Desenvolvimento pessoal

A jornada de desenvolvimento do jovem no mercado de trabalho

Com cada vez mais jovens desempregados, organizações devem atuar como facilitadoras na capacitação das habilidades socioemocionais e técnicas
Angela Miguel é editora de conteúdos customizados em HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

Compartilhar:

Em todo o País, são 51,3 milhões de brasileiros com idades entre 15 e 29 jovens, número equivalente a cinco vezes a população de Portugal. A cada ano, nos aproximamos cada vez mais do fim do bônus demográfico, e é necessário acelerar a educação, capacitação e transição desses jovens para o mercado de trabalho. No entanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que um em cada três jovens de idades entre 18 e 24 anos não tem emprego no País.

Como comprovação desse abismo entre o emprego e a falta de trabalho, o custo do skill gap só cresce, e as projeções apontam que 74 mil vagas de entrada não serão preenchidas em 2021. A pergunta que fica, portanto, é: como o desenvolvimento pode [democratizar o acesso ao emprego para esses jovens](https://www.revistahsm.com.br/post/por-que-acreditar-na-juventude)? E qual o papel assumido pelas empresas?

Em busca de respostas, a Eureca, consultoria de recrutamento e desenvolvimento de jovens, realizou a sétima edição do estudo *The Truth*, e questionou a 1153 jovens questões pertinentes ao seu desenvolvimento profissional. Dos entrevistados, quase 56% estão em busca de uma oportunidade de desenvolvimento. O desemprego é mais concentrado em não brancos, e há uma divisão quase perfeita entre jovens empregados em PMEs e grandes empresas.

Ainda que os jovens busquem organizações que as ajudem com o conhecimento prático e desenvolvimento intelectual, há um ponto sensível para a maioria deles. “Na *The Truth #7*, os jovens pontuaram quais os pontos que eles sentiam que as empresas exigiam deles e que eles se sentiam despreparados. O primeiro foram as habilidades socioemocionais, ou soft skills, e a segunda foi o conhecimento técnico-digital, de maneira abrangente, de compreensão de novas tecnologias à noções de programação”, conta Carolina Utimura, CEO da Eureca.

## Soft skills em foco
As organizações estão de olho em jovens que demonstram conhecimento técnico em suas áreas de interesse, claro, mas quem as encanta são aqueles que têm atitude. Essa foi uma característica unânime apontadas por Carolina Andrusyszyn, gerente sênior de pessoas e organização na Novartis Oncology, e Fernanda Pessato Laitano: gerente sênior de desenvolvimento de recursos humanos na Renner S.A., na roundtable realizada por __HSM Management__ e Eureca, *[Desenvolvimento Profissional – as habilidades das juventudes VX o que o mercado exige: as expectativas estão alinhadas?](https://materiais.revistahsm.com.br/roundtable-desenvolvimento-profissional)*

Ao se sentirem inspiradas pela juventude motivada e sedenta por conhecimento, os jovens se sentem pressionados por essa busca por [habilidades interpessoais e habilidades cognitivas avançadas](https://www.revistahsm.com.br/post/os-efeitos-da-pandemia-na-visao-dos-millennials-e-geracao-z).

Sobre as habilidades interpessoais, o [mercado tem exigido que os jovens cheguem para questionar](https://www.revistahsm.com.br/post/o-que-os-jovens-esperam-da-sua-marca-empregadora-na-pandemia), para trazer reflexões importantes, especialmente em relação a causas como ESG. Nesse contexto, 64,4% dos jovens acreditam ter a empatia bem desenvolvida, e 62,5% em adaptabilidade. Mas eles não sabem como essas habilidades podem impulsionar sua história nas companhias.

Cerca de 60% dos jovens entendem que pensamento crítico, tomada de decisão e criatividade são necessários no processo de seleção, mas a quantidade que domina essas habilidades é bem menor. Em criatividade, 59,8% acreditam que é necessária, porém apenas 41,2% marcaram como obtida. Já para pensamento crítico e tomada de decisão, a diferença é menor: 8,2%.

## Conexão academia-mercado
De acordo com 70,2% dos entrevistados pela *The Truth #7* afirmam que somente a universidade não os prepara para o mercado. Esse dado está diretamente conectado com outra pesquisa, realizada pela Adecco, em que 65% dos jovens na mesma faixa etária esperam que as organizações sejam mais flexíveis quanto à experiência exigida.

Essas noções trazidas pelo estudo já começam a refletir nas companhias. Tanto Renner quanto Novartis modificaram alguns de seus [critérios de seleção](https://www.mitsloanreview.com.br/post/dados-podem-estimular-a-equidade-racial), exatamente por entenderem que é preciso abrir mais oportunidades e capacitar esses jovens dentro de casa. Na Novartis, por exemplo, segundo Carolina Andrusyszyn, o filtro sobre faculdades consideradas de elite e o filtro língua inglesa foram retirados da seleção.

Essa reflexão vai de encontro a um estudo trazido pela Harvard Business Review norte-americana, que questio[na se alunos das melhores faculdades apresentam uma perform](https://hbr.org/2020/09/graduates-of-elite-universities-get-paid-more-do-they-perform-better)ance tão melhor quando comparados a trabalhadores vindos de outras instituições menos prestigiadas. O resultado é que sim, eles até têm uma performance melhor, mas até certo ponto, uma vez que a pesquisa revelou que o ambiente acadêmico não mostrou qualquer efeito na melhoria do desempenho desses jovens, especialmente quando habilidades como ética e motivação são comparadas.

Para Carolina Utimura, é fundamental que a acessibilidade real seja uma preocupação dos [processos seletivos para jovens talentos](https://www.revistahsm.com.br/post/o-que-processos-seletivos-diversos-e-algoritmos-tem-em-comum), e as companhias também devem ter a clareza de que a experiência tem que ser ensinada por aquele que a tem. “Eu costumo dizer que se a faculdade não fez a disciplina da vida, a empresa vai ter que colocar na trilha.”

Compartilhar:

Artigos relacionados

Os sete desafios das equipes inclusivas

Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo – mesmo acreditando que estão incluindo.

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança