Gestão de Pessoas
6 min de leitura

Carreira sem rumo, talento com propósito: como as empresas podem reter a geração Z

Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.
Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura. Fundadora da Let’s Level, possui mais de 15 anos de atuação em consultoria de RH, com foco em liderança, cultura e performance. Desenvolveu metodologia própria que integra visão de negócios, ciência do comportamento humano e gestão de alto impacto. É mestre em Psicologia Educacional pela Must University, com formações complementares em Harvard e certificações em práticas organizacionais.

Compartilhar:

Estamos em uma era onde o conceito de plano de carreira parece cada vez mais nebuloso, especialmente para a Geração Z. Essa geração cresceu em um mundo em constante mudança, onde as trajetórias tradicionais de trabalho e sucesso deixaram de ser prioridades absolutas. 

Em vez de buscar uma carreira linear, muitos desses jovens optam por explorar possibilidades, experimentar diferentes papéis e, acima de tudo, encontrar propósito e autenticidade no trabalho que realizam. Esse movimento desafia empresas que ainda operam com uma mentalidade tradicional, na qual o sucesso de um colaborador está atrelado a promoções e estabilidade a longo prazo.

Uma pesquisa da empresa de tecnologia Caju, em parceria com a Consumoteca, mostrou que 56% dos profissionais da geração Z pediriam as contas para não deixar a vida pessoal em segundo lugar e 84% dos entrevistados afirmam que a maior preocupação de sua vida é alcançar a estabilidade financeira 

Para entender a falta de linearidade nas escolhas da Geração Z, é importante primeiro refletir sobre como esses jovens veem o mercado de trabalho. Eles valorizam experiências diversificadas e flexibilidade nas relações profissionais. Para muitos, a ideia de se prender a um plano de carreira rígido é um reflexo do passado, um modelo que limita a capacidade de adaptação a novas oportunidades e que muitas vezes não reflete os valores que carregam. 

Esse desejo de flexibilidade, somado à busca por aprendizado contínuo, cria uma mentalidade de adaptação constante. Em vez de uma trajetória fixa, eles buscam vivenciar uma jornada que faça sentido e que se alinha a seus valores.

Para que possam reter talentos da Geração Z, as empresas precisam redefinir o que entendem como “sucesso profissional”. Em vez de medidas tradicionais como cargos e promoções, o sucesso, para essa geração, tem mais a ver com impacto, realização pessoal e propósito. 

Empresas que conseguem oferecer um ambiente onde a evolução profissional não é linear, mas sim moldável às necessidades e ambições dos colaboradores, têm mais chance de se tornarem lugares atraentes e motivadores. É importante que o desenvolvimento seja encarado de forma ampla, com trilhas flexíveis e estímulos que permitam o aprendizado em diferentes direções, promovendo o engajamento desses profissionais.

Para esse público, trabalhar com o que gosta (42%), equilibrar trabalho e vida pessoal (39%) e ser reconhecido pelo que faz (32%) são aspectos mais importantes que ganhar bem (31%). Ao refletirem sobre os valores e habilidades necessários a um bom profissional, esses jovens acreditam que dedicação (43%), capacidade de diálogo e trabalho em equipe (40%), foco no trabalho (36%), ser paciente (35%) e fazer sempre o melhor (31%) são diferenciais. Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Um elemento central nessa mudança é o papel da liderança. O líder que atua como mentor, facilitador de experiências e inspiração tem muito mais chance de conectar-se com a Geração Z. Essa geração quer uma liderança que compreenda e valorize suas aspirações individuais e que não se limite a uma lista de metas e demandas. Perguntas como “O que você quer aprender agora?” ou “Como podemos tornar seu trabalho mais interessante?” demonstram o interesse genuíno pelo desenvolvimento do colaborador. Essa prática aproxima as pessoas, cria um sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, promove uma cultura de autenticidade e apoio que é valorizada por esses jovens.

Além disso, é importante repensar o modelo de trabalho. Em vez de designar cargos fixos e hierarquias rígidas, empresas podem adotar uma mentalidade baseada em projetos, permitindo que profissionais experimentem papéis variados e naveguem por diferentes áreas da organização. Esse modelo promove uma exposição ampla aos diferentes aspectos do negócio e traz uma versatilidade que a Geração Z valoriza profundamente. Com um modelo baseado em projetos e um programa de mentoria robusto, empresas podem criar um ambiente dinâmico, interessante e que dialoga diretamente com o desejo desses profissionais de acumular um repertório de experiências.

No entanto, a flexibilidade e a experimentação por si só não bastam. Para a Geração Z, uma empresa precisa ter propósito autêntico, e isso vai muito além de uma missão corporativa impressa no site Eles querem saber se o trabalho que realizam contribui para algo maior, se a organização está alinhada com princípios éticos e se atua em prol de causas que realmente fazem a diferença. Empresas que promovem ações concretas em áreas como sustentabilidade, inclusão e impacto social ganham a confiança e o compromisso dessa geração, pois para eles, mais do que uma oportunidade de crescimento, o trabalho precisa ser um reflexo de suas crenças.

Uma pesquisa da empresa de tecnologia Caju, em parceria com a Consumoteca, mostrou que 56% dos profissionais da geração Z pediriam as contas para não deixar a vida pessoal em segundo lugar. 84% dos entrevistados afirmam que a maior preocupação de sua vida é alcançar a estabilidade financeira. 

A partir dessa visão, o desenvolvimento dos colaboradores também precisa ser reimaginado. Em vez de encarar o crescimento como uma escada, onde cada degrau é um título ou promoção, é necessário pensar em uma “rede” de oportunidades. Esse modelo flexível permite que os jovens escolham caminhos diferentes, e isso, de certa forma, corresponde melhor ao que a Geração Z entende como desenvolvimento profissional. Não se trata de perguntar onde alguém quer estar em cinco anos, mas sim de entender quais experiências esse colaborador quer viver agora e o que o motiva no presente.

Lidar com uma geração que não segue planos de carreira tradicionais exige que as empresas abandonem práticas enraizadas e estejam dispostas a construir uma nova abordagem. A carreira linear, na qual o sucesso é medido por cargos e estabilidade, perde espaço diante de uma visão mais ampla e fluida do que pode ser um crescimento profissional. Adaptar-se a essa nova mentalidade beneficia não só os jovens profissionais, mas também a própria cultura corporativa, que se torna mais rica, diversa e preparada para os desafios futuros.

O mundo do trabalho mudou, e aceitar essa nova realidade é o primeiro passo para que as empresas se tornem mais atraentes e engajadoras para a Geração Z.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação e comunidades na presença digital

A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Imaginar como ato de reinvenção  

A pergunta “O que você vai ser quando crescer?” parece ingênua, mas carrega uma armadilha: a ilusão de que há um único futuro esperando por nós. Essa mesma armadilha ronda o setor automotivo. Afinal, que futuros essa indústria, uma das mais maduras do mundo, está disposta a imaginar para si?

Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança