Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 minutos min de leitura

O risco de copiar modelos de gestão: por que cada empresa precisa criar sua própria cultura

Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.
Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

Compartilhar:

Em um mercado cada vez mais competitivo e veloz, é natural que líderes busquem referências em “cases de sucesso” para inspirar suas próprias estratégias de gestão. No entanto, essa busca por modelos externos muitas vezes revela um sintoma mais profundo, o da dificuldade das empresas em construir uma cultura verdadeiramente autêntica.

A pesquisa OrgBRTrends, da McKinsey & Company, mapeou as dez macrotendências que estão moldando as organizações brasileiras, e trouxe um dado que diz muito: apenas 4% dos líderes consideram que a cultura organizacional está, de fato, alinhada à estratégia das suas companhias. Além disso, 60% das lideranças apontam como um desafio crítico transformar processos de governança em ações claras, padronizadas e visíveis. Esses números mostram o tamanho do descompasso entre o discurso e a prática, e reforçam a importância de que cada empresa olhe para dentro antes de buscar referências fora.

A partir de uma conversa com uma consultora e amiga, me veio uma provocação: será mesmo que a cultura “come a estratégia no café da manhã”? Essa frase é repetida tantas vezes que quase virou um mantra corporativo, mas vale olhá-la com mais atenção. Tenho refletido que cultura e estratégia não se devoram, mas se retroalimentam, pois uma sustenta a outra. A cultura dá sentido e direção à estratégia, enquanto a estratégia oferece à cultura o caminho concreto para se manifestar. Quando uma dessas partes enfraquece, a outra também perde força.

Então, quando uma organização tenta reproduzir a cultura de outra, sem a estratégia junto, corre o risco de perder autenticidade e gerar desconexão com o próprio time. Isso porque a cultura não se implanta, se constrói, a partir das relações humanas que sustentam o negócio. O que funciona em uma empresa de tecnologia do Vale do Silício, por exemplo, pode não fazer sentido algum em uma companhia brasileira com outra maturidade organizacional, contexto socioeconômico e perfil de colaboradores.

Penso que uma cultura organizacional autêntica nasce da coerência entre o que se diz e o que se faz. Não é sobre adotar slogans inspiradores ou políticas copiadas, mas sobre alinhar valores, comportamentos e decisões diárias a um propósito verdadeiro. A sustentabilidade dessa cultura depende de consistência e verdade, e não há cultura forte se a liderança não a pratica.

Nesse contexto, tenho para mim que o papel do RH e da liderança é desenvolver um olhar crítico sobre o que realmente faz sentido para a empresa e suas pessoas. Adotar práticas de forma mecânica, sem refletir sobre o contexto, leva à perda de identidade e ao esvaziamento do engajamento. Escuta ativa, diagnósticos de clima e análise de maturidade organizacional ajudam a entender o que o time realmente precisa, e não apenas o que o mercado está fazendo.

A diferença entre adaptar boas práticas e simplesmente copiá-las está na intenção e na sensibilidade. Líderes maduros sabem que inovação cultural não vem da imitação, mas da tradução: observar o que há de bom no mercado, compreender os princípios por trás dessas práticas e adaptá-los à própria realidade. Isso exige tempo, experimentação e aprendizado contínuo.

Indo além, diria que construir – ou reconstruir – uma cultura própria é um processo que começa pelo propósito. Envolve revisitar a história da empresa, compreender o que a torna única e garantir que todas as decisões estratégicas estejam alinhadas a essa essência. Também passa por incluir as pessoas no processo, dar voz aos times e reconhecer que a cultura é um organismo vivo, em constante evolução.

Cada empresa e gestor tem muito a ganhar quando se entende que a cultura mais poderosa é aquela que não precisa ser copiada, porque é sentida. E isso se potencializa quando cada colaborador entende o porquê de estar ali e se enxerga como parte de algo maior. Esse equilíbrio entre discurso e prática nenhuma empresa pode importar, precisa construir.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança