Dossiê HSM

Seja mais inclusivo do que nunca

Diversidade traz complexidade; crise pede simplicidade. Ainda assim, é preciso continuar a buscar uma cultura mais diversa
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

“O cliente pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto.” Lembra-se dessa icônica frase de Henry Ford, fundador da Ford Motors Company, no início do século 20? Sua explicação é que a não diversidade no Modelo T tornava muito mais fácil gerenciar a operação. Por muito tempo, as empresas aplicaram essa ideia de Ford também na gestão de pessoas e, quando ela caiu por terra, perceberam: é muito mais desafiador manter a coesão cultural numa equipe de pessoas diferentes entre si do que entre semelhantes.

“A diversidade exige escolhas difíceis e dedicação constante; ela consome tempo e energia. Porém, não é mais opcional”, diz Eduardo Sampaio, diretor da consultoria Tribo, especializada em cultura e propósito. E, ele acrescenta, não voltou a ser apenas um item “nice to have” porque vivemos uma crise. Em sua visão, a falta de diversidade pode agravar a crise, inclusive, à medida que concorrentes mais diversos ganham terreno. “Em crises, aumenta a competição por talentos, clientes e fornecedores, e os três públicos têm usado o critério da diversidade para escolher”, afirma Sampaio.

Jaques Haber, sócio-fundador da iigual Inclusão e Diversidade e chief impact officer da EqualWeb Brasil, explica a vantagem dos concorrentes diversos: ao trazer visões diferentes para o negócio, aumenta a capacidade de inovar, o que vale ouro em tempos de rápidas mudanças na sociedade. “Estudos já comprovam que também melhora o desempenho financeiro”, diz Haber.

## Método, público e liderança
Enquanto alguns de nós dormíamos, parece que a diversidade virou mesmo item de sobrevivência empresarial. Mas como lidar com a camada de complexidade que ela acrescenta à gestão, especialmente em crises que exigem mudança cultural?
Em primeiro lugar, a transformação deve ativamente buscar uma cultura inclusiva. “Lembre que a diversidade é um fato, mas a inclusão é um ato”, diz Haber. Então, o uso da metodologia certa facilita a transformação – a Tribo, por exemplo, usa a abordagem Ame. De modo simplificado, a Ame consiste em trabalhar a ideia nova – como a inclusão – com um pequeno grupo de pessoas da empresa que sejam líderes e influencers, para que percebam que faz sentido e comecem a atuar de acordo. Assim, influenciam os demais ao seu redor e esse movimento vai cascateando no dia a dia.

“Em paralelo, a estrutura precisa ir mudando junto”, explica Sampaio, da Tribo. Exemplo? Se a cultura deve ser mais colaborativa e inovadora, as reuniões não podem continuar a só repassar números – “é contracultural”. As novas reuniões deixam espaço para as pessoas trocarem ideias.

Programas de desenvolvimento, eventos e nova identidade visual são algumas das ferramentas do processo de transformação. E o olhar distanciado de especialistas externos costuma fazer bastante diferença – ainda que se possa tentar algo caseiro.

Segundo a Deloitte, um dos erros comuns em abordagens de mudança cultural é não envolver todo o ecossistema de força de trabalho. Privilegiam-se os funcionários contratados, e os terceirizados são esquecidos. Isso foi apontado por 87% dos entrevistados no relatório “Futuro da força de trabalho”, realizado por Deloitte e MIT Sloan Management Review, de abril de 2021.

Outro erro é subestimar o impacto dos líderes em programas de mudança cultural. “A alta liderança precisa enxergar a dor de cada grupo minorizado”, diz Jacques Haber. Sem isso, nem exigências legais adiantam. Para o especialista, isso explica por que pessoas com deficiência (PcD) ocupam só 1% dos postos de trabalho no Brasil – 0% em se tratando de postos de liderança –, apesar da Lei de Cotas. Explica ainda por que menos de 1% dos websites é acessível a quem tem dificuldade visual.

Quer se inspirar numa empresa inclusiva? Olhe para a Apple. Seus notebooks podem ser configurados para necessidades específicas. As Apple Stores empregam gente diversa – Jacques conta que já foi atendido por uma funcionária com deficiência visual (com cão-guia) e com problemas auditivos em uma. E a diversidade ali não está só na base, mas no topo – o CEO, Tim Cook, é LGBTQIA+.

Os Seis atributos dos líderes inclusivos

Framework da Deloitte pode ser usado como checklist em todos os níveis da empresa

Num mundo caracterizado pela diversidade de pessoas, de ideias, de clientes e de mercados, o mínimo que se espera de um líder empresarial – em geral, responsável por dar o rumo dos negócios e influenciar e inspirar pessoas – é que adote um mindset e um comportamento inclusivo.

“Compreender e ser adepto da liderança inclusiva é o que ajudará os líderes a prosperar em seu ambiente cada vez mais diversificado”, já dizia em 2016 Juliet Bourke, quando comandava a prática de consultoria em diversidade e inclusão da Deloitte na Austrália.

Na época, Bourke propôs um framework com os seis traços que definem líderes inclusivos (veja abaixo), em termos do que pensam e do que fazem. Isso ainda é usado como uma referência.

![Imagens-02](//images.contentful.com/ucp6tw9r5u7d/hEnb52Ly6iAfH3FSA1fw9/1b5e3ff0eab6382446fb98abd0c61bac/Imagens-02.png)

Compartilhar:

Artigos relacionados

Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
3 de setembro de 2025
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)