Desenvolvimento pessoal

Seja um Parceiro nas Redes Globais de Inovação

Empresas de diversos portes situadas em países em desenvolvimento devem cogitar envolver-se nas redes de inovação lideradas por corporações mundiais; estudo sugere que esses arranjos serão cada vez mais comuns

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**Saiba mais sobre EXEQUIEL HERNANDEZ**

**Quem é:** Professor de estratégia global do MBA da Wharton School, da Filadélfia.

**Carreira:** Ph.D. pela University of Minnesota, foi professor da Olin Business School, da Washington University, de St. Louis.

**Campos de estudo:** Internacionalização de empresas, redes, gestão do conhecimento, aprendizado organizacional, competição, imigração.

**Entrevista em vídeo:** https://www.youtube.com/ watch?v=Dc20kt7LNd8. 

No ambiente de negócios globalizado, as empresas não estão mais desenvolvendo inovações fechadas em um laboratório secreto. Agora, é muito frequente que trabalhem com parceiros de todo o mundo para criar estratégias e produtos inovadores.

A importância crescente dessas redes ficou evidenciada em uma pesquisa conduzida recentemente na Wharton School pelo professor Exequiel Hernandez e pelo estudante de doutorado Sarath Balachandran. O objetivo nem foi o de discutir se as redes valem a pena, e sim o de examinar qual é o melhor mix possível de parceiros domésticos e estrangeiros em uma rede empresarial voltada para a inovação. 

Segundo a pesquisa, as redes são bem complexas de administrar, devido à miríade de diferenças culturais, legais, institucionais e outras que cada empresa participante costuma trazer para a mesa. 

A principal descoberta dos pesquisadores foi que o formato ideal de rede é diretamente dependente de que tipo de solução inovadora uma empresa ou grupo de empresas está tentando criar. Na entrevista a seguir, Hernandez explica por que e conta mais sobre a pesquisa, intitulada The Cross-National Configuration of Brokerage Triads: Effects on the Impact and Radicalness of Innovation. 

**EXPLIQUE MELHOR SUA PESQUISA, POR FAVOR…**

As empresas, especialmente as de alta tecnologia, estão enfrentando duas tendências importantes. 

A primeira é que o desenvolvimento da tecnologia está cada vez mais complexo, e elas têm de se aliar cada vez mais a outras companhias para criar alianças de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e coisas do gênero. 

A outra tendência é que tecnologia, ideias e mercados estão mais globalizados do que nunca, então as parcerias nacionais não bastam; as empresas estão tendo de fazer parcerias internacionais para inovar.

As organizações envolvidas nessas redes globais de P&D têm algo muito bom, mas, ao mesmo tempo, vivem um grande dilema. 

O lado bom é que, com parceiros de todo o mundo, você fica exposto a novas ideias, novas formas de fazer coisas, novos sistemas empresariais, que podem ajudá-lo a ser muito inovador. 

O dilema é que você também tem de administrar uma rede muito mais complexa, porque precisa lidar com diferenças culturais, legais, institucionais – enfim, com todo tipo de diferença.

Imagine uma companhia farmacêutica que tem parceiros nos Estados Unidos, Alemanha, Japão, China e Índia. À primeira vista, essa diversidade soa como uma rede promissora em termos de inovação, mas a complexidade de gestão por trás disso é enorme. 

Em nossa pesquisa, observamos todo esse cenário e levantamos uma questão muito diferente. Nossa hipótese foi: “Deve haver um mix ideal de parceiros domésticos e estrangeiros em uma rede, e isso possivelmente afeta de alguma forma a inovação”. 

Se levarmos em conta a unidade mais básica de uma rede, que é uma simples tríade de organizações, na qual eu sou a empresa e tenho dois parceiros, há essencialmente três configurações básicas: 

**1.** Todos os integrantes são de países diferentes – a tríade é 100% estrangeira.

**2.** Todos são do mesmo país – essa é 100% doméstica.

**3.** Há um mix de empresas estrangeiras e domésticas.

Nossa questão era simples: dessas três conformações possíveis, qual delas é melhor para a inovação? 

Então, para examinar isso e responder à pergunta, trabalhamos com alguns dados do setor de ciências da vida e biotecnologia, envolvendo organizações de 57 países; estudamos os tipos e a quantidade de patentes que elas produziram por meio dessas parcerias. 

**QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS RESULTADOS DESSA PESQUISA?**

O mais importante deles é que a rede ideal realmente depende do tipo de inovação que você está tentando produzir.

No caso das inovações que chamamos de “radicais” – o tipo de inovação que promove ruptura em modelos estabelecidos e quebra o status quo em termos de conhecimento do setor –, percebemos que elas estavam mais fortemente associadas a parcerias totalmente internacionais, com redes 100% estrangeiras. 

Em contraste, nas denominadas “inovações impactantes” – um tipo de inovação mais incremental, que ainda é economicamente valiosa, mas preserva o status quo em termos de conhecimento –, as empresas associadas a uma rede 100% doméstica obtinham os melhores resultados. 

Um aspecto importante é que esses padrões gerais se mantêm mesmo se considerarmos as diferenças entre os países – culturais, institucionais etc. 

**QUAIS SÃO AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DESSES ACHADOS?**

De maneira bem resumida, acho que a pesquisa indicou que, se você é um gestor e está encarregado do P&D global de sua companhia, especialmente das parcerias globais de P&D, tem de ficar atento a toda a rede e ao mix de parceiros estrangeiros e domésticos. 

Você também deve estar apto a entender em que medida essas parcerias influenciam os tipos de inovação produzidos e a eficiência com a qual podem gerar inovações. 

Digo isso porque, quando converso com gestores, frequentemente vejo que as empresas são muito boas no que chamo de “nível das díades”. Ou seja, nas parcerias uma a uma, com apenas uma organização, elas se saem bem: conseguem de fato avaliar esse parceiro, certificando-se de que é confiável e garantindo que trará algo novo. 

No entanto, normalmente os gestores não sabem olhar para a rede toda nem avaliar como a configuração, especialmente a global, pode afetar sua capacidade de inovar e seus ganhos com isso. 

Outra implicação prática é a ideia de que você realmente tem de se comprometer com um modelo extremo: ou você trabalha com uma rede totalmente estrangeira ou com uma totalmente doméstica; a mistura de parcerias estrangeiras e domésticas não dá resultados muito bons para as empresas. 

E também é muito palpável a ideia de que a escolha depende do que você espera conseguir. Se está buscando uma inovação radical, isso vem das parcerias estrangeiras. Se está atrás de algo mais incremental, o tipo de inovação lucrativo, então isso virá de parcerias domésticas. 

**QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS, DEPOIS DESSA PESQUISA?**

Há uma lacuna entre o que sabemos sobre redes puramente e o que sabemos sobre como as redes e a globalização se relacionam entre si. Vemos as empresas cada vez mais envolvidas em redes globais, mas nos falta o conhecimento, e eu gostaria de fechar um pouquinho esse gap. A ciência das redes avançou muito nos últimos 20 anos, matematicamente e de várias outras formas, e isso nos ajudará a fechá-lo. 

Uma sequência natural seria analisar se as empresas estão mudando algo na maneira de compor sua rede. Elas levam em conta as diferenças entre os países? Param para pensar sobre a forma pela qual estruturam os relacionamentos, especialmente quando se trata de buscar inovação e conhecimento novo? 

A outra coisa que acho importante tem a ver com compreender os processos subjacentes às redes, em vez de só pensar nos potenciais resultados que gerarão. É muito difícil administrar parcerias estrangeiras. 

Então, vale a pena estudar o que os gestores podem fazer para tornar esse processo mais eficiente – eficiência, nesse caso, significa superar todos os naturais atritos existentes em termos de cultura e instituições. Assim, poderão fazer essas parcerias serem tão valiosas quanto prometem ser.

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