Assunto pessoal

Líderes de si mesmos reciclam seu lixo emocional

Emoções e sentimentos não processados trazem impacto negativo a você e àqueles à sua volta – e são um entrave para a inovação e o crescimento pessoal

Compartilhar:

Existe um paralelo inegável entre a forma como lidamos com o lixo residual, aquele que geramos diariamente nas nossas casas e nas nossas vidas, e o lixo emocional. Assim como a lixeira de sua cozinha, o lixo emocional, se não for tratado, pode trazer duras consequências. Em ambos os casos, temos a tendência a fingir que o problema não é nosso. Mas o lixo emocional pode afetar negativamente nossa vida, nossa carreira e todos ao nosso redor. É preciso assumir de vez essa responsabilidade.

## O que acontece com o lixo que você produz?
Recentemente, lancei meu terceiro livro, *[Inovação Emocional](https://www.amazon.com.br/Inova%C3%A7%C3%A3o-emocional-Estrat%C3%A9gias-resultados-saud%C3%A1veis/dp/6555441607)*, em que trago à tona uma reflexão: a maioria das pessoas não tem ideia do que acontece com o lixo que produz. Você acabou de comprar uma garrafinha de água enquanto passeia pela rua. Ao terminar, joga a embalagem na lixeira pública e pronto, sua parte está feita. Mas o que acontece com a garrafa depois? Ela não some. Pode ser reciclada ou não ter tratamento algum, ficar esquecida como tantos materiais plásticos abandonados, poluindo o planeta.

Nas primeiras vezes em que levantei essas questões nas minhas palestras, vi muita gente torcer o nariz. O assunto é incômodo porque tendemos a achar que não é nossa função pensar em nada disso.

Esqueça o lixo residual por um instante. Quem você quer ser como profissional? E como colega de equipe? E como líder? E como pai/mãe, marido/esposa, filho/filha? Qual marca você quer deixar nesse mundão?

Tenho certeza de que você só encontrou uma direção: deixar um impacto positivo. Não quer ser lembrado como egoísta, inflexível, desleixado, pedante ou autoritário. Sua lista pode ser grande, mas basicamente tudo o que você mais deseja requer sua melhor versão. Mas é isso que você está fazendo? Ou existe alguma distância entre o impacto que você quer deixar e a maneira como está agindo hoje, aqui e agora?

## O comportamento que impede a inovação
Esse papo desperta, em muita gente, uma autocrítica voraz. Perceber-se falho e assumir as próprias imperfeições entre aquilo que fazemos e aquilo que queremos é um processo doloroso, mas necessário. É por meio dessa autoconsciência que nos tornamos capazes de identificar o lixo emocional que geramos sem perceber.

Nosso lixo emocional é composto por todas as emoções não vistas, não aceitas e não processadas. Quando não nos permitimos sentir ou não reconhecemos o que estamos sentindo, entramos no piloto automático.

Então, começa a confusão. Reagimos aos eventos por impulso, adotamos comportamentos negativos e compulsivos, porque queremos nos proteger e nos preservar dessas emoções difíceis. Como não nos demos tempo para escolher como agir diante daquilo, simplesmente seguimos com o que temos a mão. O que temos? Nossos velhos comportamentos infantis e inconscientes.

Certa vez, um CEO passou por minha sala de aula. Um homem de boa formação, focado e persistente. Mas chegou ao Processo Hoffman, o treinamento de autoconhecimento e inteligência emocional que aplico há mais de 30 anos, trazendo uma confissão: seus colegas o consideravam irremediavelmente teimoso. Quando alguém lhe sugeria uma estratégia diferente da que estava acostumado, mesmo com provas concretas de que seria uma opção melhor, ele simplesmente ficava contrariado, irredutível e, às vezes, agressivo.

Muitos grandes empresários têm dificuldades em lidar com suas equipes e acabam tendo reações infantis assim. Não existe barreira maior à inovação. Se, mesmo sem perceber, insistimos em sermos apenas do jeito que sabemos ser, como teremos espaço para inovar na nossa forma de pensar, sentir e agir?

Assim como acontece com sua garrafa de água, o lixo emocional que você despeja por aí não desaparece do mundo. Seus comportamentos compulsivos e infantis geram impacto negativo.

Seja sincero: como você se sente após ter sido grosseiro com alguém? Consegue identificar o que acontece com seu “sistema interno” quando não é capaz de processar adequadamente o que está sentindo?

Uma das belezas do trabalho contínuo de autoconhecimento é essa percepção apurada de si. Não há nada mais poderoso do que, finalmente, compreender. “Fiquei contrariado, agi de determinada maneira, agora estou arcando com as consequências”. Com tal entendimento, nós deixamos de ser vítimas e nos posicionamos como protagonistas. Daí, a autoliderança e a autonomia emocional, os alicerces da inovação, se tornam um caminho natural.

Líderes de si mesmos são aqueles que estão à frente das próprias escolhas e decisões. Quando erram, em vez de procurar culpados, assumem a responsabilidade e perguntam: “Se assim não funcionou, o que posso fazer?”. Eles aceitam as próprias imperfeições e, por isso, trabalham em colaboração – afinal, há pessoas ao redor que são capazes de contribuir com habilidades que eles reconhecem não ter. Assim, abrem-se para o aprendizado e para a inovação.

A autoliderança e a autonomia emocional andam lado a lado. Com elas, você pode compreender que seus lixos emocionais não somem, mas podem ser transformados em algo novo, reciclados em comportamentos inovadores.

__Leia mais: [A arte muda o mundo. Inclusive as empresas](https://www.revistahsm.com.br/post/a-arte-muda-o-mundo-inclusive-as-empresas)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura