corporações globais. A relação mais próxima e dedicada em todos os estágios do desenvolvimento de startups, com um tipo de liderança mais horizontal, e o potencial de transformação no futuro da indústria com as lentes da sustentabilidade e regeneração também me falaram mais alto.

Está sendo fácil? Não. Desde que aceitei ser o CEO da Oxygea, não poupo esforços para adquirir mais e mais conhecimentos. Pesquiso literatura sobre o setor, vou ao mercado para ouvir e entender quais competências e habilidades preciso desenvolver, busco benchmarks em experiências exitosas – como as da Chemovator, da Next47 e da YCombinator – e também vou aprender com iniciativas que falharam, já que a taxa de sucesso de CVCs e venture builders está bem abaixo dos 50%.
Um desafio, em paralelo, é a adaptação ao ambiente. Temos na Oxygea uma equipe enxuta – eram apenas quatro funcionários no início, são 14 agora, algo mínimo para quem está acostumado com grandes estruturas. O espírito é o de startup: conquistar “o dobro com a metade”.

Um desafio particular é o da relação com o tempo – tempo de gestão do negócio e tempo de avaliação dos resultados. Em uma corporação, há maior segmentação do trabalho, mais recursos operacionais dedicados, e os resultados são reportados em ciclos trimestrais e anuais. Por sua vez, neste novo mundo de investimentos de risco, é importante balancear a atenção entre o que acontece diariamente no portfólio, mas manter a expectativa de resultados em médio e longo prazos para o fundo. Os ciclos de startups levam de cinco a dez anos.

Estamos falando de total autonomia e de imensas responsabilidades em jogo. Há um valor de investimento de US$ 150 milhões comprometido para os próximos cinco anos, a fim de impulsionar startups inovadoras em sustentabilidade e transformação digital na indústria petroquímica.

Posso garantir, porém, que o ritmo de aprendizado frenético vem compensando todo e qualquer frio na barriga. Diariamente aprendo que não temos todas as respostas sobre o que e como fazer – nossos três programas dedicados ao engajamento e ao desenvolvimento de startups resultaram da escuta dos players do ecossistema. E até já aprendi a deixar de olhar só para os interesses da organização patrocinadora, como faria um executivo de corporação.

__Leia também: [E se você virasse um nada? Eu virei – e também mudei](https://www.revistahsm.com.br/post/e-se-voce-virasse-um-nada-eu-virei-e-tambem-mudei)__

Artigo publicado na HSM Management nº 158.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)