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Segurança psicológica: o poder invisível por trás das equipes de alta performance

Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.
Diretora de Talent Management na Blip, empresa referência em AI conversacional. Com sólida trajetória em empresas como RD Station e Stilingue, Marília é especialista em construção de times de alta performance, estratégias de aquisição e desenvolvimento de talentos e cultura organizacional. Psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicologia Positiva, atua há mais de uma década na interseção entre gestão de pessoas, inovação e resultados de negócio.

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Nenhuma equipe se torna de alta performance apenas com processos ágeis ou tecnologia de ponta. O que realmente diferencia times excepcionais é algo invisível e muitas vezes mal interpretado: a segurança psicológica.

Em um cenário em que inovação e adaptabilidade são determinantes para a sobrevivência das empresas, esse conceito pode parecer menos tangível do que metodologias ou ferramentas. Mas ele é decisivo. Segurança psicológica significa criar um ambiente onde os profissionais se sintam à vontade para expor ideias, levantar dúvidas e até cometer erros sem receio de julgamento ou punição. Quem cunhou o termo foi Amy Edmondson, professora de Harvard, que afirma que “errar certo” é o primeiro passo para uma cultura corporativa mais segura, em que colaboradores se sintam confortáveis para falar sobre tudo. Essa confiança é o que sustenta a colaboração genuína e abre espaço para a inovação. Se queremos que o time desafie o status quo e vá além, é preciso entender que o campo de experimentação também suporta falhas. O estudo global da Gallup, publicado esse ano e realizado em 52 países com mais de 30 mil profissionais, aponta a confiança como uma das quatro qualidades essenciais para um líder.

Isso só corrobora o papel central da liderança nesse processo. Antes de tudo, precisa praticar em si mesma, já que o bem-estar emocional reflete diretamente nas suas decisões. Entender como você, líder, lida com erros no processo é fundamental.  Também cabe ao líder agir pelo exemplo e demonstrar essa postura por meio de atitudes simples, como fazer boas perguntas: “o que posso fazer para ajudar?” ou “como vocês enxergam essa situação?” e é a partir daí que abrem espaço para diálogo e construção coletiva. Afinal, assumir uma postura aberta e admitir que não sabe todas as respostas, convida a equipe a participar! 

Muitas vezes o tema é mal interpretado como a criação de um ambiente onde “tudo vale” e em que as pessoas não são desafiadas. E essa interpretação está totalmente equivocada. Estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso. Isso exige práticas consistentes: feedbacks construtivos, escuta ativa, transparência e valorização do esforço coletivo.


O grande desafio está em equilibrar segurança psicológica e performance.


Quando existe apenas cobrança por resultados, os times se tornam ansiosos e até paralisados. Quando há só acolhimento, sem padrões claros de exigência, o risco é a estagnação. O ponto de equilíbrio está em promover um espaço em que metas sejam claras e desafiadoras, mas as pessoas tenham suporte para aprender, experimentar e evoluir. É nesse território que surge a chamada zona de aprendizado, onde erros são tratados como oportunidades e a evolução se torna contínua. Afinal, não existe performance sem um ambiente que estimule a ir além, nem aprendizado sem desafio.


Time de alta performance VS indivíduo de alta performance

Sempre que puxamos pessoas para ir além, em algum momento elas podem derrapar – faz parte do processo de aprendizado. Profissionais que se sentem respeitados e ouvidos não apenas entregam melhores resultados, como também desenvolvem resiliência para lidar com mudanças e incertezas. Além disso, apresentam abertura para falar sobre erros – o que permite que sejam identificados cedo, e também ownership para corrigi-los. Foi o que mostrou o Projeto Aristóteles, desenvolvido pelo Google: a segurança psicológica apareceu no topo da lista como fator número um para o sucesso das equipes.

Para mensurar esse contexto, já existem ferramentas como pesquisas de clima e de engajamento, além da própria escala de segurança psicológica, que ajudam as organizações a entenderem como está o ambiente interno. Mais do que métricas, o essencial é uma liderança atenta e disposta a analisar de forma crítica se o espaço realmente favorece a colaboração e a exposição segura.

No fim, segurança psicológica não é apenas um diferencial competitivo, trata-se de um investimento invisível que gera impacto concreto: equipes mais motivadas, inovadoras e preparadas para o futuro. Mais do que um conceito de gestão, é um compromisso diário de líderes e organizações em transformar confiança em resultados duradouros.

O que você pode fazer hoje para convidar seu time a participar e criar um ambiente em que a vulnerabilidade seja premiada, e não punida?

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