Diversidade

Quem treina o time da equidade?

No universo corporativo, assim como no esporte e nas dinâmicas sociais, deve-se contribuir para a formação de equipes mais eficientes, criativas e comprometidas, o que impulsiona o sucesso das empresas
Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.

Compartilhar:

Minha filha tem nove anos e participou, pela primeira vez, de um festival de mini handebol na escola. Ela já havia separado seu uniforme e a cartinha da convocação para o time há alguns dias, e fomos em peso torcer e incentivar sua atuação no esporte.

Logo no discurso de abertura, o técnico enfatizou a importância da diversidade e inclusão, explicando que a cada jogo teriam uma dinâmica com times mistos, entre os da casa e visitantes.

O festival começou mostrando os aprendizados durante os treinos, até que chegou a hora da minha filha jogar, e logo na sua vez, o técnico separou os coletes de tal forma que ela ficou sendo a única menina em campo. Um time de visitantes somente com meninos e ela, sendo a única em seu time da escola. Com dificuldades para receber a bola, ficou visivelmente decepcionada e desestimulada.

Assim como ocorre nas empresas, a diversidade de gênero é uma questão que vai além das palavras e das declarações oficiais. É preciso planejamento estratégico, sensibilidade e ação efetiva para promover uma cultura organizacional e entre times que valorize a igualdade de oportunidades para homens e mulheres.

Ao final do dia, já em casa, mostrei para minha filha o livro que acabei de lançar, Degrau quebrado, que aborda os obstáculos na carreira feminina. Tive a oportunidade de conversar com ela sobre as inúmeras vezes em que fui a única mulher em situações diversas e como isso impacta em nosso desempenho.

Foram muitas lições extraídas desse evento esportivo, e o que quero destacar aqui é a importância de se ter uma visão abrangente e uma compreensão profunda sobre as realidades vivenciadas pelas pessoas fora do ambiente empresarial, reconhecendo que a diversidade de gênero é apenas um aspecto de uma rede interconectada de desigualdades e assimetrias presentes na sociedade.

Na manhã do dia seguinte ao festival, escrevi ao técnico questionando sobre o discurso da abertura, quando foi reforçada a importância do esporte para o preparo em convívio em sociedade.

De fato, o jogo ao qual ela participou representa uma triste realidade com a qual eu também me deparo, especialmente em mercados profissionais pouco diversos. Faço um trabalho social há mais de cinco anos a respeito do tema, e meu último livro publicado aborda exclusivamente as problemáticas que nós, mulheres, enfrentamos por conta de assimetrias de gênero.

Ainda de acordo com a pesquisa, as “mulheres únicas” têm mais de 80% de chances de receber microagressões, em comparação aos 64% das mulheres como um todo. Elas ainda estão mais propensas a ter suas habilidades desafiadas, a ser submetidas a observações não profissionais e humilhantes, e a sentir que não podem falar sobre suas vidas pessoais no trabalho.

A pesquisa aponta ainda que a baixa representatividade feminina pode trazer problemas e impactar negativamente equipes e empresas. As mulheres que estão sozinhas têm 1,5 vez mais probabilidade de pensar em deixar o emprego.

Essas informações estão na página que minha filha leu, enquanto eu secava seus cabelos. Ao terminar, ela quis saber o que significava microagressões, e expliquei a ela dando como exemplo o sentimento que teve quando enfrentou a dificuldade dos meninos não passarem a bola.

O que ela sentiu é o que eu e milhares de mulheres sentimos ao sermos as únicas em ambientes assimétricos de gênero.

Como mãe e ativista do tema, meu papel é conscientizar e mudar (da forma que puder) a sociedade, para que tenhamos ambientes mais equânimes e justos, e para que possamos refletir sobre qual convívio e qual sociedade estamos preparando para nossas crianças.

No universo corporativo, é fundamental que os executivos cultivem uma visão além dos limites das empresas e dos cargos exercidos. Aprendizados da vida cotidiana podem oferecer valiosas lições para a construção de ambientes de trabalho mais inclusivos e diversificados, nos quais a equidade de gênero seja uma realidade palpável.

A criação de uma visão apurada além dos limites das empresas e dos cargos exercidos é fundamental para construir um futuro no qual a diversidade e a igualdade de gênero sejam valores intrínsecos às organizações. Ao agir de forma proativa, tanto na vida corporativa quanto nas dinâmicas sociais, contribuímos para a formação de equipes mais eficientes, criativas e comprometidas, impulsionando o sucesso e a sustentabilidade das empresas.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)