O tema diversidade já chegou as organizações está presente em relatórios de sustentabilidade ou ESG, mas o que é necessário para avançarmos neste tema?
Apenas falar sobre inclusão já não é suficiente. O mercado precisa enxergar que a neurodiversidade não é apenas uma pauta social, mas pode ser uma estratégia de valor, inovação e sustentabilidade. Cada vez mais, as organizações que desejam ser relevantes no futuro entendem que diversidade cognitiva é sinônimo de inteligência coletiva e também diferencial competitivo.
Contratação de pessoas neurodivergentes no Brasil
Cada vez mais, empresas têm reconhecido o valor da diversidade e inclusão como pilares fundamentais para o crescimento sustentável e a inovação.
Nesse cenário, a contratação de pessoas neurodivergentes – como autistas, pessoas com TDAH, dislexia, entre outras condições – tem se mostrado um passo essencial rumo a ambientes de trabalho mais criativos, produtivos e humanos.
Mais do que uma pauta de responsabilidade social, a inclusão de pessoas neurodivergentes é uma estratégia inteligente de desenvolvimento humano e empresarial.
Um ponto importante
É comum ver a inclusão de pessoas autistas sendo justificada pelo argumento de que “são pessoas mais concentradas”, “mais inovadoras” ou “mais produtivas”. Mas esse tipo de discurso pode ser perigoso. Quando defendemos a inclusão apenas pela utilidade ou possível vantagem competitiva, reduzimos a pessoa unicamente ao que ela é capaz de entregar.
A inclusão não deve acontecer somente porque alguém pode performar mais, e sim porque todas as pessoas têm o direito de trabalhar, pertencer e serem reconhecidas. As pessoas com deficiência ou neurodivergencias, não devem ser consideradas heróis ou coitadinhos, mas sim como pessoas! O valor humano deve vir antes da produtividade. A performance será uma agradável consequência.
Pela lei de cotas, empresas com cem ou mais funcionários deveriam empregar entre 2% e 5% de pessoas com deficiência. Na prática, isso significaria ao menos 1 milhão de trabalhadores formais. A realidade é outra: pouco mais de 500 mil vínculos ativos foram registrados em 2023, segundo o Ministério do Trabalho. Metade da meta nunca saiu do papel, deixando pessoas talentosas fora da formalidade.
A face invisível da exclusão
Entre as diferentes deficiências, há uma dimensão ainda mais invisível: a das pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). Não é incomum encontrar profissionais autistas altamente qualificados, como programadores, analistas de dados, designers, pesquisadores, que nunca ultrapassaram a barreira da entrevista de emprego. O problema não está na competência técnica, mas nas normas sociais implícitas, em processos seletivos engessados e na ausência de ambientes adaptados.
De acordo com o The Office for National Statistics mostra que apenas 22% dos adultos autistas estão empregados em algum tipo de emprego. É um índice que escancara o paradoxo: enquanto empresas clamam por inovação e diversidade de pensamento, continuam excluindo justamente aqueles que poderiam oferecer novas perspectivas.
Não se trata apenas de cumprir uma lei. Trata-se de reconfigurar a cultura organizacional. Incluir pessoas autistas e pessoas com deficiência em geral, significa repensar reuniões, flexibilizar rotinas, adaptar sistemas de comunicação e reconhecer talentos que muitas vezes não se expressam pelos mesmos códigos sociais.
Pesquisas da Harvard Business Review mostrou que equipes diversas são 20% mais eficientes em inovação. Isso não acontece por acaso, a diversidade cognitiva, de modos de pensar, processar informações e resolver problemas amplia as possibilidades de resposta em cenários cada vez mais incertos. O autismo, nesse contexto, não é apenas um diagnóstico clínico, mas uma lente que enriquece o repertório coletivo.
Do relatório à vida real
É nesse ponto que se distingue o discurso da prática. Empresas que transformam não apenas entregam resultados melhores, mas também constroem uma sociedade mais justa. A inclusão de autistas e de pessoas com deficiência não pode se limitar a relatórios ou a fotos em campanhas de marketing. É preciso desenhar ambientes onde todos possam não apenas estar presentes, mas contribuir, crescer e prosperar.
Inclusão é a certeza de um futuro próspero para todos
O Presidente Global da Specialisterne, Ramon Bernat, tem uma fala que eu gosto muito de lembrar quando ele diz que trabalhar com pessoas neurodivergentes nos desafia a sermos mais efetivos, a ter uma comunicação mais clara e transparente, e nos transforma a cada dia em seres humanos mais empáticos e verdadeiramente humanos.
Entender a neurodiversidade como estratégia é o segredo para inclusão que impulsiona inovação dentro das corporações. Empresas que abraçam a neurodiversidade constroem o futuro mais próspero e humano.
Finalizo dizendo que a neurodiversidade é o presente que transforma o futuro. E as organizações que entenderem isso hoje estarão um passo à frente amanhã.




