Cultura organizacional

Franchising, varejo e cultura: de gestor para gestor

Para criar uma cultura de franchising sólida, a empresa deve ter clareza de papéis e responsabilidades de todas as partes envolvidas na cadeia. E isso só é possível a partir da orquestração de conhecimento técnico específico, engajamento das partes envolvidas e decisão estratégica de fazer dar certo
Ana Flavia Martins é diretora executiva de franquias da Algar Telecom, empresa brasileira de telecomunicações. Tem experiência de 28 anos como executiva em negócios, franquias, varejo, marketing e estratégia empresarial com liderança de unidades e projetos de negócios e equipes multiskills. Entusiasta por novos modelos de negócios, inovação em varejo, tendências e tecnologia.

Compartilhar:

Engajamento dos franqueados, gestão de pessoas nas operações, consultoria de campo efetiva, vantagem competitiva e posicionamento, evolução do digital, conflito de canais, eficiência versus crescimento e cultura de franchising. Esses são os principais desafios de gestores de unidades de negócios de franchising e varejo, segundo a *Franchising Frame*, estudo realizado pela Práxis Business e Grupo MD, em novembro de 2022.

E, claro, esses são também os meus principais desafios diários à frente de uma rede de negócios de franquias e varejo.

Há seis anos assumi a missão de liderar a criação, implementação e gestão do primeiro modelo de negócios de franquias de telecom do Brasil: o Algar Telecom Franquias. Quando criamos o modelo eu realmente não imaginava tudo que viria pela frente. E olha, foram muitos momentos e muitos aprendizados em cada um deles.

Hoje, o Algar Franquias é composto por 30 clusters em 93 cidades do Brasil servindo quase 200 mil clientes com serviços de banda larga, fibra óptica e tecnologia celular. Já são mais de 600 mil clientes e diariamente lidamos com as dificuldades e oportunidades de orquestrar esse ecossistema de negócios para tudo isso funcionar.

E mais do que compartilhar meus desafios e como os superei, vamos trazer aqui, neste espaço, a experiência dos colegas do setor, de outras franqueadoras e empresas de varejo em várias outras redes de negócios com atuação no Brasil.

## Cultura de franchising
Um dos nossos maiores desafios no Algar Franquias é criar uma cultura de franchising sólida, com clareza de papéis e responsabilidades de todas as partes envolvidas na cadeia. Isso parece simples ou secundário, mas posso dizer por experiência própria que é uma construção lenta e gradativa que é capaz de mudar totalmente o jogo quando está sedimentada.

Em muitas franqueadoras o modelo de franquias vem depois que a empresa já tem uma atuação direta madura e consolidada no mercado. Então o modus operandi já está consolidado e o mindset de todos da organização programado para operar de um modo já conhecido e testado.

Quando surge algo novo – como um modelo de negócios de franquias – toda a organização, com a melhor das intenções, fica buscando encaixar esse “novo” no repertório de negócios que já possui. Nesse contexto, termos como “parceiros” ou “terceiros” costumam ser atribuídos aos franqueados o que, muitas vezes, faz com que tanto a franqueadora quanto o franqueado se comportem como tal.

As consequências desse posicionamento é que a empresa pode deixar de usufruir dos benefícios singulares que o modelo de franchising traz: legislação específica, completa e atualizada que protege a empresa de riscos trabalhistas, fiscais e tributários, por exemplo.

Também corre o risco de abrir mão de um modelo de gestão holístico com papéis e processos claros e indicadores de performance que mensuram resultados 360º (e não apenas de uma dimensão do negócio), ou não exercitar o poder da empresa de transferir know-how fazendo com que a rede de negócios de franchising opere exatamente no mesmo padrão da franqueadora potencializando sua presença e crescimento acelerado no mercado.

Como resolver isso? Desculpe, mas, como quase tudo em negócios, não existe resposta única e padronizada. Na minha experiência, buscando criar uma cultura forte de franchising, algumas iniciativas são muito importantes.

Vamos a elas de forma bem didática:

1. Envolver as pessoas – o quanto antes – na construção e definição do modelo de negócios e dos papéis e responsabilidades de todas as partes.
2. Trazer especialistas em franchising com credibilidade para ensinar às pessoas chave da empresa (lideranças, equipes da franqueadora e franqueados) as especificidades desse modelo – legislação, gestão e benchmarks do mercado.
3. Manter uma proximidade forte com as áreas de RH e jurídico da empresa tornando-as parcerias fundamentais na construção da cultura de franchising.
4. Ter uma gestão estruturada com conselho, comitês temáticos, papéis descritos, manuais formais e processos padronizados.
5. E, por fim e sempre fundamental: ter o entendimento e apoio das principais lideranças da empresa para gerar atenção e engajamento dos funcionários e franqueados.

Fácil? Nunca é. Estamos sempre em construção.

Mas é totalmente possível, a partir da orquestração de conhecimento técnico específico, engajamento das partes envolvidas e decisão estratégica de fazer dar certo. Nenhum negócio novo nasce totalmente pronto. A sensação é sempre de startup. O que é ótimo para nos manter sempre alertas e abertos ao novo.
Com o tempo, trabalho consistente e resiliência acima de tudo, o modelo tradicional da empresa vai absorvendo a riqueza e as oportunidades que só um modelo de franchising pode trazer aos negócios. É preciso começar e persistir.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
7 de outubro de 2025
O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.

Natalia Ubilla, Diretora de RH no iFood Pago e iFood Benefícios

7 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
Ser CEO é mais que ocupar o topo - para mulheres, é desafiar estereótipos e transformar a liderança em espaço de pertencimento e impacto.

Giovana Pacini, Country Manager da Merz Aesthetics® Brasil

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
A IA está redefinindo o trabalho - e cabe ao RH liderar a jornada que equilibra eficiência tecnológica com desenvolvimento humano e cultura organizacional.

Michelle Cascardo, Latam Sr Sales Manager na Deel

5 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de outubro de 2025
Na indústria automotiva, a IA Generativa não é mais tendência - é o motor da próxima revolução em eficiência, personalização e experiência do cliente.

Lorena França - Hub Mobilidade do Learning Village

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1º de outubro de 2025
No mundo pós-IA, profissionais 50+ são mais que relevantes - são pontes vivas entre gerações, capazes de transformar conhecimento em vantagem competitiva.

Cris Sabbag - COO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)