Falar sobre luto ainda é desconfortável. No ambiente corporativo, então, o silêncio costuma ser ainda maior. Entre metas, reuniões e prazos, esquecemos que a vida – e também a morte – não pedem licença para entrar. E quando entram, não há planejamento estratégico capaz de nos preparar.
Nos últimos meses, vivemos situações que nos lembraram disso com força. Estivemos presentes quando um funcionário faleceu a bordo de uma embarcação, acolhendo líderes e equipe que, isolados em alto-mar, precisavam encontrar palavras, gestos e força para seguir até seu desembarque. Acompanhamos também uma equipe diante da notícia de que um colega entraria em cuidados paliativos, ajudando-os a se preparar para uma despedida inevitável, mas carregada de afeto. E estivemos lado a lado de um líder que perdeu o filho para o suicídio – acolhendo não apenas ele, mas também sua equipe e família, em um momento de dor tão profunda que qualquer frase pronta pareceria pequena demais.
Essas experiências nos mostraram, mais uma vez, o quanto ainda não estamos preparados para lidar com o luto nas empresas. Quando a perda acontece, ela não fica do lado de fora. Ela senta nas cadeiras das reuniões, ocupa os corredores, interfere no ritmo, no olhar, na energia. O luto muda a atmosfera, mesmo quando não é nomeado.
E é justamente aí que mora a importância de criar espaços seguros de escuta. Lugares onde seja possível falar sobre o sofrimento, colocar a dor em palavras, permitir que o silêncio também seja um diálogo. Porque o luto não é ausência de vida – é parte dela.
Segundo estudos internacionais, quase um em cada nove profissionais enfrenta a perda de alguém próximo todos os anos. Metade deles deixa o emprego em até doze meses, muitas vezes por não encontrar apoio. E mais do que um número, isso é um retrato do quanto ignorar a dor no trabalho custa caro: não apenas em produtividade, mas em humanidade.
Por isso, contar com profissionais preparados – especialmente de fora da organização – é tão importante. Estar de fora permite escutar sem estar atravessado pelos vínculos e pela cultura interna. Permite oferecer presença segura, acolher sem projetar, sustentar o que precisa ser dito e, às vezes, apenas estar ali. Elisabeth Kübler-Ross, J. William Worden e, no Brasil, Maria Helena Franco nos lembram que o luto é singular, mas torna-se menos pesado quando é compartilhado.
Falar sobre luto nas empresas não é abrir espaço para tristeza sem fim. É abrir espaço para humanidade. É dizer: “Você não precisa passar por isso sozinho.” É compreender que cuidar de pessoas também significa estar presente nos momentos mais delicados, com a mesma atenção e compromisso que temos nos momentos de celebração.
Porque, no fim, é a forma como acolhemos a dor que revela a verdadeira força de uma cultura organizacional.