Empreendedorismo
6 min de leitura

Cadê a intencionalidade que tava aqui? Ou deveria estar

A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.
Empreendedora premiada e apaixonada por educação, Isabela Corrêa é especialista em transformar desafios em inovação. Com mais de 10 anos de experiência em consultoria estratégica e 6 anos dedicados ao empreendedorismo em Educação Corporativa e RH, liderou a edtech B.Nous, reconhecida pelo Startup Awards, e realizou um exit estratégico em 2023. Hoje, à frente da People Strat, conecta aprendizado, propósito e inovação para criar soluções humanas e fora da caixa. É embaixadora de Lifelong Learning no hub Learning Village, onde atua pelo segundo ano consecutivo. Formada em Engenharia de Produção e mestre em Educação e Políticas Públicas pela UFRJ, é referência no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, inovação em educação e uso de novas tecnologias.

Compartilhar:

Ideias, organização

Ao longo da minha jornada como empreendedora e facilitadora de soft skills, uma pergunta ressoa na minha mente há anos: Como tomamos melhores decisões a respeito da nossa carreira – e por que não da nossa vida? Essa pergunta me levou a refletir profundamente sobre o papel da intencionalidade no desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas.

Começando a reflexão do início, tenho uma grande crítica ao modelo tradicional de educação, no qual não somos ensinados a ser críticos, a nos conhecermos verdadeiramente e a decidir nosso próprio caminho. Muitas vezes, as escolhas são influenciadas por pessoas ao nosso redor, mesmo quando começamos a desenvolver capacidades cognitivas para tomar decisões por conta própria. Esse cenário se torna especialmente desafiador no momento de escolher a faculdade, uma decisão que pesa desproporcionalmente na vida de um adolescente. Muitos jovens acreditam que essa será sua última grande decisão, esquecendo que, na verdade, continuamos a tomar decisões diariamente que moldam nosso futuro.

Então, como fazemos melhores escolhas para o nosso crescimento e desenvolvimento profissional? Continuamos a enfrentar decisões que impactam nossas carreiras, desde a escolha da empresa onde trabalhamos, a forma como nos apresentamos no ambiente profissional, a rotina diária, os projetos que escolhemos ou deixamos de lado, e até mesmo quando decidimos dizer “não” para a liderança ou pedir mudanças para outras áreas. O problema de tomar decisões está sempre presente, e é aí que a intencionalidade se torna crucial. A intencionalidade faz com que uma decisão hoje gere externalidades positivas no futuro; quando tenho uma intenção clara no processo de aprendizagem, minhas ações se tornam muito mais conscientes.

E a consciência, por sua vez, ajuda porque, na hora do desafio, da mudança inesperada ou da incerteza, eu consigo tomar melhores decisões porque estou consciente da intenção inicial, e assim não deixo a vida me levar. Imagine a intencionalidade como o leme de um barco. Sem um leme firme e direcionado, o barco pode ser levado pelas correntes e ventos, sem um destino claro. Da mesma forma, sem intencionalidade, nossas ações e decisões podem se dispersar, resultando em resultados imprevisíveis e, por vezes, desfavoráveis.

A intencionalidade é o que transforma decisões cotidianas em passos estratégicos rumo a um futuro desejado. Seja decisões de trabalho, de aprendizagem ou do dia a dia. Este artigo explora como a intencionalidade pode ser o elemento central no desenvolvimento profissional e pessoal, capacitando líderes e gestores a tomarem decisões mais assertivas e conscientes.

Como é isso de intencionalidade no ambiente corporativo? E na liderança?

Liderar com intencionalidade, para mim, significa moldar a cultura organizacional de forma consciente e deliberada. Eu realmente acredito que a intencionalidade na liderança envolve a criação de espaços onde os colaboradores se sentem valorizados, ouvidos e motivados a contribuir com o melhor de si, promovendo assim um ciclo virtuoso de desenvolvimento e sucesso organizacional. E sabe o que é mais importante para fazer isso acontecer na prática? Abrir espaço para fazer perguntas.

Exemplo Hipotético: Imagine uma empresa que enfrenta o desafio de integrar uma equipe diversificada com diferentes valores e expectativas. Um líder intencional poderia implementar sessões semanais de alinhamento cultural, onde não apenas metas e resultados são discutidos, mas também valores pessoais e como eles se conectam com os objetivos da empresa. Essa abordagem consciente não apenas fortaleceria o senso de pertencimento da equipe, mas também incentivaria uma comunicação mais aberta e colaborativa. Você teria coragem de fazer isso? O que faria?

Aqui deixo uma provocação para vocês: De que maneira você pode, como liderança, alinhar suas ações diárias com os valores que deseja ver no seu time ou na sua organização? Ao direcionar a cultura organizacional com intencionalidade, os líderes não apenas inspiram suas equipes, mas também estabelecem um ambiente propício para inovação, resiliência e crescimento contínuo. A intencionalidade na liderança envolve ações deliberadas que refletem os valores e a missão da organização, garantindo que cada membro da equipe esteja alinhado e comprometido com os objetivos comuns.

E qual o real impacto quando incorporamos a intencionalidade no ambiente de trabalho?

Bom, primeiro é preciso entender que, quando falamos de intencionalidade, falamos de decisão, ou melhor decisões, no plural. E aí, caros leitores, é que o bicho pega – não é mesmo? No mundo corporativo, a capacidade de tomar decisões com intenção é uma habilidade essencial que distingue líderes eficazes daqueles que apenas reagem às circunstâncias. Decisões intencionais são aquelas guiadas por uma clareza de propósito e alinhadas com objetivos estratégicos de longo prazo, em vez de serem impulsionadas por pressões imediatas ou circunstâncias externas.

Compartilho aqui um exemplo pessoal que reflete o que quero dizer. Em 2023, durante o processo de captação de recursos para a minha primeira edtech, iniciei um processo no mercado tradicional de venture capital. Depois de alguns “sim” e alguns “não”, percebi que meus sócios e eu não estávamos exatamente alinhados em termos de intenção no longo prazo. Muitos dos investidores com quem conversei naquele momento não estavam dispostos a assumir o risco necessário para uma edtech e, principalmente, não compartilhavam a intenção de construir algo a longo prazo, o que considero fundamental na educação. Voltei à minha intenção inicial com o processo de captação, que era dar continuidade a um projeto que ainda queria testar hipóteses e explorar caminhos não trilhados. Com isso em mente, entendi que não deveria me prender ao caminho inicialmente escolhido – o venture capital -, mas considerar outras alternativas, como um M&A, que poderiam me levar ao mesmo resultado e ainda além. Assim, decidi pela venda em julho daquele ano, mantendo minha intenção e não me prendendo ao caminho pré-estabelecido. Essa foi a melhor decisão porque me mantive fiel à minha intenção, resultando em uma transação que refletia meus valores e objetivos de longo prazo.

Provocação: Você está sendo fiel às suas intenções ou está preso aos caminhos que escolheu?

E no desenvolvimento pessoal: qual o papel da intencionalidade?

Para finalizar, mas não menos importante, quando falamos de intencionalidade no desenvolvimento pessoal, estamos nos referindo à clareza sobre o porquê queremos nos desenvolver, para que queremos isso e onde queremos chegar com esse desenvolvimento. Essa clareza pressupõe um profundo autoconhecimento, que é a base para qualquer processo de crescimento efetivo. O autoconhecimento permite que você alinhe suas ações com seus valores pessoais, garantindo que suas decisões reflitam quem você realmente é e o que deseja alcançar. Sem essa clareza, as decisões se tornam soltas e desconectadas, levando ao desengajamento e à falta de propósito no processo de aprendizado contínuo. Você já deve ter passado por alguns processos como esse que descrevi de desengajamento, não?

Eu realmente acredito que a intencionalidade nasce desse profundo entendimento de si mesmo, permitindo sermos pessoas e profissionais mais autênticos e resilientes. Não à toa, eu costumo dizer que o primeiro passo para levar o lifelong learning à prática é a autorreflexão sobre si mesmo, seus objetivos e desejos. Essa autorreflexão é essencial para criar um processo de aprendizagem que realmente te ajude a alcançar suas metas pessoais e profissionais. Sem intenção e decisões alinhadas com essa clareza, é fácil perder o foco e se desengajar do desenvolvimento contínuo. A intencionalidade, portanto, não apenas orienta nossas escolhas de aprendizado, mas também mantém nosso engajamento e motivação ao longo da jornada.

Não é a chave para tudo, mas é o começo de tudo!

A intencionalidade emerge como um pilar fundamental no desenvolvimento profissional e pessoal, capacitando líderes, profissionais e gestores a tomarem decisões mais conscientes e alinhadas com seus objetivos de longo prazo. Ao integrar intencionalidade na nossa vida e em nossas tomadas de decisão, transformamos nossas carreiras e criamos culturas organizacionais mais resilientes e inovadoras. Eu diria que cultivar a intencionalidade é, portanto, investir em si e nos outros à nossa volta. É garantir um mínimo de paz de espírito. É o alicerce para retomar o fôlego quando acordamos sem disposição ou quando uma decisão chega atravessada na nossa vida. É necessária para a construção de um futuro sustentável e próspero, tanto para nós mesmos quanto para as nossas organizações.

Compartilhar:

Empreendedora premiada e apaixonada por educação, Isabela Corrêa é especialista em transformar desafios em inovação. Com mais de 10 anos de experiência em consultoria estratégica e 6 anos dedicados ao empreendedorismo em Educação Corporativa e RH, liderou a edtech B.Nous, reconhecida pelo Startup Awards, e realizou um exit estratégico em 2023. Hoje, à frente da People Strat, conecta aprendizado, propósito e inovação para criar soluções humanas e fora da caixa. É embaixadora de Lifelong Learning no hub Learning Village, onde atua pelo segundo ano consecutivo. Formada em Engenharia de Produção e mestre em Educação e Políticas Públicas pela UFRJ, é referência no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, inovação em educação e uso de novas tecnologias.

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)