Uncategorized

Tire seu processo decisório do “engarrafamento”

Segundo Julian Birkinshaw, da London Business School, as reuniões improdutivas que travam a agenda dos gestores equivalem aos problemas de trânsito enfrentados pelas grandes cidades

Compartilhar:

Apesar de todos os avanços da tecnologia da informação, os profissionais das grandes empresas ainda gastam boa parte de seu tempo em reuniões, que eles próprios consideram de baixo valor para o trabalho que realizam. Muitos desses encontros são improdutivos e acabam em impasse. 

Há alternativas? Julian Birkinshaw, professor da London Business School e pesquisador de inovação em gestão, achou que sim e foi buscar inspiração fora do campo da gestão organizacional, como relata em um recente artigo para a faculdade: o universo da gestão do tráfego nas grandes cidades. 

“Assim como as reuniões sem fim, os congestionamenos representam um grande desperdício de tempo na semana de trabalho de todo profissional”, explica Birkinshaw. 

**TRÊS INICIATIVAS**

Nos últimos 15 anos, várias cidades tomam diferentes iniciativas para reduzir a ineficiência nessa área. 

**Acelerar o fluxo**

As cidades têm adotado uma diversidade de soluções para fazer com que os moradores decidam se deslocar com meios de transporte mais eficientes, reduzindo o número de carros com uma só pessoa. Enquanto Londres investe pesadamente no transporte público, Singapura tributa os motoristas, Bogotá restringe horários e Múrcia dá incentivos a quem abre mão de dirigir. 

Nas empresas, como tornar o processo de tomada de decisão mais eficiente, com menos reuniões? Um elevado grau de automatização e padronização dos processos, segundo Birkinshaw, aprimora significativamente o fluxo decisório sem reuniões, equivalendo à adoção do transporte público. 

É preciso apenas assegurar que decisões não corriqueiras sejam tomadas em reuniões. 

**Simplificar as regras**

Uma abordagem mais radical adotada em alguns lugares é repensar o sistema de tráfego como um todo, buscando maior simplificação. Foi o que fizeram muitas cidades holandesas nos anos 1990. Em Drachten, por exemplo, pontos de maior concentração de automóveis, como semáforos e rotatórias, foram substituídos por áreas compartilhadas por carros, pedestres e ciclistas. 

Para Birkinshaw, a maioria das empresas possui processos sofisticados demais de orçamento, gestão de desempenho e autorização de despesas. Simplificar essas regras, levando a tomada de decisão para os que estão na linha de frente da operação, seria fazer o mesmo que as cidades holandesas. Vale a pena apostar na capacidade de seus profissionais de decidir melhor. 

Dois movimentos atuais da gestão estão fazendo exatamente isso, aliás: o _beyond budgeting_, que busca a simplificação dos processos de elaboração orçamentária corporativos, e o _agile_, que defende a descentralização de decisões no desenvolvimento de softwares e outros produtos. 

**Repensar os caminhos**

Uma terceira abordagem explorada por certas cidades é propor rotas alternativas aos motoristas em vez de focar o aumento de avenidas e viadutos – por exemplo, com a sinalização dessas rotas. (O incentivo ao uso de apps como o Waze também teria esse efeito.) Isso foi descoberto por acaso nos anos 1990, quando a rua 42, de Nova York, foi fechada para reformas e o trânsito melhorou porque as pessoas buscavam outros caminhos. 

Na analogia com o ambiente de trabalho feita por Birkinshaw, quando um gestor sênior sai de férias por um mês, a velocidade com que as coisas acontecem costuma aumentar significativamente. Livres do gargalo que representa a obrigação de passar tudo pelo chefe, as pessoas descobrem caminhos alternativos ou decidem rápido por conta própria. 

**MAIS INTELIGENTES**

Esses três exemplos mostram como as inovações da gestão de tráfego podem ser aplicadas ao processo de tomada de decisão nas grandes empresas. Segundo o professor da London Business School, basta pensar nos comitês e em outras instâncias decisórias da organização como uma rede de ruas e avenidas de uma cidade, nas regras e protocolos de governança como o sistema de trânsito e os semáforos que regulam o fluxo dos carros e na agenda corporativa como as decisões que as pessoas tomam para chegar a seus destinos. 

Conforme Birkinshaw, observar o planejamento urbano é uma forma de incentivar um novo olhar sobre o problema crônico que as empresas precisam superar. Da próxima vez que você se sentir um motorista de táxi engarrafado em uma reunião, pense nisso.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.

Rafael Ferrari

12 min de leitura
Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Saúde Mental
Desenvolver lideranças e ter ferramentas de suporte são dois dos melhores para caminhos para as empresas lidarem com o desafio que, agora, é também uma obrigação legal

Natalia Ubilla

4 min min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, e Marcos Inocêncio, então vice-presidente da epharma, discutem o modelo de contratação “talent as a service”, que permite às empresas aproveitar as habilidades de gestores experientes

Coluna Talento Sênior

4 min de leitura
Uncategorized, Inteligência Artificial

Coluna GEP

5 min de leitura
Cobertura de evento
Cobertura HSM Management do “evento de eventos” mostra como o tempo de conexão pode ser mais bem investido para alavancar o aprendizado

Redação HSM Management

2 min de leitura
Empreendedorismo
Embora talvez estejamos longe de ver essa habilidade presente nos currículos formais, é ela que faz líderes conscientes e empreendedores inquietos

Lilian Cruz

3 min de leitura
Marketing Business Driven
Leia esta crônica e se conscientize do espaço cada vez maior que as big techs ocupam em nossas vidas

Rafael Mayrink

3 min de leitura
Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)