Gestão de Pessoas

O Desafio de gerar desconforto produtivo

Você já ouviu falar em cultivar um desconforto produtivo? Realmente faz sentido seguir com isso? Confira as dicas práticas para entender este fenômeno, que já existe e precisa ser melhor compreendido
Ana Caroline Olinda é Consultora da HSM Academy, Especialista em Cultura, Liderança e Educação Corporativa. É graduada em Administração, Pós-graduada em Neurociências e Comportamento e Mestranda em Psicologia Organizacional. É aprendiz em série e fascinada pelo estudo de futuros.

Compartilhar:

Para a maioria das pessoas, o desconforto é algo a ser evitado. No entanto, para líderes e gestores, ele pode ser um catalisador para o crescimento e a transformação das equipes.

Vamos esclarecer desde o início: não estou sugerindo que você submeta sua equipe a situações extremas, como andar sobre brasas ou escalar montanhas sem proteção. É mais provável que isso crie traumas do que crescimento. Quando falo de desconforto produtivo, refiro-me aos momentos que líderes enfrentam diariamente – aqueles em que precisamos ter conversas difíceis, comunicar notícias desagradáveis ou tomar decisões sensíveis.

Consegue lembrar da última vez que teve uma conversa desconfortável com seu time? Você conseguiu manter o desconforto ou passou mais tempo tentando suavizar a situação? Saiba que a habilidade de gerar desconforto produtivo é crucial para o desenvolvimento de equipes maduras e resilientes.

__Ao evitar conversas difíceis, corremos o risco de “juniorizar” nossas equipes, tratando adultos como crianças que precisam de eufemismos para não se assustarem.__

Uma das reclamações mais comuns no mundo corporativo é a falta de feedback. No entanto, muitas vezes, o problema não é a ausência de feedback, mas sua qualidade. Líderes e liderados se preocupam tanto em se proteger que as verdadeiras tensões permanecem não ditas, transformando o que deveria ser um diálogo de desenvolvimento em uma interação mecânica e sem significado.

Quantos dos seus feedbacks perderam a eficácia porque você tentou criar conforto onde o desconforto deveria estar? Um exemplo clássico é quando um gestor diz que um colaborador “tem oportunidades de melhoria”, ao invés de ser direto sobre suas deficiências de desempenho ou cumprimento de prazos. Ou quando um coordenador diz que “a cadeira de especialista é grande demais”, quando o real problema é falta de habilidade técnica e dificuldades de relacionamento com a equipe.

Isso sem falar da “ausência de fit cultural” usada no momento da demissão e que já viralizou nas redes sociais como sinônimo de falta de transparência, afinal, ninguém se sente confortável em demitir alguém, quanto mais em dizer abertamente que a razão é a dificuldade em lidar com a pressão e a ausência de disposição para realizar atividades que vão além de seu escopo, só para ficar em um único exemplo.

Kim Scott, em seu livro “Radical Candor” (publicado no Brasil pela HSM Books, em 2017, com o título “Empatia Assertiva – Como ser um líder incisivo sem perder a humanidade), destaca que a chave para uma liderança assertiva é __confrontar diretamente__ e __se preocupar pessoalmente__.

Confrontar diretamente significa utilizar a “franqueza radical”, ou seja, trazer seu ponto de vista de forma clara e sincera, sem ser rude. Isso requer humildade para aceitar que você não é o dono da verdade. Preocupar-se pessoalmente significa entender e respeitar as vulnerabilidades da equipe, criando um ambiente psicologicamente seguro para que as pessoas possam se expressar.

Minha primeira experiência com franqueza radical foi um choque. Uma colaboradora me disse que eu “era brilhante, mas não deixava ninguém brilhar comigo, pois era muito centralizadora.” Agradeci a sinceridade e levei tempo para processar o feedback. No entanto, esse momento desencadeou uma jornada de autoconhecimento e crescimento.

__Enfrentar o desconforto exige lidar com nossas próprias emoções e nos colocar em uma posição de vulnerabilidade, o que certamente não é fácil. No entanto, é exatamente essa capacidade de encarar o desconforto, mantendo-o mesmo durante o silêncio ou a ausência de respostas imediatas, que amadurecerá suas relações e tornará sua equipe mais produtiva a longo prazo.__

Aqui estão algumas dicas práticas para cultivar o desconforto produtivo:

1. __Seja transparente e direto:__ Comunique suas preocupações e observações de forma clara e honesta, sem eufemismos ou rodeios.

2. __Crie um ambiente seguro:__ Estabeleça um espaço onde sua equipe possa expressar seus pensamentos e sentimentos sem medo de julgamentos ou retaliações.

3. __Pratique a escuta ativa:__ Ouça atentamente e procure entender as perspectivas de sua equipe, mesmo quando forem diferentes das suas.

4. __Admita vulnerabilidades:__ Não tenha medo de reconhecer seus próprios erros ou limitações. Isso tornará você mais humano e confiável aos olhos de sua equipe.

5. __Jamais personalize os problemas:__ Ofereça elogios e críticas focadas no comportamento e não nas pessoas.

Embora possa ser desconfortável inicialmente, a franqueza radical e o desconforto produtivo são essenciais para construir relações autênticas e equipes de alto desempenho. Como líder, você tem a oportunidade de utilizá-los para criar uma cultura de transparência e crescimento contínuo.

Agora, pense: qual é a próxima conversa desconfortável que você precisa ter? Que tal encarar o desconforto produtivo em vez de ignorar o problema?

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

ESG, Cultura organizacional, Inovação
6 de agosto de 2025
Inovar exige enxergar além do óbvio - e é aí que a diversidade se torna protagonista. A B&Partners.co transformou esse conceito em estratégia, conectando inclusão, cultura organizacional e metas globais e impactou 17 empresas da network!

Dilma Campos, Gisele Rosa e Gustavo Alonso Pereira

9 minutos min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas, Liderança, Marketing
5 de agosto de 2025
No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real - e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Cristiano Zanetta

6 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura