Uncategorized

Carta de despedida

Seu produto melhora ou piora a qualidade de vida de quem o usa? Se ele a piora, por que você o produz? Poderia aprimorá-lo? Ou, se isso for impossível, por que não muda de ramo?
O filósofo Renato Janine Ribeiro deixa a coluna para assumir o Ministério da Educação, pasta que nós, da HSM, julgamos a mais importante de todas. Ele fez questão de escrever para a revista este último texto. Nós lhe desejamos boa sorte.

Compartilhar:

Foi breve minha participação nesta revista. Fiz planos. Sentirei falta. Falar de ética no ambiente das empresas é difícil, daí sua importância. Pela simples razão de que empresas se movem pelo lucro, pelo “instinto animal” de que tratava Schumpeter, enquanto a ética vê com maus olhos isso que é o sangue mesmo do capitalismo. 

Não estou dizendo que o capitalismo é antiético. Simplesmente, o motor da economia está em conflito com o da ética. Ora, conflitos são o combustível de nossa vida. Fingir que não existem é o pior que podemos fazer. Por isso, identificá-los deve ser sempre o ponto de partida. Não há economia que funcione, em nossa sociedade, sem o lucro. No entanto, o lucro desregulado cria mais problemas do que resolve. Daí que as sociedades domestiquem o instinto animal. Daí que regulem a operação das empresas. Daí que incentivem o lucro dentro da lei e castiguem a ganância contrária à lei. 

Um exemplo é fácil: a degradação ambiental. Lucrar à custa da destruição do meio ambiente é causar um enorme passivo na natureza. O lucro imediato de uns poucos se torna um prejuízo imenso para a maioria. Assim, a absurda ocupação das margens dos rios e dos vales de córregos, em São Paulo, causa um mix de inundações e secas que nos penaliza duramente e que apenas será revertido a custo econômico bastante alto. 

Mas você notou que o exemplo mais fácil diz respeito à natureza, não à vida social? E por que é mais fácil falar da devastação natural do que dos desastres sociais? Na verdade, até mesmo a postura errada no local de trabalho tem custos de saúde enormes. Será mais fácil ter pena da natureza, do “verde”, do que sentir respeito e solidariedade por outro ser humano? Será isso porque a natureza é mensurável e dá para pensá-la mais em termos de insumos, enquanto o ser humano é mais complexo, menos mensurável? 

Se quisermos que as empresas sejam éticas, é preciso que não se preocupem apenas com devolver aos rios a água que deles captaram tão limpa, ou mais ainda, do que quando a retiraram. É preciso que pensem no bem-estar de seus trabalhadores, clientes e da sociedade em geral. Têm de acabar com a poluição, mas também é preciso que os seres humanos que produzem ou compram seus produtos ganhem –e não percam– com isso. 

Pergunta simples: seu produto melhora ou piora a qualidade de vida de quem o usa? Se ele a piora, por que você o produz? Poderia aprimorá-lo? Ou, se isso for impossível, por que não muda de ramo? Uma sociedade exigente em termos de qualidade de vida há de cobrar isso cada vez mais. E uma sugestão bem simples: hoje, sabemos que a melhor alimentação é de três em três horas. 

Em vez de café da manhã, almoço e jantar, várias refeições leves e com esse intervalo. Entretanto, não há empresa que se tenha programado para isso. Não está na hora de começar? Não será bom ter funcionários com maior bem-estar físico e mental? Pensemos, todos, em como melhorar o mundo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)