Gestão de Pessoas

O que a biologia tem a ver com a felicidade no trabalho?

Os benefícios de pessoas que trabalham felizes são indiscutíveis – então por que muitas empresas não conseguem ter colaboradores realmente realizados?
Flávia Lippi é jornalista científica, empreendedora social, pesquisadora e criadora de conteúdos sobre neurociências e comportamento aplicado à pessoas e organizações, saúde mental, gestão emocional e inovação nas relações de trabalho. Publicou 13 livros e 8 best-sellers. Criou o método e plataforma A EQUAÇÃO.

Compartilhar:

A questão da felicidade no trabalho vem sendo discutida há algum tempo, e com razão. De acordo com um estudo do Gallup, empresas com funcionários felizes têm um índice 50% menor em acidentes de trabalho. Além disso, trabalhadores que se sentem realizados geram mais produtividade, colaboração, criatividade e inovação.
Um estudo da Harvard Business Review mostra que a felicidade impacta diretamente a produtividade, a eficiência e a inovação de uma empresa. A pesquisa revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.

Na Dinamarca, em 2013, surgiu o diretor de felicidade (CHO, “chief happiness officer”) para olhar para a questão da felicidade dentro do ambiente de trabalho. A ideia é que, da mesma maneira que existem o CEO, o CFO e tantos outros cargos, também deve existir um profissional dedicado ao bem-estar das pessoas da empresa.

Então, se existe tanto investimento, há tanto tempo e tanta gente pesquisando sobre esse assunto, por que as empresas não têm sucesso na busca da felicidade?
O que acontece é que, de modo geral, as empresas investem em apenas um aspecto da felicidade e esquecem o outro. Muitas delas, por exemplo, oferecem escritórios abertos, despojados, colaboradores livres para vestirem o que desejam, comidinhas e frutas fresquinhas, videogame e mais um monte de regalias.

Mas o problema é que tudo isso está relacionado a apenas um aspecto da felicidade, a felicidade imediata dos prazeres cotidianos. Mas e a felicidade genuína, que tem relação com os valores pessoais? Segundo cientistas, como o psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, esse é um dos pontos que traz felicidade a longo prazo na vida.

As empresas não sabem ainda como fazer isso. Até falam de propósito, missão, valores. Mas isso tem relação de fato com a vida dos colaboradores?

Se você é líder de uma equipe, pergunte a si mesmo: a sua equipe está engajada? Sua empresa incentiva que os colaboradores levem para dentro dos projetos a visão de mundo e os valores que têm em suas próprias vidas? Eles veem sentido no que está sendo desenvolvido? Estão sendo desafiados diariamente?

Sem isso, não há sentimento de pertencimento. Sem pertencimento, não há engajamento. É dessa sensação de pertencimento que a gente está falando quando se fala em felicidade nas empresas.

É justamente isso que fica fora do radar de muitos gestores. Para pertencer, é preciso confiar.

## A biologia da confiabilidade
A maior referência sobre esse assunto é o neurocientista Paul Zak, um pesquisador da Universidade de Claremont, nos Estados Unidos. O objetivo principal da pesquisa era descobrir maneiras de tornar as pessoas mais colaborativas. Aprofundando-se nesse tema, ele chegou à conclusão que a felicidade, e os hormônios relacionados à felicidade, modulam grande parte dos nossos comportamentos.

Quando estamos falando da felicidade a longo prazo, talvez o componente biológico mais importante seja a ocitocina. Os pesquisadores perceberam que esse hormônio está ligado a todo tipo de interação social que forma laços afetivos entre as pessoas. A ocitocina é produzida e liberada na nossa corrente sanguínea sempre que temos um estímulo social positivo, como encontrar os amigos, passar tempo com colegas de trabalho, familiares, e pessoas queridas.

As pesquisas do laboratório de Zak mostram que a ocitocina está relacionada com a empatia e a vontade de ajudar outras pessoas. Ele tem um experimento revolucionário, que mostra que existe uma correlação direta entre a ocitocina liberada na corrente sanguínea e a confiança entre as pessoas. Zak chama esse fenômeno de biologia da confiabilidade.

É como se o nosso próprio corpo e o nosso cérebro incentivassem comportamentos colaborativos baseados na confiança mútua. Para pertencer, é preciso estar em um local onde se possa confiar nos outros.

Ser feliz e ter sentimentos de bem-estar protege o nosso corpo. Se você anda se sentindo desconectado das pessoas, estressado e esgotado, uma boa dica é olhar como estão as suas relações e se o seu local de trabalho é um lugar que inspira confiança.

Para conferir o experimento em detalhes, confira a palestra de Zak [aqui](https://www.ted.com/talks/paul_zak_trust_morality_and_oxytocin).

Compartilhar:

Artigos relacionados

Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
Ser CEO é mais que ocupar o topo - para mulheres, é desafiar estereótipos e transformar a liderança em espaço de pertencimento e impacto.

Giovana Pacini, Country Manager da Merz Aesthetics® Brasil

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
A IA está redefinindo o trabalho - e cabe ao RH liderar a jornada que equilibra eficiência tecnológica com desenvolvimento humano e cultura organizacional.

Michelle Cascardo, Latam Sr Sales Manager na Deel

5 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de outubro de 2025
Na indústria automotiva, a IA Generativa não é mais tendência - é o motor da próxima revolução em eficiência, personalização e experiência do cliente.

Lorena França - Hub Mobilidade do Learning Village

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1º de outubro de 2025
No mundo pós-IA, profissionais 50+ são mais que relevantes - são pontes vivas entre gerações, capazes de transformar conhecimento em vantagem competitiva.

Cris Sabbag - COO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)