Artigo

Seu futuro chefe pode ser um robô

Se a inteligência artificial está assumindo cada vez mais funções no dia a dia, isso significa que líderes humanos terão que se adaptar aos novos tempos – e se dedicar àquelas funções em que as pessoas são insubstituíveis
Suzyanne Oliveira trabalha como chief of staff as a service. Cofundou o evento Code Girl e atuou como chief of staff na Labsit e como diretora de product & tech na Creditas.

Compartilhar:

A tecnologia tem avançado tanto nos últimos anos que, com o progresso da inteligência artificial e a automação, cabe a pergunta: líderes humanos serão necessários no futuro? Afinal, as máquinas estão realizando tarefas cada vez mais complexas e assumindo responsabilidades que antes eram exclusivas dos humanos. Já vemos exemplos disso em setores como manufatura, logística e atendimento ao cliente.

Em um cenário em que a automação e a inteligência artificial desempenham papel central, uma liderança algorítmica poderia se tornar realidade. Logo, as organizações poderiam confiar em algoritmos sofisticados para tomar decisões estratégicas, monitorar o desempenho e ajustar as operações.

Uma liderança do tipo poderia trazer uma série de benefícios para as empresas. Em tese, algoritmos não têm emoções nem interesses pessoais, o que poderia levar a decisões mais imparciais e orientadas por dados. Além disso, a velocidade e a capacidade de processamento dos algoritmos poderiam levar à maior eficiência operacional e a melhores resultados. No entanto, é claro, existem desafios, como a confiabilidade dos algoritmos, a necessidade de supervisão e a perda da dimensão humana na liderança.

Líder do futuro será mentor
Tecnologias emergentes podem ser aliadas, mas é preciso desenvolver novas habilidades

Os líderes humanos se tornariam, dessa forma, facilitadores e mentores, trabalhando em conjunto com as novas tecnologias para obter melhores resultados. Esse líder do futuro precisará desenvolver um conjunto de habilidades:
1. Pensamento sistêmico: a habilidade de compreender e analisar sistemas complexos de forma holística, identificando interconexões e interdependências entre partes e considerando
o impacto de decisões em larga escala.
2. Adaptabilidade multicultural: com a crescente diversidade global, ser capaz de se adaptar e trabalhar efetivamente em contextos multiculturais, compreendendo e valorizando
as diferenças culturais.
3. Gestão de dados em escala exponencial: com a crescente quantidade de dados gerados, ser capaz de gerenciar, analisar e extrair insights valiosos de conjuntos de dados massivos
e complexos.
4. Inteligência coletiva: com a evolução das tecnologias de comunicação, as pessoas podem desenvolver a capacidade de se conectar em níveis mais profundos, compartilhar conhecimentos e habilidades de forma instantânea e colaborar de maneiras ainda mais avançadas, criando uma inteligência coletiva que transcende as habilidades individuais.
5. Realidade virtual totalmente imersiva: a realidade virtual pode evoluir para um nível de imersão ainda maior, proporcionando uma experiência mais envolvente e realista. Isso pode ter aplicações em diversas áreas, como treinamento, entretenimento, educação e comunicação.
6. Criação de mundos virtuais: a capacidade de projetar e construir mundos virtuais complexos e interativos pode se tornar uma nova forma de expressão criativa, permitindo que as pessoas criem ambientes digitais totalmente personalizados para jogos, arte, comunicação e experiências compartilhadas.
7. Pensamento futurista e adaptabilidade: cultivar a capacidade de pensar de forma futurista, antecipar mudanças tecnológicas, adaptar-se rapidamente a novos paradigmas e tecnologias e aprender continuamente para acompanhar o ritmo acelerado das transformações.
8. Agilidade baseada em dados: com os avanços na análise de dados (que estarão disponíveis em quantidades cada vez maiores), as tomadas de decisão ágeis podem ser impulsionadas por algoritmos de aprendizado de máquina, análises preditivas e técnicas de visualização de dados.
9. Gestão baseada em inteligência artificial: com o avanço da inteligência artificial e da automação, a gestão de projetos e programas pode se beneficiar do uso de algoritmos e sistemas inteligentes para aprimorar a tomada de decisões, identificar riscos e otimizar recursos.
10. Neurogerenciamento e inteligência emocional avançada: estudar técnicas avançadas de neurogerenciamento no contexto da gestão de projetos e programas ajudará os profissionais a entender melhor o comportamento humano e a motivar equipes para alcançar resultados excepcionais.
11. Gestão de riscos e resiliência futurista: os profissionais devem desenvolver habilidades em gestão proativa de riscos e capacidade de adaptação rápida a eventos imprevistos.

É importante ressaltar que a natureza exata do líder no futuro pode variar de acordo com a evolução da tecnologia, com as necessidades das organizações e com as demandas do mercado de trabalho. À medida que nos adaptamos a um mundo em mudança, é crucial que os profissionais estejam dispostos a desenvolver novas habilidades, aprender continuamente e se adaptar aos novos desafios.

## Novos papéis para as pessoas
Em um mundo sem liderança humana, as pessoas ainda teriam papel fundamental. Elas poderiam se concentrar em atividades que exigem habilidades exclusivamente humanas, como criatividade, empatia, resolução de problemas complexos e tomada de decisões éticas. Além disso, a interação humana continuaria a desempenhar papel vital na colaboração, no trabalho em equipe e no desenvolvimento de relacionamentos dentro das organizações.

Atualmente, não existe modelo definitivo ou estabelecido para a ausência completa de liderança de pessoas nas organizações. A ideia de um futuro sem líderes tradicionais ainda é algo especulativo. Porém alguns conceitos e abordagens emergentes podem dar um vislumbre de possíveis modelos organizacionais no futuro:

__1. Organizações descentralizadas.__ Elas têm uma estrutura horizontal, e a tomada de decisões é distribuída entre os membros da equipe. A liderança é compartilhada e baseada em habilidades e conhecimentos específicos, com foco na colaboração e na autonomia individual.
__2. Holocracia.__ É um modelo organizacional que substitui a hierarquia tradicional por círculos autônomos de tomada de decisão. Os membros da equipe têm papéis claros e responsabilidades definidas, e a autoridade é distribuída entre os círculos, permitindo maior agilidade e adaptabilidade nas decisões.
__3. Modelos de rede.__ Baseiam-se na ideia de que as organizações são redes de conexões e interações, em vez de estruturas hierárquicas. Nestes modelos, as decisões são tomadas por meio de colaboração entre as partes interessadas e uma rede de relacionamentos, com foco em transparência, compartilhamento de conhecimentos e aprendizado mútuo.
__4. Democracia organizacional.__ Busca envolver todos os membros da equipe na tomada de decisões, por meio de votação, discussões e participação ativa. Neste modelo, as decisões são baseadas no consenso e na vontade coletiva, promovendo a igualdade de voz.

É importante ressaltar que estes modelos são apenas exemplos de abordagens que exploram a distribuição da liderança e a colaboração dentro das organizações. O futuro do trabalho e da liderança provavelmente envolverá uma combinação de elementos tradicionais e novas abordagens, adaptadas às necessidades e à cultura de cada organização.

## O futuro dos líderes
Embora a perspectiva de um futuro sem líderes tradicionais pareça distante, é importante considerar o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e suas implicações nas estruturas organizacionais. A liderança algorítmica pode se tornar realidade, com benefícios e desafios únicos, mas é crucial lembrar que o valor humano e as habilidades que as pessoas trazem para o ambiente de trabalho continuarão a ser essenciais, mesmo em um mundo cada vez mais tecnológico. A liderança do futuro pode exigir uma combinação equilibrada entre algoritmos e seres humanos, promovendo uma colaboração simbiótica.

Ou seja, isso não significa o fim dos cargos de liderança. Embora as responsabilidades da liderança possam ser desempenhadas, em parte, por algoritmos e tecnologias avançadas, ainda haverá um papel crucial para os profissionais com tais habilidades. Nesse cenário, o líder pode se transformar em uma função mais centrada em habilidades humanas exclusivas, como a capacidade de inspirar, motivar e engajar pessoas. Os líderes desempenhariam papéis estratégicos, promovendo a visão organizacional, definindo objetivos, facilitando a colaboração e promovendo um ambiente de trabalho saudável.

Além disso, os líderes do futuro podem se envolver em tarefas relacionadas à tomada de decisões éticas e ao enfrentamento de questões complexas, que exigem entendimento profundo das nuances humanas e das consequências sociais. Também teriam papel importante na facilitação da aprendizagem contínua, no desenvolvimento de habilidades e no apoio ao crescimento profissional dos membros da equipe.

Artigo publicado na HSM Management nº 159.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inovação & estratégia, Finanças, Marketing & growth
21 de agosto de 2025
Em tempos de tarifas, volta de impostos e tensão global, marcas que traduzem o cenário com clareza e reforçam sua presença local saem na frente na disputa pela confiança do consumidor.

Carolina Fernandes, CEO do hub Cubo Comunicação e host do podcast A Tecla SAP do Marketês

4 minutos min de leitura
Uncategorized, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
20 de agosto de 2025
A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais - e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

Ana Fontes

4 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital, Cultura organizacional, Inovação & estratégia
18 de agosto de 2025
O futuro chegou - e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Bruno Pedra, Gerente de estratégia de marca na Blip

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de agosto de 2025
Relatórios de tendências ajudam, mas não explicam tudo. Por exemplo, quando o assunto é comportamento jovem, não dá pra confiar só em categorias genéricas - como “Geração Z”. Por isso, vale refletir sobre como o fetiche geracional pode distorcer decisões estratégicas - e por que entender contextos reais é o que realmente gera valor.

Carol Zatorre, sócia e CO-CEO da Kyvo. Antropóloga e coordenadora regional do Epic Latin America

4 minutos min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Como a prática da meditação transformou minha forma de viver e liderar

Por José Augusto Moura, CEO da brsa

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Ainda estamos contratando pessoas com deficiência da mesma forma que há décadas - e isso precisa mudar. Inclusão começa no processo seletivo, e ignorar essa etapa é excluir talentos. Ações afirmativas e comunicação acessível podem transformar sua empresa em um espaço realmente inclusivo.

Por Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir e Larissa Alves, Coordenadora de Empregabilidade da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas, Estratégia
13 de agosto de 2025
Lideranças que ainda tratam o tema como secundário estão perdendo talentos, produtividade e reputação.

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

2 minutos min de leitura
Gestão de Pessoas, Carreira, Desenvolvimento pessoal, Estratégia
12 de agosto de 2025
O novo desenho do trabalho para organizações que buscam sustentabilidade, agilidade e inclusão geracional

Cris Sabbag - Sócia, COO e Principal Research da Talento Sênior

5 minutos min de leitura
Liderança, Gestão de Pessoas, Lifelong learning
11 de agosto de 2025
Liderar hoje exige mais do que estratégia - exige repertório. É preciso parar e refletir sobre o novo papel das lideranças em um mundo diverso, veloz e hiperconectado. O que você tem feito para acompanhar essa transformação?

Bruno Padredi

3 minutos min de leitura
Diversidade, Estratégia, Gestão de Pessoas
8 de agosto de 2025
Já parou pra pensar se a diversidade na sua empresa é prática ou só discurso? Ser uma empresa plural é mais do que levantar a bandeira da representatividade - é estratégia para inovar, crescer e transformar.

Natalia Ubilla

5 minutos min de leitura