Gestão de Pessoas
6 min de leitura

Carreira sem rumo, talento com propósito: como as empresas podem reter a geração Z

Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.
Especialista em Gestão da Cultura e Temas Comportamentais. Consultora HSM.

Compartilhar:

Estamos em uma era onde o conceito de plano de carreira parece cada vez mais nebuloso, especialmente para a Geração Z. Essa geração cresceu em um mundo em constante mudança, onde as trajetórias tradicionais de trabalho e sucesso deixaram de ser prioridades absolutas. 

Em vez de buscar uma carreira linear, muitos desses jovens optam por explorar possibilidades, experimentar diferentes papéis e, acima de tudo, encontrar propósito e autenticidade no trabalho que realizam. Esse movimento desafia empresas que ainda operam com uma mentalidade tradicional, na qual o sucesso de um colaborador está atrelado a promoções e estabilidade a longo prazo.

Uma pesquisa da empresa de tecnologia Caju, em parceria com a Consumoteca, mostrou que 56% dos profissionais da geração Z pediriam as contas para não deixar a vida pessoal em segundo lugar e 84% dos entrevistados afirmam que a maior preocupação de sua vida é alcançar a estabilidade financeira 

Para entender a falta de linearidade nas escolhas da Geração Z, é importante primeiro refletir sobre como esses jovens veem o mercado de trabalho. Eles valorizam experiências diversificadas e flexibilidade nas relações profissionais. Para muitos, a ideia de se prender a um plano de carreira rígido é um reflexo do passado, um modelo que limita a capacidade de adaptação a novas oportunidades e que muitas vezes não reflete os valores que carregam. 

Esse desejo de flexibilidade, somado à busca por aprendizado contínuo, cria uma mentalidade de adaptação constante. Em vez de uma trajetória fixa, eles buscam vivenciar uma jornada que faça sentido e que se alinha a seus valores.

Para que possam reter talentos da Geração Z, as empresas precisam redefinir o que entendem como “sucesso profissional”. Em vez de medidas tradicionais como cargos e promoções, o sucesso, para essa geração, tem mais a ver com impacto, realização pessoal e propósito. 

Empresas que conseguem oferecer um ambiente onde a evolução profissional não é linear, mas sim moldável às necessidades e ambições dos colaboradores, têm mais chance de se tornarem lugares atraentes e motivadores. É importante que o desenvolvimento seja encarado de forma ampla, com trilhas flexíveis e estímulos que permitam o aprendizado em diferentes direções, promovendo o engajamento desses profissionais.

Para esse público, trabalhar com o que gosta (42%), equilibrar trabalho e vida pessoal (39%) e ser reconhecido pelo que faz (32%) são aspectos mais importantes que ganhar bem (31%). Ao refletirem sobre os valores e habilidades necessários a um bom profissional, esses jovens acreditam que dedicação (43%), capacidade de diálogo e trabalho em equipe (40%), foco no trabalho (36%), ser paciente (35%) e fazer sempre o melhor (31%) são diferenciais. Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Um elemento central nessa mudança é o papel da liderança. O líder que atua como mentor, facilitador de experiências e inspiração tem muito mais chance de conectar-se com a Geração Z. Essa geração quer uma liderança que compreenda e valorize suas aspirações individuais e que não se limite a uma lista de metas e demandas. Perguntas como “O que você quer aprender agora?” ou “Como podemos tornar seu trabalho mais interessante?” demonstram o interesse genuíno pelo desenvolvimento do colaborador. Essa prática aproxima as pessoas, cria um sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, promove uma cultura de autenticidade e apoio que é valorizada por esses jovens.

Além disso, é importante repensar o modelo de trabalho. Em vez de designar cargos fixos e hierarquias rígidas, empresas podem adotar uma mentalidade baseada em projetos, permitindo que profissionais experimentem papéis variados e naveguem por diferentes áreas da organização. Esse modelo promove uma exposição ampla aos diferentes aspectos do negócio e traz uma versatilidade que a Geração Z valoriza profundamente. Com um modelo baseado em projetos e um programa de mentoria robusto, empresas podem criar um ambiente dinâmico, interessante e que dialoga diretamente com o desejo desses profissionais de acumular um repertório de experiências.

No entanto, a flexibilidade e a experimentação por si só não bastam. Para a Geração Z, uma empresa precisa ter propósito autêntico, e isso vai muito além de uma missão corporativa impressa no site Eles querem saber se o trabalho que realizam contribui para algo maior, se a organização está alinhada com princípios éticos e se atua em prol de causas que realmente fazem a diferença. Empresas que promovem ações concretas em áreas como sustentabilidade, inclusão e impacto social ganham a confiança e o compromisso dessa geração, pois para eles, mais do que uma oportunidade de crescimento, o trabalho precisa ser um reflexo de suas crenças.

Uma pesquisa da empresa de tecnologia Caju, em parceria com a Consumoteca, mostrou que 56% dos profissionais da geração Z pediriam as contas para não deixar a vida pessoal em segundo lugar. 84% dos entrevistados afirmam que a maior preocupação de sua vida é alcançar a estabilidade financeira. 

A partir dessa visão, o desenvolvimento dos colaboradores também precisa ser reimaginado. Em vez de encarar o crescimento como uma escada, onde cada degrau é um título ou promoção, é necessário pensar em uma “rede” de oportunidades. Esse modelo flexível permite que os jovens escolham caminhos diferentes, e isso, de certa forma, corresponde melhor ao que a Geração Z entende como desenvolvimento profissional. Não se trata de perguntar onde alguém quer estar em cinco anos, mas sim de entender quais experiências esse colaborador quer viver agora e o que o motiva no presente.

Lidar com uma geração que não segue planos de carreira tradicionais exige que as empresas abandonem práticas enraizadas e estejam dispostas a construir uma nova abordagem. A carreira linear, na qual o sucesso é medido por cargos e estabilidade, perde espaço diante de uma visão mais ampla e fluida do que pode ser um crescimento profissional. Adaptar-se a essa nova mentalidade beneficia não só os jovens profissionais, mas também a própria cultura corporativa, que se torna mais rica, diversa e preparada para os desafios futuros.

O mundo do trabalho mudou, e aceitar essa nova realidade é o primeiro passo para que as empresas se tornem mais atraentes e engajadoras para a Geração Z.

Compartilhar:

Artigos relacionados

“Womenomics”, a economia movida a equidade de gênero

Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

“Strategy Washing”: quando a estratégia é apenas uma fachada

Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos – mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do “strategy washing” e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.

Rafael Ferrari

12 min de leitura
Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Saúde Mental
Desenvolver lideranças e ter ferramentas de suporte são dois dos melhores para caminhos para as empresas lidarem com o desafio que, agora, é também uma obrigação legal

Natalia Ubilla

4 min min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Cris Sabbag, COO da Talento Sênior, e Marcos Inocêncio, então vice-presidente da epharma, discutem o modelo de contratação “talent as a service”, que permite às empresas aproveitar as habilidades de gestores experientes

Coluna Talento Sênior

4 min de leitura