ESG
6 min de leitura

Um ano após as enchentes no Rio Grande do Sul: memória, lições e o desafio climático do Brasil

Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro
CEO da SDW, cientista, empreendedora social e biotecnologista formada pela Universidade Federal da Bahia. Dedica-se a democratizar o acesso à água e saneamento globalmente por meio de tecnologias inovadoras e acessíveis, beneficiando mais de 25 mil pessoas com o desenvolvimento de 6 tecnologias. Reconhecida internacionalmente pela ONU, UNESCO, Forbes e MIT. Foi premiada pelos Jovens Campeões da Terra, pela Forbes Under 30 e finalista do prêmio mundial Green Tech Award. Seu compromisso com a sustentabilidade, impacto social e responsabilidade social é inabalável e continua dedicando sua carreira para resolver os desafios mais prementes da nossa era.

Compartilhar:

Em abril e maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul enfrentou a maior catástrofe climática de sua história. As chuvas intensas afetaram mais de 90% do estado, resultando em 183 mortes, mais de 600 mil desalojados e prejuízos econômicos estimados em R$ 97 bilhões. Um ano depois, é essencial relembrar esse episódio não apenas como uma tragédia, mas como um alerta sobre a urgência de ações concretas diante das
mudanças climáticas.

Entre a crise climática e a desigualdade estrutural

As enchentes foram resultado de uma combinação de fatores climáticos extremos. O fenômeno El Niño contribuiu para o aumento das chuvas, mas estudos indicam que as mudanças climáticas dobraram a probabilidade de ocorrência de eventos tão severos e aumentaram sua intensidade em até 9%. Além disso, falhas na infraestrutura urbana, como sistemas de contenção e drenagem inadequados, agravaram os impactos das chuvas.

A tragédia expôs vulnerabilidades sociais profundas. Comunidades indígenas, quilombolas e populações em situação de vulnerabilidade foram desproporcionalmente afetadas. A agricultura sofreu perdas significativas, com danos a culturas como soja, arroz e milho, além de erosão do solo que comprometeu a produtividade futura.

Depois da enchente: respostas urgentes

Diante da devastação provocada pelas enchentes, o governo federal anunciou o repasse de R$ 98,7 bilhões para ações emergenciais e reconstrução, enquanto o governo estadual destinou R$ 2,4 bilhões para medidas de curto, médio e longo prazo. Apesar dos valores expressivos, as críticas são contundentes: a população afetada foi louco ouvida, e as ações carecem de um olhar mais atento para as desigualdades estruturais que amplificaram a tragédia.

Sem planejamento integrado e políticas voltadas à resiliência climática, o risco é de que o ciclo de destruição se repita – e com ainda mais força. As enchentes de 2024 não podem ser tratadas como um desastre pontual. Elas são o reflexo direto do colapso climático e da negligência histórica com infraestrutura, planejamento urbano e justiça social. Se não enfrentarmos as causas estruturais dessa crise, estaremos apenas reagindo ao próximo desastre, em vez de preveni-lo.

A reconstrução deve ser mais do que levantar muros: ela precisa derrubar barreiras de desigualdade e construir um caminho sustentável para o futuro. Enquanto indivíduos, temos o poder – e a responsabilidade – de cobrar medidas mais ambiciosas e eficazes dos governantes, apoiar organizações que lutam pela justiça climática e mudar hábitos que contribuem para o aquecimento global. Precisamos transformar indignação em mobilização: exigir transparência no uso dos recursos, pressionar por políticas públicas inclusivas e votar em representantes comprometidos com o meio ambiente.

O futuro não será seguro se continuarmos tratando a crise climática como um problema distante. Ele começa com nossas escolhas hoje, afinal não queremos que aquelas cenas se repitam em nossa história.

Compartilhar:

CEO da SDW, cientista, empreendedora social e biotecnologista formada pela Universidade Federal da Bahia. Dedica-se a democratizar o acesso à água e saneamento globalmente por meio de tecnologias inovadoras e acessíveis, beneficiando mais de 25 mil pessoas com o desenvolvimento de 6 tecnologias. Reconhecida internacionalmente pela ONU, UNESCO, Forbes e MIT. Foi premiada pelos Jovens Campeões da Terra, pela Forbes Under 30 e finalista do prêmio mundial Green Tech Award. Seu compromisso com a sustentabilidade, impacto social e responsabilidade social é inabalável e continua dedicando sua carreira para resolver os desafios mais prementes da nossa era.

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Preparando-se para a liderança na Era da personalização

Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas – e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Empreendedorismo
Macro ou micro reducionismo? O verdadeiro desafio das organizações está em equilibrar análise sistêmica e ação concreta – nem tudo se explica só pela cultura da empresa ou por comportamentos individuais

Manoel Pimentel

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura
Inovação
O SXSW 2025 transformou Austin em um laboratório de mobilidade, unindo debates, testes e experiências práticas com veículos autônomos, eVTOLs e micromobilidade, mostrando que o futuro do transporte é imersivo, elétrico e cada vez mais integrado à tecnologia.

Renate Fuchs

4 min de leitura
ESG
Em um mundo de conhecimento volátil, os extreme learners surgem como protagonistas: autodidatas que transformam aprendizado contínuo em vantagem competitiva, combinando autonomia, mentalidade de crescimento e adaptação ágil às mudanças do mercado

Cris Sabbag

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent

Rafael Bertoni

0 min de leitura
Empreendedorismo
88% dos profissionais confiam mais em líderes que interagem (Edelman), mas 53% abandonam perfis que não respondem. No LinkedIn, conteúdo sem engajamento é prato frio - mesmo com 1 bilhão de usuários à mesa

Bruna Lopes de Barros

0 min de leitura
ESG
Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O SXSW revelou o maior erro na discussão sobre IA: focar nos grãos de poeira (medos e detalhes técnicos) em vez do horizonte (humanização e estratégia integrada). O futuro exige telescópios, não lupas – empresas que enxergarem a IA como amplificadora (não substituta) da experiência humana liderarão a disrupção

Fernanda Nascimento

5 min de leitura
Liderança
Liderar é mais do que inspirar pelo exemplo: é sobre comunicação clara, decisões assertivas e desenvolvimento de talentos para construir equipes produtivas e alinhada

Rubens Pimentel

4 min de leitura
ESG
A saúde mental no ambiente corporativo é essencial para a produtividade e o bem-estar dos colaboradores, exigindo ações como conscientização, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.

Nayara Teixeira

7 min de leitura