O conceito de trabalho como o conhecíamos está em transformação. A Geração Z, daqueles nascidos a partir de 1997, criou uma nova lógica de carreira. Em vez de buscar uma jornada linear, que começaria com o estágio na profissão escolhida e seguiria subindo na mesma área degrau por degrau em um emprego tradicional, essa nova geração modificou tudo: Desde carreiras multi-áreas até a escolha pelo empreendedorismo, com a abertura de seus próprios negócios, sejam eles impulsionados por identificação, pela necessidade de construir uma fonte de renda extra ou uma vida com a sonhada autonomia.
Essa guinada não é fruto apenas de um desejo por independência. Ela tem raízes em fatores econômicos, sociais e culturais. De um lado, o mercado formal ainda apresenta barreiras de acesso e inclusão para as mulheres, especialmente para aquelas que vêm de contextos periféricos. De outro, há uma geração cada vez mais conectada e disposta a transformar suas habilidades em oportunidade de negócio.
Também é uma geração com mais valores ligados a propósito e consciência socioambiental. A pesquisa “Think Consumer Goods”, conduzida pela consultoria Offerwise e divulgada pelo Google, mostra que 43% dos consumidores brasileiros já apontam a sustentabilidade como um fator determinante na decisão de uma marca. Quando olhamos especificamente para a Geração Z, esse número é ainda mais expressivo. Diversidade, inclusão e impacto social deixaram de ser diferenciais e se tornaram pré-requisitos.
Na prática, isso significa que os jovens desejam resolver problemas reais da sociedade, criar impacto positivo e, ao mesmo tempo, gerar renda. O relatório da Deloitte sobre essa faixa etária reforça esse cenário: 75% deles avaliam as ações sociais de uma empresa antes de aceitar um emprego e o mesmo critério vale na hora de empreender.
Novos formatos de negócio: dropshipping, creator economy e monetização digital
Além dos modelos tradicionais, há também o crescimento de formatos de negócio que se conectam diretamente com as características digitais dessa juventude. Por exemplo, o dropshipping, venda de produtos pela internet sem precisar manter um estoque próprio, se popularizou por exigir baixo investimento inicial e permitir uma operação 100% on-line
Outro fenômeno em expansão é a creator economy, ecossistema dos criadores de conteúdo digital que monetizam sua audiência por meio de plataformas. Muitos começaram sua jornada empreendedora como influenciadores nas redes sociais e, a partir dessa audiência, passaram a vender produtos, serviços ou experiências. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube se transformaram em vitrines e canais de venda. Há ainda um aumento nos negócios de impacto social. São empreendimentos que têm como objetivo central gerar mudança social ou ambiental, algo que se conecta com os valores dessa faixa etária. Não é coincidência que esse comportamento também se reflita na escolha dos modelos de negócio.
Uma geração que redefine o sucesso
Para essa geração, sucesso não se mede apenas por lucro. Ter flexibilidade de horário, trabalhar com o que gosta e fazer a diferença na vida das pessoas são métricas igualmente importantes. Esse novo olhar sobre o mercado de trabalho ainda tem gerado impacto.
O estudo da Deloitte mostra que os jovens não querem seguir carreiras lineares, como seus pais e avós. Eles buscam projetos multifuncionais, experiências variadas e ambientes inclusivos, onde possam aprender e contribuir desde o início. Além disso, preocupações como saúde mental e qualidade de vida são decisivas: 40% da Geração Z afirmam que o nível de estresse no trabalho influencia diretamente sua decisão de permanecer ou não em uma empresa.
Papel das redes de apoio
Ao longo da minha trajetória na Rede Mulher Empreendedora (RME), tenho visto cada vez mais mulheres mais novas buscando capacitação, mentoria e conexão com outras empreendedoras. Esses espaços de troca são fundamentais para o amadurecimento de ideias e o fortalecimento dos negócios dos dois lados.
Importante lembrar que não podemos romantizar o empreendedorismo: ele ainda é bastante difícil, especialmente para as pessoas que não nasceram privilegiadas. Também não podemos confundir empreendedorismo com a precarização do trabalho – como por exemplo transformar massas de trabalhadores CLT em “PJ” que recebem muito pouco pelo serviço e chamá-los de “empreendedores”. A grande maioria não teve muita escolha.
E ainda existem desafios como, por exemplo, o acesso a crédito, a profissionalização e a superação de preconceitos estruturais. Mas é inegável: essa geração chegou para transformar o cenário do empreendedorismo no Brasil. E o melhor que podemos fazer é abrir caminhos, oferecer ferramentas e, sobretudo, escutar o que o que eles têm a dizer.