Empreendedorismo

O Futuro do Agronegócio

Técnico Agrícola e administrador, especialista em cafeicultura sustentável, trabalhou na Prefeitura Municipal de Poços de Caldas (MG) e foi coordenador do Movimento Poços de Caldas Cidade de Comércio Justo e Solidário. Ulisses é consultor de associações e cooperativas e certificações agrícolas.

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Estrear uma coluna sobre agronegócio na principal revista de management da América Latina é um sonho antigo. Há mais de 20 anos acredito que o agronegócio brasileiro, com toda a sua potência produtiva e tecnológica, precisa de contribuições da área da gestão para tornar reais as projeções de sua grandeza. Porém o tema que iremos abordar na estreia desta coluna não remete ao passado, e todo o percurso que me trouxe até a realização deste sonho, mas sim ao futuro. 

Atualmente estou engajado em um projeto muito interessante e de um potencial transformador fantástico, denominado Município 2050. O projeto busca mobilizar comunidades locais a pensar como as pessoas querem que o município esteja daqui a 30 anos, e o que será preciso fazer coletivamente para atingir esses objetivos. 

Com a adesão de municípios do Leste Paulista e do Sul de Minas ao projeto, fui convidado a fazer parte da equipe e coordenar os trabalhos do grupo do agronegócio. O projeto prevê, ainda, ações nas áreas de saúde, mobilidade urbana, educação, comércio, indústria, serviços e cultura.

Atuar neste projeto tem proporcionado interessantes aprendizados, e gostaria de compartilhar alguns deles com vocês. 

Existem muitas coisas positivas acontecendo nas localidades, porém desarticuladas.

Atualmente, em gestão, uma das grandes ferramentas é o trabalho em rede, ou seja, a capacidade de interligar atividades distintas, porém complementares, com o objetivo de maximizar os resultados para todos. Essa realidade é praticamente nula na maioria dos municípios pesquisados. Existem muitas pessoas inovando, criando novos mercados e produtos para o agronegócio, porém estão todos isolados, cada um superando seus desafios com muito mais dificuldade do que se existisse um “ecossistema” que tornasse possível o compartilhamento, a colaboração e cooperação. 

**Estamos preparados para o futuro do agronegócio?**

Nosso produtor é certamente um dos mais competitivos em diversas áreas produtivas. Temos ainda uma grande rede de pesquisa produtiva. Somos abençoados com solo, clima, água e incidência de sol fantástica para a produção. Porém, tal qual na indústria, no comércio e nos serviços, o setor agropecuário vive uma revolução digital _denominada Agro 4.0. Com a chegada de tecnologias que possibilitam ganhos inimagináveis de produção, acompanhamento em tempo real, precisão, automação, análise de dados e gerenciamento em nuvens, todas as mudanças que estão acontecendo nos setores urbanos já acontecem na mesma escala e velocidade no meio rural. 

Tais mudanças geram oportunidades, mas também muitos desafios. O agronegócio tradicional está sofrendo uma transformação desruptiva. Um produtor que já iniciou a transição descreveu muito bem o que muda: “antes trabalhava com a força física, hoje trabalho com a cabeça”. Essa frase simboliza o desafio de ter no campo, na assistência, na agroindústria e em todas as atividades pessoas capazes de criar valor e inovar em meio a um campo em transformação. 

Para dar esse salto na velocidade que seria necessário é preciso um esforço do país em termos de capacitação para o Agro do Futuro. Principalmente se queremos alcançar as projeções de ser responsável por 40% da produção de alimentos do mundo nos próximos 30 anos.

Uma boa leitura para pensar esse assunto é o livro “Gestão do Amanhã”, de José Salibi Neto e Sandro Magaldi.

**Somos uma potência produtiva, mas…**

Falta gestão, a começar pela dificuldade do setor em obter dados estatísticos confiáveis e precisos. Essas informações são básicas para uma gestão profissional no setor. Essa dificuldade é ainda maior nas propriedades, que têm pouco controle sobre suas atividades e acabam à deriva. Uma oportunidade importante para empreendedores no campo é o desenvolvimento de tecnologias que auxiliem o produtor a superar essa dificuldade.

**A falta de uma política guia para o setor**

Muitos países, mesmo sem as mesmas condições naturais do Brasil, avançaram significativamente na produção de alimentos graças a políticas de âmbito nacional que direcionam os diferentes atores (governos locais, produtores, pesquisadores, agroindústria, varejo etc.). O Brasil, com sua imensidão, não possui uma política agrícola de âmbito nacional que oriente para aquilo que queremos enquanto nação agrícola. 

A apresentação de João Cavalcanti no TEDx-SP é uma grande inspiração para mostrar a importância de saber aonde queremos chegar. Veja [aqui](https://www.youtube.com/watch?v=XJRTla1BIRk).

**Sucessão familiar no campo e o envelhecimento do produtor**

Dados do censo agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, mostram aquilo que já observamos na prática: o produtor está envelhecendo, e jovens não estão continuando a atividade dos pais. 

Ao pensar nos próximos 30 anos, produtores brasileiros atuais estarão com mais de 90 anos de idade. Seria muita ingenuidade acreditar que, em um curto espaço de tempo, é possível preparar uma geração para atuar no agronegócio. Pensando nisso, iniciativas como a do SENAR do Paraná que criou o programa Jovem Agricultor Aprendiz são exemplos de que é necessário e extremamente eficaz pensar nesse tema ao olhar para o futuro do agronegócio.

**Uma pausa em meio ao furacão**

Por fim, um ponto interessante do projeto é um convite ao pensar. Em meio a tantas oportunidades, ameaças e tarefas do dia-a-dia, muitas vezes não conseguimos refletir sobre o que somos e para onde queremos ir. Nesse projeto todos são convidados a parar, pensar e seguir adiante, porém com mais foco e muito mais confiantes. Os resultados acontecerão certamente a longo prazo, mas já estou ansioso para acompanhar passo a passo esse percurso que o agronegócio do Brasil trilhará.

Espero trazer esses e muitos outros assuntos para que possamos discutir aqui na coluna Gestão no Agronegócio.

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