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Preço Certo: o escudo invisível que garante a sobrevivência e o futuro das pequenas e médias empresas

O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.
Gerente de Pricing e Inteligência de Mercado em uma multinacional do segmento de controle de acessos, com experiência consolidada em grandes empresas globais. É MBA em Marketing, certificado PMP e Certified Pricing Professional (CPP), além de fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing). Autor de artigos na Professional Pricing Society (PPS), já participou de debates internacionais como o podcast Impact Pricing, de Mark Stiving, e o Pricing Conectado 2024, promovido pela InfoPrice.

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Todos os anos, milhares de pequenas e médias empresas encerram suas atividades, como mostram levantamentos do IBGE e do Sebrae. Cerca de 20% não sobrevivem ao primeiro ano, e pouco mais de 37% resistem além de cinco anos. O dado mais alarmante é que, na maioria dos casos, a falência não acontece por falta de clientes, mas por algo muito mais silencioso: a formação incorreta de preços.

Em um cenário de economia volátil, inflação persistente e impactos diretos nos custos variáveis, definir o preço certo deixa de ser detalhe e passa a ser questão de sobrevivência.

O erro de copiar o vizinho

A prática mais comum ainda é olhar para a tabela do concorrente e simplesmente replicar. Esse hábito, aparentemente inofensivo, é uma armadilha perigosa. Cada empresa possui custos, clientes e diferenciais distintos. Ignorar essas variáveis significa abrir mão de margens e, em muitos casos, comprometer o caixa da empresa sem perceber. Imagine um pequeno restaurante que define seu cardápio apenas olhando o concorrente ao lado. Ele não considera seus próprios custos de ingredientes, equipe ou aluguel. Essa escolha aparentemente simples pode significar vender pratos com prejuízo todos os dias.

O perigo da guerra de preços

Entrar em guerra de preços pode até gerar alívio imediato – mais clientes em pouco tempo – mas é uma estratégia suicida no longo prazo. Margens se corroem, clientes passam a associar sua marca ao “barato” e, quando a empresa tenta reajustar, encontra resistência. Antes de reduzir o preço, ofereça valor adicional: melhor atendimento, prazo mais ágil, garantia estendida, condições de pagamento diferenciadas. A criatividade na oferta é sempre mais saudável do que cortar preço.

Concorrência real: não é só quem vende igual a você

Outro equívoco recorrente é restringir a definição de concorrência a quem vende o mesmo produto. Para o cliente, concorrente é todo aquele que resolve o mesmo problema. A padaria que vende pão concorre não apenas com a padaria da esquina, mas também com o aplicativo de delivery, com os congelados do supermercado e até com a decisão do cliente de preparar o próprio café em casa. Para o pequeno e médio empresário, ampliar essa visão ajuda a identificar onde realmente vale competir em preço e onde faz mais sentido se diferenciar.

Casos reais: sobrevivência pela formação de preços

Casos como os das livrarias Saraiva e Cultura, amplamente noticiados pela imprensa, mostram como decisões comerciais equivocadas e falhas na gestão de preços podem comprometer até marcas tradicionais no Brasil. Nos EUA, a Toys R Us (Loja de Brinquedos) seguiu caminho parecido, sucumbindo diante da incapacidade de se adaptar e competir com modelos mais enxutos e digitais.

Um exemplo de preço certo é a Stanley, empresa norte-americana, que reposicionou sua comunicação e adotou preços premium. Em quatro anos, cresceu quase dez vezes seu faturamento (Fonte: Bloomberg Línea). No Brasil, seus copos custam de R$ 200 a R$ 300, prova de como valor percebido e estratégia de preço andam juntos. Esses casos mostram que a formação de preços não é luxo de multinacional. É ferramenta acessível que, se aplicada com disciplina, salva negócios.

Como começar hoje, sem grandes consultorias

O segredo está em passos simples, que podem ser aplicados até por quem não tem equipe dedicada:

  1. Conheça seus custos reais: saiba exatamente quanto custa cada produto ou serviço;
  2. Identifique quem é seu concorrente de verdade: todas as alternativas que o cliente considera;
  3. Comunique o valor antes do preço: destaque benefícios, economia e ganhos antes de falar em números;
  4. Teste cenários, mesmo em planilhas eletrônicas: simule reajustes e impactos na margem;
  5. Reajuste gradualmente: aumentos pequenos e constantes são mais sustentáveis que saltos bruscos.


Sustentabilidade e futuro

Preço certo não garante apenas a sobrevivência no mês atual. Ele sustenta o futuro da empresa. Um negócio sustentável é aquele que consegue equilibrar crescimento, margem e caixa. E nada disso acontece sem uma política de preços bem definida. Planejar reajustes pequenos e frequentes é menos traumático para o cliente e mais saudável para o caixa. Essa prática simples pode ser aplicada até por microempreendedores sem tecnologias muito avançadas.

Tecnologia e controle a favor do preço

Mesmo com recursos simples, como planilhas eletrônicas, já é possível organizar custos, cenários e acompanhar margens com disciplina. Um passo adicional, muito útil para pequenos negócios, é montar uma DRE (Demonstração de Resultados) simplificada, para acompanhar mensalmente se a operação está realmente dando lucro. Não precisa de termos técnicos nem de sistemas caros – basta uma planilha com três blocos:

  • Receitas: tudo o que entrou no mês (vendas, serviços);
  • Custos e Despesas: compras de mercadorias, salários, aluguel, energia, impostos;
  • Resultado: diferença entre receitas e despesas.


Exemplo simplificado:
Se uma lanchonete faturou R$ 50.000 no mês, teve R$ 30.000 de custos e despesas, o lucro bruto foi de R$ 20.000

Com essa análise, o empreendedor consegue identificar:

  • Qual o markup mínimo necessário para cobrir todos os custos/despesas;
  • Qual o faturamento de equilíbrio (ponto em que as receitas pagam os custos/despesas);
  • A partir de qual faturamento mensal a empresa realmente começa a gerar lucro.


Ou seja, tecnologia não é luxo: com uma planilha simples e disciplina, já é possível enxergar o resultado real do negócio, definir preços mais conscientes e tomar decisões seguras para crescer.

Conclusão

O preço é mais do que um número: é o escudo invisível que protege empresas em tempos de incerteza e a bússola que orienta um crescimento saudável. Ele traduz, de forma simples, se um negócio está de fato preparado para sustentar custos, cobrir despesas, garantir o pró-labore e ainda gerar recursos para investir no futuro. Para o empreendedor, começar simples – entendendo custos, evitando copiar concorrentes e comunicando valor – é a diferença entre fechar as portas cedo ou construir um negócio duradouro. O segredo não está em descontos agressivos, mas em clareza, disciplina e coragem
para cobrar de forma justa.

No fim, para que as pequenas e médias empresas possam ter sustentabilidade (sobrevivência) e longevidade (futuro) não depende apenas de vender mais, mas de Vender ao Preço Certo.

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