Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
5 minutos min de leitura

Intergeracionalidade, Escuta e Humildade

Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.
Ricardo Pessoa é empresário e ativista por uma longevidade ativa e produtiva, e por negócios B2S (business-to-seniors), sócio da Casa Séfora e da Plim Brasil, respectivamente uma casa de economia compartilhada e uma startup de controle verde de pragas urbanas.

Compartilhar:

Numa sala de reunião, entre gráficos, telas e café requentado, o que mais falta não é planilha – é silêncio. Silêncio pra escutar. De verdade. Especialmente quando o outro nasceu num século diferente do seu.

“OK, Boomer.” A frase, lançada com um sorriso irônico por um estagiário de 22 anos, bateu em Marta como um tapa. Aos 64, diretora de RH de uma multinacional, ela tinha acabado de sugerir que a equipe imprimisse os relatórios. O silêncio constrangedor que se seguiu foi mais eloquente que qualquer explicação.

Naquele instante, Marta entendeu: não era só a idade. Havia um abismo cultural entre ela e os jovens da sala.

O mundo corporativo de hoje é um experimento inédito: várias gerações dividindo o mesmo espaço – com visões, valores e velocidades bem diferentes. Baby Boomers, Geração X, Millennials, Z. Navegar por esse mosaico é um desafio – e uma baita oportunidade – pra quem já passou dos 60.

“Depois daquele episódio, percebi que tinha duas opções”, contou Marta meses depois. “Me ofender e reforçar o estereótipo. Ou transformar aquilo numa chance de aprender.” Escolheu a segunda. Convidou o estagiário para um café.

“Quero entender como vocês trabalham, se comunicam, o que valorizam”, disse com curiosidade genuína – e desarmou o garoto. “Em troca, compartilho o que aprendi em quatro décadas.”

Nasceu ali uma parceria improvável. Marta aprendeu sobre ferramentas digitais, agilidade, comunicação assíncrona e transparência radical. Ele aprendeu a navegar a política corporativa, ler silêncios e pensar no longo prazo.

Nem sempre é assim suave. Joana, 28, via Carlos, 61, como um dinossauro. Carlos achava Joana apressada e arrogante. Mas numa pausa sem PowerPoint, ele compartilhou um fracasso. Joana ouviu. Riu. Não dele – com ele. E ali nasceu algo raro: vulnerabilidade compartilhada.

A humildade aparece sem crachá. Vem disfarçada de escuta atenta, de perguntas sem soberba, de risos que desarmam. Ela desfaz o cabo de guerra e mostra o essencial: colaboração entre gerações não é disputa – é soma. Inovação precisa da leveza do novo – mas também do peso da experiência.

Intergeracionalidade não é só sobrevivência profissional depois dos 60 – é uma forma de seguir vivo: intelectualmente, culturalmente, emocionalmente.

“O mais surpreendente”, confessou Marta, “foi perceber que o que eu chamava de ‘falta de profissionalismo’ – como informalidade ou horários flexíveis – era só outra forma de ver o trabalho: mais foco em resultado, menos apego ao processo.”

Esse espelho geracional nos mostra quem somos – e onde ainda podemos crescer.

Por outro lado, temos muito a oferecer. Vimos ciclos econômicos inteiros, modas gerenciais irem e virem, tecnologias nascerem e morrerem. Temos perspectiva. E isso vale ouro num mundo obcecado por imediatismo.

Seis meses depois do “OK, Boomer”, Marta liderou um programa de mentoria reversa. Executivos seniores e jovens talentos trocando saberes. O resultado? Mais engajamento, menos conflito – e mais inovação.

Intergeracionalidade é ponte. E ponte se constrói com escuta e humildade.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura