Você já ouviu falar em “womenomics”? É o termo que os americanos usam para retratar “a economia baseada na força de produção e consumo das mulheres”. Contém imensas oportunidades, mas ainda é subestimada pela maioria das empresas no mundo – e não é diferente no Brasil.
Entre os analistas que apontam essas oportunidades está a economista Jackie VanderBrug, da Putnam Investments. Como coautora do livro “Gender Lens Investing: Uncovering opportunities for growth, returns and impact”, VanderBrug advoga que toda decisão de negócios pode – e deve – ser analisada sob uma “lente de gênero”. Isso transcende o simples investimento em empresas fundadas por mulheres; trata-se de incorporar uma perspectiva capaz de discernir diferenças culturais e comportamentais que impactam diretamente o consumo, o risco e o retorno.
Há muito tempo, a discussão sobre diversidade de gênero no ambiente corporativo está ancorada na premissa de que mais mulheres em posições de liderança resultam em melhores resultados financeiros. Embora essa abordagem seja crucial para inserir o tema na agenda das empresas, ela nos cega para o principal, que é a womenomics.
Um exemplo claro disso reside na mobilidade urbana: mulheres frequentemente realizam trajetos no transporte público com múltiplas paradas – para levar filhos à escola, ir ao supermercado, visitar parentes. Essa realidade exige um repensar do transporte, da bilhetagem e da segurança de forma diferenciada. No setor financeiro, muitas mulheres evitam agências bancárias tradicionais, o que abre um vasto campo para o desenvolvimento de soluções digitais mais acolhedoras e alinhadas às suas necessidades.
Quando a lente da womenomics é aplicada, surgem oportunidades de negócios e gestão até então negligenciadas.
Nos negócios, produtos deixam de ser meramente “menores e cor-de-rosa”, como destaca VanderBrug, para se tornarem genuinamente relevantes. Serviços financeiros passam a mensurar não apenas risco e retorno médios, mas também as nuances de comportamento entre diferentes grupos de clientes.
Na gestão, empresas mudam de paradigma, como sugere a professora Sarah Kaplan, da University of Toronto, Canadá, e a equidade de gênero passa a ser encarada como um desafio de inovação organizacional. Em vez de focar em “convencer” indivíduos a eliminar seus vieses, a inovação tem a ver com redesenhar os processos organizacionais de forma a mitigar a influência desses vieses. Investidores, por sua vez, começam a considerar métricas como a redução da disparidade salarial de gêneros, a presença feminina em conselhos e a redistribuição do trabalho não remunerado na avaliação de empresas que disputam seus recursos.
Exemplos práticos de womenomics
O Japão oferece um estudo de caso de como a womenomics pode se materializar em política pública. Diante de uma população economicamente ativa em declínio, o país apostou nessa abordagem para desbloquear seu potencial. Investimentos em creches, flexibilização de licenças parentais e esforços para combater jornadas de trabalho exaustivas de 70 horas semanais foram implementados, com a ambiciosa meta de elevar o PIB nacional em 15%. Embora os avanços não sejam lineares – o Japão chegou a cair no ranking global de equidade de gênero –, a experiência demonstra que posicionar as mulheres no centro não é apenas uma questão de justiça, mas uma estratégia vital.
No setor privado, um exemplo de womenomics vem do redirecionamento do foco no design de processos de fundo de venture capital. Trata-se do Village Capital, ligado a uma organização sem fins lucrativos com raízes em New Orleans, EUA, que reestruturou seu modelo de decisão de investimento implementando a avaliação entre pares em suas rodadas de aceleração. O resultado foi notável: embora representassem apenas 15% dos participantes, as empreendedoras passaram a receber entre 30% e 40% das indicações de investimento. Um ajuste aparentemente simples na metodologia de decisão abriu caminho para talentos que, antes, eram sistematicamente subavaliados.
Um convite ao novo paradigma no Brasil
A womenomics tem um potencial gigantesco – um relatório de 2015 da McKinsey calculava que, quando fosse priorizada, a womenomics poderia acrescentar US$ 12 trilhões a US$ 28 trilhões ao PIB mundial anual. Mas priorizá-la remete a uma mudança fundamental de mentalidade e de prática. Significa reavaliar os critérios de sucesso, repensar a tomada de decisões e adotar um olhar mais apurado para as diferenças que verdadeiramente importam. Uma premissa se aplica a empresas de todos os portes e setores.
É precisamente sobre esses temas que o evento Mulheres Inspiradoras Academy, uma iniciativa da HSM em parceria com o movimento Mulheres Inspiradoras, se debruçará no próximo dia 3 de outubro de 2025, em São Paulo. A proposta vai além da inspiração: trata-se de uma imersão de mais de 12 horas, com conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata no ambiente profissional.
Destinado a mulheres em posições de liderança – ou prestes a alcançá-las -, o encontro possui vagas limitadas e uma programação meticulosamente desenhada para preparar executivas que almejam não apenas ocupar espaço, mas transformar a maneira como as organizações decidem, inovam e crescem.
Em última análise, a womenomics não busca provar o “valor” das mulheres, mas sim reconhecer que nenhuma sociedade ou empresa pode se dar ao luxo de desperdiçar metade de seu talento. Outubro se apresenta como uma oportunidade ímpar para quem busca acelerar esse processo transformador.
MÉTRICAS DA WOMENOMICS
- Participação na força de trabalho: Quanto maior o número de mulheres atuando na economia formal com empregos remunerados, maiores as oportunidades de negócios e a tendência ao crescimento econômico.
- Avanço dos níveis educacionais: Em muitas partes do mundo, as meninas já têm melhor desempenho acadêmico do que os meninos e mais mulheres se graduam. E isso deve se intensificar. No Brasil, dados do IBGE do Censo 2022 e da PNAD mostram que 20,7% das mulheres com 25 anos ou têm o ensino superior completo, ante 15,8% dos homens.
- Poder de compra: O poder de compra global das mulheres, uma vez que elas tomam 80% das decisões de compra, é estimado em pelo menos US$ 25,5 trilhões.
- Gap de remuneração: Mulheres que trabalham em período integral nos EUA ganham 17% menos que os homens em 2025.
- Economia do cuidado: Ainda cabe mais às mulheres que aos homens e, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é indispensável ao bem-estar dos indivíduos. Calcula-se que se o cuidado fosse remunerado, representaria entre 9% e 13% do PIB mundial (e do PIB de cada país).
- Mulheres empreendedoras: Mesmo com os desafios óbvios de obter capital, reports calculam que haja entre 250 milhões e 300 milhões de mulheres empreendedoras em 2025, entre negócios formais e informais. (O Global Entrepreneurship Monitor listava 128 milhões de negócios formais liderados por mulheres).
- Mulheres e tecnologia: Esse setor apresenta potencial para virar o jogo tanto a favor das mulheres como da economia global; hoje entre 26% e 28% dos empregos tecnológicos são ocupados por mulheres.