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O que o etarismo está tirando da sua empresa – e você ainda não percebeu

Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.
João Roncati é CEO da People+Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.

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Vamos direto ao ponto: o etarismo não é apenas um problema de “cultura” ou de “bem-estar”. Pode ser um risco financeiro e estratégico que sua empresa está subestimando. Gigantes como Google, que pagou US$ 11 milhões para encerrar um processo de discriminação etária, e IBM, que já enfrentou vereditos individuais milionários pela mesma razão, ilustram que o custo da negligência é alto e explícito. Mas o verdadeiro prejuízo transcende o caixa.

O dano à marca empregadora, a perda de conhecimento institucional e a queda da capacidade de inovação são custos que um balanço financeiro não consegue capturar completamente. Um estudo do IDC aponta que empresas inclusivas e diversificadas chegam a ter receitas de inovação 19% mais elevadas. Em um mercado competitivo, ignorar o talento sênior é, francamente, uma má alocação de recursos que impacta diretamente a geração de novas soluções.

E os dados demográficos são um imperativo estratégico. O aumento de 76% na força de trabalho com mais de 60 anos, conforme aponta o IBGE, não é uma tendência, é a nova realidade do mercado. Líderes que enxergam este grupo apenas como um passivo previdenciário perdem a oportunidade de capitalizar sobre um ativo valioso: a experiência acumulada.

O dividendo da diversidade etária

Enquanto concorrentes investem em treinamento básico para jovens talentos, empresas visionárias aproveitam a resiliência de profissionais que já gerenciaram crises, construíram redes de contato e desenvolveram uma visão de longo prazo. A estabilidade e o foco trazidos por eles são contrapontos essenciais à alta rotatividade que muitas vezes caracteriza a força de trabalho mais jovem, otimizando o custo de aquisição e retenção de talentos.

A convivência de cinco gerações no ambiente de trabalho é um teste de fogo para a liderança. Sem uma gestão intencional, o resultado é o atrito, a queda de produtividade e o aumento do turnover.

Com uma estratégia clara de inclusão, o resultado é o que chamamos de “dividendo da diversidade etária”: um aumento comprovado na capacidade de resolução de problemas complexos. Equipes intergeracionais superam as homogêneas em inovação porque fundem a fluência digital e o pensamento disruptivo dos mais jovens com o raciocínio crítico e a visão sistêmica dos mais experientes.

Essa sinergia cria um ambiente dinâmico onde a agilidade encontra a sabedoria. Talentos maduros trazem uma inteligência emocional aprimorada e um valioso capital relacional, essenciais para a mentoria de equipes e para negociações de alto impacto.

Sua experiência, forjada em múltiplos ciclos de mercado, não apenas previne a repetição de erros custosos, mas enriquece o processo criativo com uma camada de profundidade estratégica. O resultado é uma inovação mais robusta, que não é apenas rápida, mas sustentável e alinhada aos objetivos de longo prazo do negócio.

Ação imediata para a liderança

A mudança começa no C-level. É responsabilidade da liderança erradicar o viés etário dos processos de recrutamento, avaliação de desempenho e planejamento de sucessão. Iniciativas como as da Votorantim Cimentos e Gol, que criaram programas de contratação focados em profissionais 60+, não são filantropia, mas sim decisões de negócio calculadas para garantir a retenção de conhecimento crítico e a diversidade cognitiva.

A pergunta que todo líder deve se fazer não é se deve investir na diversidade etária, mas como colocá-la em prática mais rápido que a concorrência. Ignorar esse imenso pool de talentos não é apenas um erro cultural, é uma falha estratégica que seus concorrentes certamente saberão explorar.

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