Desenvolvimento pessoal

Que tipo de workaholic é você?

Especialista da Wharton apresenta dois tipos de workaholics e discute a dificuldade de estabelecer limites na vida moderna

Compartilhar:

Em entrevista à Rotman Magazine, a pesquisadora e chefe do departamento de gestão da Wharton School, da University of Pennsylvania, fala sobre a pesquisa que realizou sobre as consequências do excesso de trabalho. As descobertas são reveladoras: trabalhar muito não é necessariamente um problema; só têm sua saúde afetada os profissionais que não têm um vínculo de propósito com seu trabalho. Acompanhe.

**1. Os limites entre a vida profissional e a vida familiar são imperceptíveis para muitas pessoas. Estamos trabalhando mais do que nunca – ou é só impressão?**

Realmente acho que muitas pessoas estão trabalhando mais do que nunca porque, com as ferramentas de hoje, isso é possível. A tecnologia tornou possível trabalhar de qualquer lugar, a qualquer hora. Mas, mesmo para aqueles que não estão realmente trabalhando mais, parece que estão, porque o trabalho pode simplesmente “aparecer” a qualquer hora do dia ou da noite em nossos smartphones. Esse limite impresso é ótimo, de um lado. Por exemplo, significa que você pode ir ao jogo de futebol do seu filho e continuar disponível se algo acontecer no escritório. Mas também nos deixa mais preocupados com em momentos em que antes conseguíamos nos “desligar” completamente – e há evidências de que isso torna mais difícil nossa recuperação. É importante entender as consequências de longas semanas de trabalho para a saúde.

**2. Você identificou dois tipos de workaholics. Pode descrevê-los?**

O excesso de trabalho é uma mentalidade – o impulso interno compulsivo de trabalhar muito. Esses indivíduos têm um fluxo contínuo de demandas no trabalho porque muitas vezes buscam trabalhos de alta pressão e criam trabalho extra para si mesmos. São psicologicamente apegados ao trabalho e tiram pouco tempo para descansar. Como resultado, têm grandes chances de sofrer estresse debilitante.

Meus colegas e eu nos dispusemos a estudar os efeitos do excesso de trabalho em geral; mas logo percebemos que há dois tipos de workaholics. O primeiro é o dos “workaholics engajados” – são os autodenominados workaholics que amam seu trabalho e obtêm uma energia positiva dele. Essas pessoas se conectam com o trabalho de forma significativa e inspiradora. O segundo grupo é o dos “workaholics desengajados”. São os que se sentem culpados quando não estão trabalhando, o que os faz trabalhar muito; mas eles não amam seu trabalho. Eles obtêm pouquíssima alegria, propósito ou significado dele. 

**3. Quais são os efeitos para a saúde física e mental de ser um workaholic?**

Em nossa pesquisa, nos concentramos nos efeitos negativos à saúde causados pela síndrome metabólica, que cobre uma variedade de condições – aumento da pressão sanguínea, elevação de açúcar no sangue e níveis de colesterol e triglicérides anormais – que tendem a ocorrer em conjunto, aumentando o risco de doenças cardíacas, derrames e diabetes. Descobrimos duas diferenças fundamentais em exames de saúde de workaholics engajados versus desengajados. Primeiro, embora o excesso de trabalho estivesse relacionado mais a queixas autodeclaradas sobre saúde física e psicológica e não sobre nível de envolvimento, essas queixas só foram associadas a resultados de saúde verdadeiramente negativos quando o engajamento no trabalho era baixo.

Quero deixar claro que há pessoas por aí que trabalham longas horas, mas não são workaholics – e elas não obtêm nenhum dos efeitos de saúde negativos que vimos nos workaholics. Essa foi uma das nossas principais descobertas: é a atitude do indivíduo em relação ao trabalho que resulta em problemas de saúde, e não simplesmente uma jornada de trabalho mais longa.

Nossa segunda descoberta fundamental foi que há um “efeito de proteção” nos workaholics engajados. Essas pessoas também não têm problemas de saúde. Pessoas engajadas em geral sabem gerenciar melhor o tempo e têm habilidades de comunicação. E são mais motivados no trabalho. Os workaholics não engajados se saíram pior em todos os fatores. 

**4. Para leitores que estão achando que são workaholics não engajados, qual é o seu conselho?**

Uma coisa que descobrimos é que workaholics engajados têm mais apoio social do que os não engajados, e isso vem de duas fontes: família e colegas de trabalho. Se você se sente desengajado, é importante buscar mais apoio, tanto no trabalho quanto em casa. Além disso, tente repensar seu trabalho e descobrir por que você não se sente engajado nele. É o trabalho errado para você? O trabalho em si é entediante? Há uma forma de torná-lo mais interessante?

Minhas colegas Jane Dutton, da University of  Michigan, Amy Wrzesniewski, da Yale, e outros foram pioneiros no conceito de “elaboração do trabalho”. Artesãos do trabalho podem alterar as barreiras de seus trabalhos assumindo mais ou menos tarefas, expandindo ou diminuindo o escopo de tarefas ou mudando a forma como as desempenham. Eu acredito que esse conceito pode ser um recurso realmente poderoso no que diz respeito a assumir responsabilidade sobre seu trabalho e descobrir jeitos de tornar-se mais engajado nele.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Tecnologia & inteligencia artificial
2025

João Carlos da Silva Bizario e Gulherme Collin Soárez, respectivamente CMAO e CEO da Inspirali Educação.

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
3 de setembro de 2025
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)