Tecnologia & inteligencia artificial
4 minutos min de leitura

IA Generativa: comece pelo problema, não pela solução

Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.
Profissional com mais de 20 anos de experiência na área de Dados, com foco em Inteligência Artificial e Machine Learning desde 2013. É mestre e doutorando em Inteligência Artificial pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ao longo da carreira, passou por grandes empresas como Microsoft, Deloitte, Bayer e Itaú. Neste último, liderou a estratégia de migração da plataforma de IA para a nuvem, entregando uma solução de desenvolvimento de IA fim a fim para todo o banco.

Compartilhar:


A Inteligência Artificial (IA) Generativa chegou com força e rapidez. Hoje, criar textos, imagens, músicas e até códigos com um simples comando se tornou algo natural. Com isso, cresceu também a ideia de que “dá para usar IA para tudo”. Mas será que estamos realmente resolvendo problemas com IA ou só usando porque está na moda?

Para mostrar como estamos dependentes dessa tecnologia, no último mês de outubro o jornalista AJ Jacobs escreveu um artigo para o The New York Times relatando sua experiência de passar 48 horas sem usar Inteligência Artificial. Ele descobriu que quase tudo ao seu redor, como energia, água, roupas, pagamento de contas, por exemplo, depende de algum tipo de ferramenta que utiliza a tecnologia.

Embora grande parte da infraestrutura dependa de algoritmos e modelos de aprendizado de máquina para prever, classificar e otimizar processos, o experimento evidencia o quanto estamos imersos em tecnologias automatizadas. A IA Generativa, porém, é apenas a camada mais recente e visível dessa nova realidade, não por sustentar a infraestrutura, mas por chegar diretamente ao usuário final. Por isso, muitas vezes criamos a impressão de que tudo é IA Generativa ou de que podemos aplicá-la a qualquer tipo de problema.

Inclusive, não é raro ver, em reuniões de negócios, executivos se referirem à IA Generativa simplesmente como “IA”. Isso ocorre principalmente porque é por meio da IA Generativa que eles têm alcançado os usuários de forma mais tangível – embora, há muitos anos, já utilizem a chamada “IA clássica”.

A “armadilha” está justamente na forma como passamos a utilizá-la e em avaliar se ela é realmente necessária. Afinal, para muitos desafios, existem diversas abordagens possíveis, e a melhor solução nem sempre envolve recorrer à IA, e menos ainda, à IA Generativa.

Escolher a ferramenta antes de entender o problema

A IA, em sua essência, é apenas uma ferramenta, e cada tipo de ferramenta é projetada para finalidades específicas. O erro mais comum que observamos hoje é justamente inverter essa lógica: escolher a tecnologia antes de compreender o problema.

Essa inversão é perigosa e costuma gerar três consequências previsíveis, como desperdício de recursos, excesso de ruído informacional e, inevitavelmente, frustração. Por isso, é fundamental distinguir os diferentes tipos de IA para aplicar a solução adequada:

● Aprendizado de Máquina: voltado a prever, classificar, identificar padrões e otimizar processos. Exemplos incluem detecção de fraudes, sistemas de recomendação, previsão de demanda e diagnósticos por imagem.

● Inteligência Artificial Generativa: destinada a criar, resumir, traduzir, sintetizar e gerar novos conteúdos. Exemplos: produção de textos, geração de imagens e vídeos, desenvolvimento de código e simulações de cenários.


Se o objetivo é prever a inadimplência de um cliente, o caminho é um modelo de aprendizado de máquina. Se a necessidade é resumir um relatório de 50 páginas, aí sim a IA Generativa é a ferramenta adequada.

O problema deve sempre vir antes da tecnologia, pois partir da tecnologia primeiro nos leva ao movimento inverso e faz com que procuremos um problema que justifique seu uso, em vez de buscar uma solução que atenda à necessidade real.

O letramento digital

A presença da IA em modelos generativos ou em sistemas tradicionais faz com que o letramento digital ganhe ainda mais importância. Não se trata apenas de dominar ferramentas como ChatGPT ou Midjourney, mas de desenvolver uma compreensão muito mais profunda sobre o papel, o alcance e os limites dessas tecnologias.

Cultivar discernimento para identificar quando seu uso é, de fato, a solução adequada e, sobretudo, reconhecer quando não é. Envolve também a capacidade crítica de interpretar vieses, limitações e a própria natureza probabilística das respostas que esses sistemas entregam.

A formação e a capacitação contínua são as únicas formas de garantir que a IA Generativa seja utilizada como um copiloto e não como um piloto automático de nossas vidas e negócios. Precisamos de profissionais e cidadãos capazes de formular as perguntas certas e de avaliar criticamente as respostas, garantindo que a tecnologia sirva ao nosso propósito, e não o contrário.

Estamos apenas no início da era da IA. A euforia passará, e o que vai restar será a necessidade de construir soluções reais para problemas reais. Para isso, precisamos de clareza, estratégia e, acima de tudo, a humildade de reconhecer que a melhor tecnologia é aquela que resolve o problema, independentemente de quão “inteligente” ou “generativa” ela seja.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Imaginar como ato de reinvenção  

A pergunta “O que você vai ser quando crescer?” parece ingênua, mas carrega uma armadilha: a ilusão de que há um único futuro esperando por nós. Essa mesma armadilha ronda o setor automotivo. Afinal, que futuros essa indústria, uma das mais maduras do mundo, está disposta a imaginar para si?

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança