Dossiê 1: Disrupção

As dez grandes mudanças em andamento nas empresas

Quais são as transformações mais importantes com que empresas de diversos setores estão lidando em relação a pessoas, processos e estruturas? Veja as principais mudanças em curso no mundo pós-pandemia – e como líderes podem abordá-las –, levantadas por uma nova pesquisa da McKinsey

Compartilhar:

Ambientes voláteis e incertos são uma constante, o que faz com que os esforços para fortalecer a resiliência de curto prazo dominem a agenda de muitas empresas. Mas como toda essa incerteza e tantas mudanças têm afetado as pessoas e estruturas que constituem uma organização? Saúde mental e metas de diversidade enfim estão sendo levadas a sério? O trabalho remoto foi uma onda passageira? Quais os novos papéis dos líderes? E da inteligência artificial? Confira os dez pontos principais do estudo *The State of Organizations Report*:

## 1. Mais velocidade e resiliência
Nossa pesquisa sugere que muitas organizações deixam de lado uma abordagem mais ampla de revisar e transformar estruturas, processos e pessoas. Isso não só as ajuda a sair de crises como as impulsiona à frente. Líderes e equipes em organizações adaptáveis estão mais preparados para avaliar situações, encontrar novos rumos, apostar no que está funcionando e se afastar do que não está – e fazer tudo rapidamente. Conseguir isso requer velocidade de resposta, dar poder aos membros de seu time e desenvolver uma cultura de aprendizagem contínua.

## 2. Trabalho remoto e presencial balanceados
Antes da pandemia, era normal passar mais de 80% do tempo de trabalho no escritório. Agora, só 10% dos funcionários têm uma rotina desse tipo. A flexibilidade agrada: quatro de cada cinco pessoas que trabalharam em modelo híbrido querem mantê-lo, e só 14% acreditam que o trabalho remoto será menos comum no futuro.

Para ter sucesso, cada empresa deve descobrir a melhor combinação de trabalho remoto e presencial. Organizações realmente híbridas criam políticas, fluxos e documentação que ajudam os funcionários a ver em quais atividades o presencial é melhor (ou essencial) e em quais ele é dispensável. Além disso, ao olhar além da definição estática de modelos de trabalho, essas empresas se tornam mais atrativas para reter talentos (mais sobre isso adiante).

## 3. Ninguém vai escapar da inteligência artificial aplicada
A IA pode ajudar líderes a aumentar a velocidade e a eficiência de muitas coisas, da contratação de candidatos ao uso de recursos. Tem dado resultado. As organizações com forte uso de people analytics tiveram aumentos de 80% na eficiência de recrutamento e de 25% na produtividade dos negócios, além de queda de 50% no turnover.

Com a IA, a tomada de decisões individuais e em equipe pode ser expandida ou descentralizada, removendo obstáculos e permitindo respostas mais rápidas. Tudo isso se traduz em impacto quantificável.

## 4. Novas regras de atração, retenção e rotatividade
Uma pesquisa da McKinsey de 2022 mostrou que 33% dos funcionários em nove países europeus, 40% nos EUA, 45% no Oriente Médio e 60% na Índia planejavam deixar o emprego. Para piorar, a maioria dos empregadores achava que menos de 20% da força de trabalho queria sair.

Muitas pessoas estão redefinindo as fronteiras entre trabalho e vida pessoal. Descobrimos que o que os funcionários querem (horários flexíveis, tarefas com significado ou remuneração adequada) varia bastante. Faixa etária, experiência e outros fatores influenciam. A pergunta que os executivos devem fazer é: “O que precisamos fazer de diferente para atrair e reter os melhores talentos?”.

## 5. Fechar o gap de competências. Ou fechar de vez
Com a crescente chegada de novas tecnologias, as empresas estão procurando preencher as lacunas de capacidade. Muitas vezes elas anunciam elementos digitais em suas estratégias sem dispor de pessoal com as capacidades necessárias. Para tanto, precisam construir capacidades institucionais, isto é, os elementos que compõem o superpoder de uma empresa: o conjunto de pessoas, processos e tecnologias que as permitem superar a concorrência. Quando bem desenvolvidas, essas capacidades são uma vantagem duradoura. Mas as organizações não têm conseguido preencher essas lacunas. Na pesquisa, 90% dos entrevistados perguntados sobre capacitação consideraram que é algo em que suas empresas precisam agir “agora” ou “em breve”. Só 5% afirmaram que já estão atendidas.

## 6. Retenção na corda bamba
Manter pessoas-chave está muito complicado, e a demanda por profissionais de tecnologia só aumenta. Na pesquisa, 40% mencionaram falta de pessoal em digital analytics e 32%, em desenvolvimento de software.

Revisar trimestralmente a alocação de pessoas e entregar as posições mais críticas para funcionários de melhor desempenho dão às empresas 2,2 vezes mais chances de superar os concorrentes diretos. Mas muitas organizações estão incertas sobre quais são essas funções estratégicas e onde estão as pessoas de alto desempenho: 46% dos entrevistados perguntados a respeito disseram ter “nenhuma” ou “pouca” clareza sobre o tema. Para agravar ainda mais, cerca de 20% das funções críticas nem sequer existem hoje – ou vêm mudando muito. Mesmo quando as empresas colocam as pessoas certas nas funções certas, 40% delas precisarão de desenvolvimento de habilidades ou outras intervenções para serem bem-sucedidas.

## 7. A liderança tem de ser inspiradora e autoconsciente
Os gestores que se mantêm muito apegados ao passado correm risco de afastar stakeholders que esperam que as organizações sejam responsáveis em pontos como sustentabilidade e motivação dos funcionários. Esses gestores devem liderar a si mesmos, liderar times e liderar em escala, coordenando e inspirando redes de equipes e garantindo que a empresa funcione como um todo coeso. Para isso, é necessário construir uma consciência aguçada de si e do ambiente.

## 8. É obrigatório avançar em diversidade, equidade e inclusão
Quase metade dos entrevistados nos disse que suas organizações buscaram cumprir metas em diversidade, equidade e inclusão (DEI). Além disso, 43% declararam que suas empresas tomaram medidas para combater o preconceito no local de trabalho.

Porém nossos resultados revelam uma lacuna entre o que as organizações dizem querer fazer e o que realmente fazem. Houve progresso em diversidade, mas não em equidade e inclusão. Mesmo empresas relativamente diversas têm problemas relacionados a isso. Mais de 20% dos entrevistados não puderam afirmar que há um senso de comunidade e inclusão em suas organizações.

## 9. Investimentos em saúde mental
Segundo o McKinsey Health Institute, quase 60% dos entrevistados disseram ter tido algum desafio ligado a saúde mental na vida. A maioria dos trabalhadores é afetada direta ou indiretamente por questões do tipo. Quatro em cada cinco gestores de RH relatam que a saúde mental é prioridade para suas organizações.

Estimativas mostram que 90% das organizações oferecem algum programa de bem-estar aos funcionários. Ainda assim, muitos trabalhadores continuam se sentindo sobrecarregados. Nossa pesquisa sugere que as empresas se concentrem nos sintomas em vez das causas. É um problema sistêmico, que requer intervenções sistêmicas, gerenciadas com o mesmo rigor aplicado a outras iniciativas corporativas.

## 10. Recarga de eficiência
Há um claro descompasso entre os modelos operacionais existentes e as realidades do mercado, e a queda de rentabilidade dos últimos anos reduziu a tolerância a erros. Por isso, mais de um terço dos líderes entrevistados apontaram que uma de suas três prioridades para os próximos anos é, justamente, a eficiência.

Há muito trabalho pela frente. Em muitos casos, mais da metade de todos os que se reportam diretamente a um CEO não têm responsabilidade de lucros e perdas. Muitas organizações ficaram inchadas, com reuniões intermináveis. Acertar na eficiência fixa as bases de como o trabalho deve ser feito e coloca direitos de decisão nas mãos dos funcionários.

*© Rotman Management
Editado com autorização da Rotman School of Management, da University of Toronto. Todos os direitos reservados.*

Como lidar com as mudanças

Defina a direção
e onde quer chegar
O primeiro passo é ter uma perspectiva clara de quais mudanças são necessárias para que sua organização possa competir de forma mais eficaz. Essa calibração definirá o rumo para o restante. Grupos funcionais que se isolam dos outros, sistemas de computação incompatíveis, compras excessivamente complicadas e outros processos administrativos, tudo isso pode impedir a produtividade.

Cultive os talentos
Sem o talento certo, é provável que nenhum modelo organizacional funcione. Muito antes da pandemia, a digitalização e a globalização já vinham gerando mudanças na forma como as organizações operavam e as habilidades necessárias para competir. Encontrar, desenvolver e reter talentos agora e para o futuro se tornaram desafios fundamentais, ainda que não intransponíveis.

Invista na liderança
Enquanto o talento é a força vital das organizações, os líderes são o coração pulsante. Uma organização tem 2,4 vezes mais chances de atingir as metas de desempenho se focar no desenvolvimento de líderes.

Mude os comportamentos em escala
Se as organizações precisam de comportamentos diferentes, elas precisam encorajar a existência de diferentes mentalidades – o que os funcionários sentem, pensam e valorizam. Para promover isso, os líderes devem mudar o sistema – o conjunto de experiências que influenciam a mentalidade dos funcionários. Precisam envolver suas mãos e cabeças, e também o coração.

__Leia também: [A nova “varejização” da indústria](https://www.revistahsm.com.br/post/a-nova-varejizacao-da-industria)__

Artigo publicado na HSM Management nº 160.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Finanças, Marketing & growth
21 de agosto de 2025
Em tempos de tarifas, volta de impostos e tensão global, marcas que traduzem o cenário com clareza e reforçam sua presença local saem na frente na disputa pela confiança do consumidor.

Carolina Fernandes, CEO do hub Cubo Comunicação e host do podcast A Tecla SAP do Marketês

4 minutos min de leitura
Uncategorized, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
20 de agosto de 2025
A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais - e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

Ana Fontes

4 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital, Cultura organizacional, Inovação & estratégia
18 de agosto de 2025
O futuro chegou - e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Bruno Pedra, Gerente de estratégia de marca na Blip

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de agosto de 2025
Relatórios de tendências ajudam, mas não explicam tudo. Por exemplo, quando o assunto é comportamento jovem, não dá pra confiar só em categorias genéricas - como “Geração Z”. Por isso, vale refletir sobre como o fetiche geracional pode distorcer decisões estratégicas - e por que entender contextos reais é o que realmente gera valor.

Carol Zatorre, sócia e CO-CEO da Kyvo. Antropóloga e coordenadora regional do Epic Latin America

4 minutos min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Como a prática da meditação transformou minha forma de viver e liderar

Por José Augusto Moura, CEO da brsa

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
14 de agosto de 2025
Ainda estamos contratando pessoas com deficiência da mesma forma que há décadas - e isso precisa mudar. Inclusão começa no processo seletivo, e ignorar essa etapa é excluir talentos. Ações afirmativas e comunicação acessível podem transformar sua empresa em um espaço realmente inclusivo.

Por Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir e Larissa Alves, Coordenadora de Empregabilidade da Talento Incluir

5 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)